quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Tempos confusos

O vento mudou de direção. Coisa de um mês atrás todo mundo queria saber qual era o piso para o dólar em relação ao real. A moeda americana caminhava para custar menos de R$ 1,50. O sinal vermelho acendeu dentro do governo e Dilma autorizou sua equipe a jogar pesado. Resultado: nos últimos dias, a pergunta mudou para "Qual será o teto para o valor do dólar?" Na semana passada, havia quem dissesse que não custaria mais do que R$ 1,75. Na abertura desta semana chegou perto de R$ 1,80.
A mudança de trajetória do dólar levanta algumas questões. Qual será seu impacto na inflação doméstica? Afinal, com dólar mais caro os preços dos importados ficam mais elevados, deixando de ajudar o Banco Central na sua luta contra a inflação. Será um impacto tão negativo que leve o Banco Central a flexibilizar sua nova linha de política monetária, adotada desde que decidiu cortar em 0,50 ponto percentual a taxa de juros?
Por enquanto, todas as apostas indicam que o BC irá fazer mais dois cortes de 0,50 ponto percentual nos juros até o final do ano, fechando 2011 com taxa de 11%. E se a inflação der sinais de resistências nos próximos meses por conta de eventuais contaminações vindas de um dólar mais valorizado? O BC pode decidir reduzir o tamanho dos cortes de juros planejados? Por enquanto, a resposta parece ser não. Só que os ventos estão mudando muito rapidamente.
Tão rapidamente que o governo, tudo indica, não levou totalmente em conta esse novo cenário ao baixar a medida protecionista de elevar o IPI sobre a importação de carros. O dólar mais caro vai encarecer a importação de automóveis no país. Se a alta for além do que todos previam, talvez não fosse necessário subir tanto a alíquota de IPI sobre carros importados como fez o governo na semana passada.
Nesse tempo tão confuso, o cenário internacional contribui para tudo ficar ainda mais nebuloso. O destino das dívidas de países europeus, como Grécia, parece ser mesmo o da moratória. Negociada ou não? Afetando mortalmente ou não a saúde de alguns bancos europeus? Criando que tipo de efeito dominó no restante do mundo?
Diante de rumos, internos e externos, tão incertos, a boa governança indicaria precaução a todos. Pois bem, não é o que presenciamos em Brasília dentro do Congresso. Até agora, não se ouve um discurso, que dirá uma iniciativa, da parte do nosso parlamento em busca de medidas que possam melhorar nossa proteção na área econômica.
Pelo contrário, o debate está repleto de tópicos que só falam em como distribuir mais dinheiro para esse e aquele projeto. Senadores e deputados estão envolvidos na discussão da nova divisão dos royalties, do aumento de verbas para saúde, do reajuste de salários do Judiciário e do Legislativo. Mais uma vez, parece que nosso Congresso só vai acordar para o mundo quando ele desabar.

Valdo Cruz

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