quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Pesquisa mostra país entre os piores


Para Nunes, as nações que se destacaram no levantamento são aquelas com a cultura da educação bem inserida na sociedade e valorizam os docentes

Grasielle Castro

A educação brasileira tem muito a melhorar. A orientação é de especialistas, após a divulgação de um ranking sobre a qualidade do ensino em que o Brasil figura entre os piores do mundo. A pesquisa, encomendada à consultoria britânica EIU (Economist Intelligence Unit), pela Pearson, divulgada ontem, mostra que o país está em penúltimo lugar, em análise que engloba 40 países. A educação brasileira só perde para a Indonésia, ficando em pior colocação que países vizinhos como a Colômbia, Argentina e Chile, 36º, 35º e 33º, respectivamente. No topo da lista, ficaram Finlândia, Coreia do Sul e Hong Kong.
O diretor superintendente de Educação Básica da Pearson no Brasil, Mekler Nunes, explica que, apesar do penúltimo lugar, o Brasil ostenta o dado positivo de ter aparecido no ranking. A pesquisa incluiu apenas os países com métricas claras, confiáveis e capazes de serem comparáveis internacionalmente. “Se por um lado é ruim, por outro mostra que estamos fazendo nosso dever de casa na gestão educacional. Esse é o grande passo que toda nação tem de dar.”
Para Nunes, as nações que se destacaram no levantamento são aquelas com a cultura da educação bem inserida na sociedade e valorizam os docentes. “O professor é o agente vital dos processos educacionais. É pelo professor que a eficácia da aprendizagem é ampliada. Nos países de melhor performance, o profissional tem uma valorização melhor e esse é um dos avanços que precisamos ter.”
O ranking acende mais uma vez o sinal de alerta, de acordo com o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara. O especialista lembra que, independentemente da metodologia do levantamento, o Brasil precisa se adiantar. “O Brasil está sempre entre os últimos. Em 2040, seremos um país de adultos e idosos e precisa estar bem preparado, com profissionais com boa formação que garantam a capacidade produtiva. A soberania passa pela educação da geração atual e, nisso, estamos muito mal”. Procurado pela reportagem, o Ministério da Educação não comentou a pesquisa.

Classificação

Cinco melhores

» Finlândia
» Coreia do Sul
» Hong Kong
» Japão
» Cingapura 

Cinco piores

» Indonésia
» Brasil
» México
» Tailândia
» Colômbia. 

Veículo: Correio Braziliense
Editoria: Mundo
Data: 28/11/2012

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

País tem pior crescimento desde Collor


A presidente Dilma Rousseff deverá encerrar os dois primeiros anos de seu mandato com a segunda pior média de crescimento da história recente do Brasil, só perdendo para o período Collor. No biênio 2011-2012, o crescimento médio anual do Produto Interno Bruto (PIB) do País deverá ser da ordem de 2,1%, considerando uma expansão de 1,52% prevista para este ano pela mediana do mercado financeiro na pesquisa do Boletim Focus, do Banco Central (BC).
Nos dois primeiros anos do primeiro e do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, essa média foi de, respectivamente, 3,4% e 5,6%, e nos de Fernando Henrique Cardoso, de 3,2% e 2,3%. Já no de Fernando Collor de Mello, ficou em 0,25%.
Economistas alertam para o risco de 2013 piorar o prognóstico para o governo, caso não mude o foco da política de crescimento - hoje baseada no aumento do consumo - passando a incentivar mais o investimento e melhorar a produtividade.
"Esses resultados ruins não serão salvos com políticas pontuais, como a desoneração do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos automóveis, que ajudou muito o resultado do terceiro trimestre, que esperamos ser de 0,9% na margem (comparação com o anterior)", afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. "Mesmo com um quarto trimestre ainda melhor (1,1%), o resultado será de 1,3% no ano", ressalta.
Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai divulgar os números do PIB referentes ao terceiro trimestre. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, prevê crescimento de 1,2% na comparação com o segundo trimestre.
Para o ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, hoje presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a economia não deslancha mais por problema de oferta do que de demanda. Ele argumenta que tanto a demanda não está fraca que a inflação está acima do centro da meta, de 4,5%.
"Precisamos de uma mini- agenda de crescimento que comece por desindexar o salário mínimo", defende. A proposta é polêmica e enfrenta forte resistência dos sindicatos, mas ele argumenta que é preciso baixar o custo unitário do trabalho no Brasil, "que está muito alto".
"Esse custo é pressionado para cima pela política do salário mínimo, que todo ano tem um aumento real de valor", diz o presidente da CNC.
As medidas tomadas recentemente pelo governo ainda não tiveram impacto no aumento da produtividade das empresas, diz o empresário José Ricardo Roriz Coelho, diretor do departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
"O governo, em algumas coisas, andou numa velocidade que chegou a impressionar", afirma Roriz Coelho. "Só que a queda da Selic (a taxa básica de juros da economia), por exemplo, ainda não pegou o spread bancário e as empresas continuam pagando taxas de 30% ao ano", cita.
O empresário reconhece que a queda da taxa de juros, a melhora do câmbio e a desoneração da folha de pagamentos de 40 setores industriais vão ter impacto positivo no futuro. "Mas isso não acontece de uma hora para a outra, sem contar que pegou as empresas descapitalizadas, sem capacidade de investir e numa situação em que a produtividade está muito baixa."
Para ele, se o atual modelo de crescimento não mudar "o mais rápido possível" para um modelo baseado em investimento, em 2013 vai ocorrer o mesmo que hoje. "O consumo cresce, mas quem captura o aumento do poder de compra do brasileiro são os produtos importados."
Sérgio Vale, da MB, vai além. "Em 2013, junto à continuidade de falta de reformas, e com a tendência de o governo interferir ainda mais nas decisões privadas, fica difícil imaginar uma recuperação significativa."
Para piorar, no começo do ano, o País poderá sentir os efeitos do chamado abismo fiscal americano. O problema se refere ao fim de incentivos fiscais implementados há quase dez anos pela administração de George Bush e ao início de cortes automáticos no orçamento em programas sociais e militares a partir de janeiro de 2013. O valor a ser retirado da economia chega a US$ 607 bilhões, caso não haja acordo entre o governo Obama e o Congresso do país.
"A diferença é que o impacto negativo em 2013 já é esperado, ao contrário do ano passado", pontua Vale. "Mas o fato é que isso joga o crescimento mundial para baixo e reforça perspectivas negativas para Europa e China. Com isso, o cenário externo continua ruim e o doméstico, sem grande melhora. Assim fica difícil imaginar crescimento expressivo para o Brasil", diz Vale. 

MSN/ESTADÃO

Irracionalidade nos faz achar liquidação de mantas na praia ótimo negócio


No primeiro ano de faculdade, todo aluno de economia se depara com uma ilustre figura: o Homo conomicus. Um indivíduo que tem conhecimento absoluto das informações do mercado e só toma decisões racionais que maximizem o seu bem-estar.
Segundo os livros de teoria, ele representa todos os participantes da economia. O problema é que não existe.
Em busca de aproximar a matemática dos modelos teóricos da realidade, os economistas criaram um novo ramo de estudo: a economia comportamental, que analisa fatores sociais, culturais e comportamentais.
Para essa linha, agir de forma irracional é um comportamento mais próximo à regra do que à exceção.
Um exemplo é um amigo que, num belo dia de sol, foi abordado na praia por um ambulante que vendia uma manta por R$120, mas logo abaixou o preço para R$ 100.
Meu amigo retrucou, espirituosamente: “Aceito se o senhor tirar R$100 e fizer por R$ 20″. O vendedor prontamente aceitou, surpreendendo a todos com sua generosidade e garantindo ao seu cliente uma nova e completamente desnecessária manta.
Mais tarde, ao andar pela cidade, avistamos uma manta igual à vendida por R$ 20, mostrando que o ambulante era um excelente comerciante e não uma alma caridosa.
Se a manta fosse oferecida por R$ 20 logo de cara, ninguém a teria comprado. No entanto, os R$ 100 de desconto provocaram em meu amigo a sensação de que era um ótimo negociante, tornando a oferta muito mais atraente.
Essa sensação faz parte do ser humano: todo indivíduo gosta de sentir que está ganhando em uma barganha, mesmo quando o produto não tem utilidade.
Cedo ou tarde, nos tornamos vítimas de nosso ego. Mas vale sempre tentar assegurar que o beneficiado será realmente você.  

Samy Dana

Pior escola do Enem diz que falta de professores e 'ressaca' justificam resultado


"Eu chorei, a diretora chorou, todo mundo chorou", assim Carina Gomes dos Santos, 16, descreveu a reação dos alunos e professores do Colégio Aquiles Lisboa, em São Domingos do Azeitão (MA), que obteve a pior nota no Enem 2011.
A diretora do colégio, Leia Barbosa da Silva, atribui o mau desempenho à realidade socioeconômica local, ao descaso do Estado em relação à educação e à ressaca dos alunos no dia do exame.
Entre os alunos, poucos têm condição de fazer um curso superior. Não há faculdade na cidade, e a opção mais próxima é um centro da Universidade Estadual do Maranhão que fica a 180 km da cidade.
Além do perfil dos estudantes, problemas de falta de professores contribuíram para o resultado no Enem. A diretora diz que, no ano passado, os alunos permaneceram sem professor de química, filosofia e sociologia até junho. Neste ano, quatro dos professores concursados estão dando aulas em disciplinas nas quais não são formados. Destes, três vêm de outras cidades para lecionar.
De acordo com a diretora, os alunos que prestaram o exame no ano passado não estavam em condições de fazer a prova. Ela conta que eles viajaram a São João dos Patos, a 140 km da cidade, para fazer o Enem e lá participaram de uma festa com música e bebida alcoólica.
Leonardo Dina da Silva, 19, um dos alunos que prestou o Enem no ano passado, confirmou: "A maioria nem compareceu para a prova no primeiro dia porque estava de ressaca", lembra.
"Estamos tristes porque essa nota não representa a realidade da nossa escola", afirma a diretora, que diz que o colégio é um dos mais organizadas do Estado, com biblioteca, laboratório de ciências e até ar condicionado.
Em nota, a Secretaria de Educação do Maranhão informou que vem realizando investimentos para alavancar os índices educacionais do Estado. 

DANIELA ARAI

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Por que a docência não atrai


Baixos salários, desvalorização social e más condições de trabalho. De acordo com os resultados do estudo da Fundação Victor Civita, esse conjunto de fatores afasta a maioria dos alunos que em aglum momento chegou a pensar em se tornar professor
Sim, o professor é fundamental para a sociedade e exerce um trabalho importante, nobre, gratificante e de muita responsabilidade. Mas, não, obrigado, não queremos ir para a sala de aula. É isso que diz a maior parte dos jovens brasileiros hoje. O trabalho é mal remunerado e o docente é confrontado pelos alunos, esquecido pelo governo e desvalorizado pela sociedade. Na pesquisa da Fundação Victor Civita (FVC) e da Fundação Carlos Chagas (FCC), apenas 2% dos estudantes do terceiro ano apontaram a Pedagogia ou algum tipo de Licenciatura como primeira opção de carreira.
Esse resultado bate com o panorama dos maiores vestibulares do país. De acordo com o Censo da Educação Superior de 2009, Pedagogia, Licenciaturas e outros cursos ligados à formação de professores têm uma relação candidato/vaga bastante desfavorável (como mostra o gráfico abaixo). O maior vestibular do país, promovido pela Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), oferece 109 opções de cursos. E a graduação em Pedagogia no campus de São Paulo está na 90ª posição - no de Ribeirão Preto, é ainda pior: 92ª. Licenciaturas e disciplinas da Educação Básica são ainda menos procuradas pelos jovens (confira o ranking abaixo).
O estudo da FVC/FCC revela outro dado interessante. Os pesquisadores perguntaram aos 1.501 alunos entrevistados na parte quantitativa da análise se em algum momento do processo de escolha profissional eles haviam cogitado trabalhar como professor - e 32% responderam que sim. Porém quase todos logo descartaram a ideia. A questão voltou a ser abordada nos grupos de discussão, gerando reações que iam da surpresa ao riso. Como explica Ivan*, que estuda numa escola particular em Campo Grande: "Já pensei em ser professor, só que desisti rápido. Não tenho essa vocação, essa habilidade". Nas palavras de Carlos*, aluno da rede pública de Fortaleza, "já imaginei me tornar professor de Inglês, mas foi só por um momento".
Prestou, passou
Na média das universidades brasileiras e no maior vestibular do país, a relação candidato/vaga dos cursos de Pedagogia e Licenciaturas é uma das mais baixas. 
* Ao longo deste especial, os nomes dos alunos ouvidos pela pesquisa foram trocados para preservar a confidencialidade do estudo. Os jovens que aparecem nos depoimentos em destaque são identificados normalmente, pois foram entrevistados pela equipe de NOVA ESCOLA.
Baixa remuneração não atrai jovens das classes mais altas
Investigar as razões para essa desistência em massa ajuda a compor o painel da baixa atratividade da carreira docente (o gráfico abaixo mostra os fatores que mais afastam os jovens). Analisando os aspectos negativos da profissão, 40% apontaram a baixa remuneração. Outros fatores são o desgaste da profissão e os salários ruins. Ainda mais no atual contexto de ampliação do mercado de trabalho, com novas graduaçõespipocando a cada ano nas universidades. "A alta expectativa em adquirir bens, motivada pela sociedade de consumo e pelo apelo das novas tecnologias, faz com que a questão salarial tenha grande peso na hora de escolher a carreira", afirma Patrícia Cristina Albieri de Almeida, pesquisadora da FCC e uma das coordenadoras do estudo. "Além disso, os estudantes levam em conta a possibilidade de a profissão dar condições mínimas para sustentar o padrão de vida conquistado pelos pais. No caso das classes mais abastadas, a docência não cumpre esse requisito."
Um segundo grupo de motivos para não considerar a docência como uma possível carreira tem a ver com a falta de identificação pessoal ou profissional, apontada por 32% dos que chegaram a pensar em ser professor. Nas palavras dos jovens, essa é uma profissão que exige "vocação", "dom", "amor" - ou seja, as questões técnicas do trabalho estão extremamente desvalorizadas. "Um professor tem que ter o dom, tem que ser uma pessoa iluminada para poder ensinar", opina Ana*, de uma escola particular de Curitiba. Sua colega Roberta* concorda: "O essencial é ter vocação e muita paciência para lidar com as pessoas".
Penso, logo desisto
Cerca de um terço dos entrevistados cogitou a ideia da docência, mas acabou se afastando pelos fatores negativos ligados à carreira.

Vista como sacerdócio, carreira não exige retorno financeiro
"Ao enxergar a docência como um sacerdócio, os jovens de certa forma reforçam o sentimento de que o professor não tem sequer o direito de exigir uma compensação financeira por seu trabalho, devendo simplesmente amar o que faz", avalia Patrícia. Nos grupos de discussão realizados em escolas particulares, alguns estudantes chegaram a mencionar que poderiam atuar em sala de aula como um hobby ou uma ação humanitária paralelos à profissão "oficial". Para os especialistas, essa concepção equivocada é até justificável. "No dia a dia da sala de aula, o aluno vê as dificuldades do professor e, como o considera tão desvalorizado, só justifica essa opção por atuar na escola como um dom", argumenta Ângela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O cotidiano escolar é apontado diretamente como uma fonte de desistência num terceiro grupo de respostas, que inclui o desrespeito e o desinteresse dos alunos e as más condições de trabalho. Vários jovens afirmam que não se sentem atraídos pela docência pelo que presenciam nas próprias salas de aula. Jorge* é representante de turma numa escola particular em Campo Grande e diz: "Se quando tenho de falar com meus colegas por cinco minutos já é complicado, imagine o professor, que dá seis aulas de 50 minutos para quem não quer prestar atenção". Também não passam despercebidas a necessidade constante de estudo e as atribuições que extrapolam o horário letivo, como lembra Leila*, estudante de escola pública em Feira de Santana, a 119 quilômetros de Salvador: "Depois de trabalhar em vários turnos, muitos ainda têm de chegar em casa, elaborar aula e prova e tudo mais."
Comprovação prática para as suspeitas dos especialistas
Vistas em conjunto, as percepções sobre o trabalho do professor captadas pela pesquisa mostram uma profissão cada vez mais complexa - os jovens entendem e mencionam dificuldades recentes, como o aumento da violência e da agressividade -, porém mal recompensada e sem capacidade de atração. "O grande mérito do estudo é trazer evidências empíricas para o que já intuíamos", afirma Denise Vaillant, coordenadora do Programa de Desenvolvimento do Profissional Docente na América Latina e Caribe (Preal). "A triste realidade é que a docência se transformou em uma opção por descarte. Se um amigo ou filho nos diz 'quero ser professor', nós mesmos muitas vezes respondemos, com a mão no coração: 'Pense em outra coisa'."
O Brasil já experimenta as consequências do baixo interesse pela docência. Estatísticas de 2006 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) indicam que os profissionais do ensino constituem o terceiro grupo ocupacional mais numeroso do Brasil: 8,4% dos trabalhadores - em números absolutos, cerca de 2,9 milhões de postos de trabalho. Perdem apenas para duas categorias reconhecidas como grandes absorvedoras de mão de obra: os escriturários (15,2%) e os trabalhadores do setor de serviços (14,9%). E ficam à frente dos trabalhadores da construção civil (cerca de 4% da força de trabalho).
Faltam 710 mil docentes com formação adequada à área
O problema é que não há candidatos suficientes para suprir, com qualidade, as vagas disponíveis. De acordo com uma estimativa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação, só no Ensino Médio e nas séries finais do Ensino Fundamental o déficit de professores com formação adequada à área que lecionam chega a 710 mil. É o que os especialistas chamam de "escassez oculta", que se registra quando o ensino é exercido por pessoas não plenamente qualificadas a ensinar para determinado nível escolar ou disciplina. A situação mais crítica ocorre nas ciências exatas. Em áreas como a de Física, o porcentual de docentes graduados no campo de saber específico é de apenas 25,2%. Na de Química, o total é de 38,2%.
O panorama é ainda mais grave se considerarmos que 41% do corpo docente tem 41 anos ou mais - ou seja, está relativamente próximo da aposentadoria (como se vê no gráfico abaixo). Além disso, a julgar pelos resultados dos mais recentes Censos Escolares da Educação Básica, começam a se avolumar evidências de que o número de aposentadorias tende a superar o número de formandos nos próximos anos.
Vale repetir que esse quadro não tem nada a ver com falta de vagas nas universidades. "Entre 2001 e 2006, houve crescimento de 65% no número de cursos de licenciatura. As matrículas, porém, aumentaram apenas 39%", afirma Bernardete Gatti, pesquisadora da FCC e supervisora do estudo. Segundo o Censo da Educação Superior de 2009, há 55% de vagas ociosas nos cursos de Pedagogia e formação de professores - número acima da média das outras carreiras (leia o gráfico abaixo).
Vai faltar gente
Número de vagas ociosas nos cursos de Pedagogia e formação de professores é alto. Enquanto isso, corpo docente envelhece. 





Escassez tende a piorar com a expansão da Educação Básica
Finalmente, um último aspecto inquietante diz respeito ao impacto da falta de docentes no aprendizado dos alunos. Dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) destacam a relação entre a escassez (e a má formação) dos professores e o desempenho dos estudantes nesse exame internacional. No Brasil, o problema tende a se intensificar com a expansão das matrículas projetadas com a universalização do Ensino Médio e da Educação Infantil nos próximos anos - agora que foi aprovada a lei que torna obrigatória a escolarização de crianças e jovens de 4 a 17 anos. A questão não se resume a atrair urgentemente mais e mais candidatos. Trata-se de criar mecanismos para atrair os mais bem preparados, como você vai ler na próxima reportagem desta edição especial.

(Revista Escola)




terça-feira, 20 de novembro de 2012

Governadores inimigos da educação são derrotados no STF


O ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, acaba de indeferir o pedido de liminar feito pelos governadores dos estados do Rio Grande do Sul, Piauí, Roraima, Santa Catarina, Goiás e Mato Grosso do Sul, na ADI 4848, que pretendia colocar o INPC como único fator para o reajuste do Piso, algo que a CNTE jamais aceitou.
É uma vitória dos trabalhadores em educação de todo o país, que, aos milhares, foram às ruas reivindicar os seus direitos e realizaram manifestações nos estados dos governadores signatários da ADI.
Com a decisão, os Estados devem continuar atualizando o valor do piso seguindo os exatos termos da Lei Nacional do Piso do Magistério. Joaquim Barbosa lembrou que a União está obrigada a complementar os recursos locais para atender ao novo padrão remuneratório do Piso, de modo que não há risco para os orçamentos locais e também consignou que os gastos com o piso são obrigatórios e que a concessão da liminar poderia representar um risco inverso, artificialmente comprometendo a função do piso nacional.
Lembramos que a decisão da liminar não é definitiva, cabendo ao STF julgar o mérito da ADI 4.848 em data ainda não prevista. Mas a vitória parcial é importante, sobretudo neste momento em que se aproxima mais uma atualização do valor do piso.
Agora, a CNTE trabalha para a aprovação de projeto de lei (ou medida provisória), ainda este ano, que contemple a proposta de reajuste que engloba o INPC + 50% das receitas do FUNDEB, conforme apresentado ao presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, e definido em acordo com outras entidades como a Undime, a Campanha Nacional Pelo Direito à Educação e a Comissão de Educação e Cultura da Câmara.
A proposta simboliza a melhor possibilidade de ganho real diante das variações dos índices de acordo com momentos de instabilidade, como a crise financeira atual.
Parabéns aos trabalhadores da educação pela importante vitória com a derrubada, em caráter de liminar, da ADI 4848! 

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Opinião ZH


A desgraça mostra o rosto mas nada vemos _ não estamos nem aí... Nada é pior do que essa guerra de rua em tempos de paz (oficialmente de paz!), que alcança um tom demente em São Paulo e Santa Catarina, mas é comum a todo o país. Nela, não se sabe exatamente quem é "o inimigo" ou como se chama, nem ele conhece nosso nome ou o que somos. A violência urbana é feroz por ser exercida a esmo, contra qualquer um. Em ambos lados, bastam "as aparências" para que alguém se torne vítima.
Em São Paulo, por exemplo, não só a organizada bandidagem do PCC ataca e mata a granel, seja a quem for, de preferência policiais. Não temos a "pena capital" e nem um minucioso processo judicial pode condenar alguém à morte, mas a polícia também mata à toa, só por "desconfiar", e em nome do Estado! Viram as cenas exibidas na TV dias atrás, em que um motorista (tomado por ladrão de carro) foi preso e, ao se queixar, levou oito tiros?
Os dois Estados, porém, vivem situações distintas. Em São Paulo a violência organizada é seletiva, quer vencer (ou vingar-se) aterrorizando a polícia. Em Santa Catarina, é vandálica _ terrorismo generalizado e indiscriminado, que incendeia ônibus e cujo alvo é a população em si. "O crime fortalece o crime!" _ prega escancaradamente a cartilha do PCC, que circula nas prisões gaúchas. Há anos sabemos disso, mas agora, quando a violência vira escândalo, os governantes reinventam as "soluções" inócuas de sempre: obter mais verbas federais, aumentar a repressão e, como símbolo da vitória futura contra o crime, construir mais e mais presídios. O ministro da Justiça sintetizou essa visão com uma frase, dias atrás: "Prefiro perder a vida a passar anos nos presídios medievais do Brasil". Tem razão ele quanto ao estilo degradante das prisões, que só exacerbam o espírito do crime. Mas, pensar que tudo se resolve com presídios decentes que recuperem o criminoso, é desconhecer a gênese do crime. É inverter a solução, como se para combater uma epidemia bastasse abrir farmácias... É preciso reprimir o delito com rigor e, mais do que tudo, sem tréguas. Mas não dar trégua ao crime significa extirpar as causas da violência, matá-la no ninho antes de que rompa a casca do ovo. O delito não brota da profundeza da terra nem cai do céu ou é inato. É _ isto sim _ um "fato cultural", fruto de condições sociais absurdas e violentas. Hoje, até o lazer e o entretenimento são violentos. O tum-tum-tum, que chamam de música, brutaliza os neurônios de crianças e adultos. Os bailes "funk" são estupro coletivo, consentido ou não. Em qualquer classe social, cultivar o amor tornou-se "cafona" ou "brega" e só vale levar vantagem, enganar e mentir. A maravilha da internet transforma-se no meio ideal para a rapinagem ética, em que a falsidade predomina até na compra-e-venda. A TV (por lei, "instrumento cultural") se vulgariza em busca de "audiência", pois a baixaria abjeta entra fácil pelo ouvido corrompido desde cedo. A publicidade apela às piores metáforas e mostra a cerveja como se fosse a finalidade da vida... A droga faz o resto! Frente a isto, a escola não tem como educar. Antes ainda de alfabetizados, as crianças já foram "educadas" pelo videogame em que jogar é apertar teclas para "matar" e "destruir". As teclas comandam, levam a não pensar, nos fazem bonecos assimilando só o que venha pronto. Sem raciocínio, o torpor decide por nós. E, então, por que não apertar o gatilho para roubar o que seja? Por que não? Ou, "lá em cima", políticos e governantes não subornam empresários ou banqueiros, todos em busca de vantagens? Assim, passo a passo, o ninho do crime vira nascedouro de nossas vidas. 
FLÁVIO  TAVARES

Governo de SP também fez ‘anúncio-fantasma’

Na semana passada, descobrira-se que a Presidência da República torrara, sob Dilma Rousseff, R$ 135,6 mil pra remunerar anúncios jamais veiculados. Os jornais eram fantasmas. Neste domingo (18), fica-se sabendo que, na época em que era comandado por José Serra, o governo de São Paulo também destinou anúncios às mesmas publicações fictícias. A diferença é que gastou mais: R$ 309 mil, em cifras corrigidas. Suprapartidária, a mania de gastar verbas públicas como se fosse dinheiro grátis não tem fronteiras. 

Blog do Josias

MPF pede 80 anos de xilindró para Cachoeira


O julgamento de Carlinhos Cachoeira na Justiça Federal de Goiás entrou na fase decisiva. O Ministério Público Federal acusou-o de cometer 17 vezes os crimes de corrupção, formação de quadrilha armada e acesso indevido a informações sigilosas. A Procuradoria fechou a conta em 80 anos de cadeia. A repórter Andreza Mattas informa que corre agora o prazo para que a defesa apresente suas “alegações finais”. Advogado de Cachoeira, preso desde 29 de fevereiro, Nabor Bulhões compara o caso do seu cliente com o processo do mensalão. “O Supremo Tribunal Federal está julgando o que o Ministério Público chamou de o mais grave e ousado esquema de corrupção que existiu no país e a maior pena foi de 40 anos. Nenhum dos réus foi preso durante o processo. Estão brincando de direito penal com meu cliente.” 
Josias de Souza

Sem-cadeia!

Blog do Josias

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Dieta emagrece mais do que exercício, mostram pesquisas


O último round da disputa científica entre dieta e exercício físico (qual emagrece mais?) foi vencido pela mudança alimentar.
Atividade física até ajuda a perder uns quilos, mas quem está acima do peso 48,5% da população brasileira, segundo o Ministério da Saúde precisa fechar a boca para ter resultado, de acordo com pesquisas recentes.
Uma delas, publicada em outubro último no periódico "Obesity Reviews", analisou os resultados de 15 trabalhos. Todos mediram o efeito de atividades físicas, como caminhada ou corrida, em pessoas que não fizeram mudanças na dieta.
As conclusões não animam. Na maioria dos estudos (que envolveram 657 pessoas e duraram de três a 64 semanas), a perda de peso foi menor do que a esperada.
"Algumas pessoas conseguem emagrecer bastante, mas, em geral, a prática de atividade física resulta em uma perda de apenas dois ou três quilos", disse à Folha Timothy Church, um dos coordenadores do trabalho. Ele é médico do Centro Pennington de Pesquisa Biomédica, em Louisiana (EUA).
COMPENSAÇÃO
Se toda atividade física causa queima energética e se para emagrecer basta ter um saldo negativo (gastar mais do que ingerir), por que a conta nem sempre fecha?
O trabalho de Church levanta algumas hipóteses. Segundo a principal delas, quem faz exercício acaba compensando a perda de calorias comendo mais. Isso aconteceu em pelo menos dois artigos analisados.
"Não sabemos por que isso ocorre, estamos estudando melhor agora", afirma.
Para o médico do exercício Marcelo Leitão, da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, é comum as pessoas superestimarem os efeitos da atividade física.
"As pessoas têm uma noção errada de que se fazem exercícios podem comer o que quiserem. Se você fizer uma hora de atividade e depois tomar uma cervejinha, já recuperou o que perdeu."
Para gastar 500 calorias (meta diária de quem quer perder meio quilo por semana) é preciso fazer uma hora de atividade de alto impacto, como uma aula de "jump". O esforço pode ir embora em dois pedaços de pizza.
"Uma hora de caminhada por dia muda indicadores de saúde, mas não necessariamente faz perder peso", acrescenta Leitão.
FAZENDO AS CONTAS
"É muito mais fácil cortar calorias do que gastar. As dietas, em geral, são supercalóricas", afirma Julio Tirapegui, bioquímico e pesquisador da Universidade de São Paulo.
Uma pessoa com sobrepeso pode consumir mais de 3.000 calorias por dia e um obeso chega a 5.000, segundo o médico argentino Máximo Ravenna, autor de "A Teia de Aranha Alimentar" (Guarda-Chuva, 264 págs., R$ 38). "Não tem como compensar isso com exercício. Tem que reduzir pelo menos 40% da ingestão de alimentos."
Outro ponto a considerar é que o gasto de energia resultante do exercício não é exato: varia segundo o condicionamento físico e as características pessoais (altura, peso, idade). Na dieta, dá para fazer as contas com precisão e cortar calorias.
Foi calculando tudo que colocava para dentro que Lucélia Bispo, 27, auxiliar administrativa, perdeu 23 quilos em cinco meses, sem exercício. Ela fez uma dieta de pontos de um site especializado.
"Não deixava passar nada, anotava até uma bala", diz ela, que antes já tinha feito regime, sem sucesso.
"Sempre dá aquela impressão de que não vamos poder comer nenhuma besteira. Mas aprendi que se for um pouquinho, tudo pode."
O recorde de Lucélia foi ter perdido 2,3 kg em apenas uma semana.
Depois de emagrecer bastante, ela passou a fazer uma dieta de manutenção. Hoje está com 71 kg. "Só agora vou fazer academia, porque fiquei com um pouco de flacidez."
IMPOSSÍVEL NÃO É
É claro que quem pratica exercícios com regularidade e foge da armadilha da compensação alimentar consegue perder peso.
Na cabeça do psiquiatra Volnei Costa, 31, nunca passou a ideia de fazer regime: "Gosto muito de comer".
Quando viu que precisava emagrecer, manteve o cardápio e começou a treinar pesado seis vezes por semana, alternando musculação e exercícios aeróbicos. Em seis meses eliminou oito quilos passou de 79 kg para 71 kg. Hoje está com 76 kg. "Ganhei massa muscular", diz.
Abandonar o sedentarismo também foi decisivo para a designer Camilla Pires, 23. Com 21 anos e 85 quilos, ela começou a nadar. A atividade motivou mudanças no cardápio. "Passei a pensar mais no que comia. Estava fazendo muito esforço, não podia desperdiçar."
Por um ano, ela juntou a fórmula dos sonhos dos especialistas: adotou uma " alimentação saudável" e se mexeu mais. Além da natação, passou a correr. Perdeu 24 quilos. "Para mim, o que fez a diferença foi o exercício, mas também parei de comer compulsivamente ", conta.
O pesquisador americano Timothy Church, apesar das ressalvas, admite que, com a atividade física, o emagrecimento fica mais fácil. E até dá a receita: 150 minutos de caminhada rápida por semana e 2 dias de treinamento com pesos (20 minutos por dia).
Para Franz Burini, professor da Unesp e médico da academia Reebok Sport Club, não existe atividade física ideal. "O melhor exercício é aquele que é feito", afirma. E não precisa passar uma hora na academia para ter resultado. "Ser fisicamente ativo é se mexer mais todo o tempo. Tem pessoas que treinam uma hora e ficam paradas as outras 23."


JULIANA VINES     









terça-feira, 13 de novembro de 2012

Caderneta de Poupança


A caderneta de poupança é a aplicação mais tradicional e popular do nosso país. Foi instituída, ainda, na época do império, em 1861, para receber as economias dos brasileiros, especialmente aqueles de classes sociais menos abastadas.
É um instrumento financeiro de renda fixa que pode ser contratado em praticamente todos os bancos. Os recursos captados auxiliam a fomentar o setor habitacional, pois os bancos são obrigados a repassar 65% dos recursos para o financiamento imobiliário.
A remuneração da poupança é de 0,5% a.m +TR para as aplicações feitas até o dia 03.05.2012.
Para os depósitos efetuados a partir de 04.05.2012, são aplicadas as seguintes regras:
-       Quando a Selic for igual ou inferior a 8,5% a.a, a remuneração será de 70% da Taxa Selic+TR.
-       Quando a Selic for superior a 8,5% a.a, a remuneração será de 0,5% a.m+TR.
A TR é uma taxa básica referencial de juros que compõe o cálculo de várias operações financeiras, assim como a caderneta de poupança. Em linhas gerais, a TR é a média da taxa dos CDBs de 30 dias das maiores instituições financeiras do país.
Atualmente, a TR apresenta resultado diário próximo a zero o que contribui muito pouco com o rendimento da caderneta de poupança.
O risco da aplicação em caderneta de poupança é baixo em instituições financeiras sólidas e com boa reputação. O aplicador só perderá o recurso caso a instituição financeira vá à falência. Assim como o Certificado de Depósito Bancário (CDB), a Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e a Letra Hipotecária (LH), a Caderneta de Poupança conta com uma garantia adicional, do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), até o valor de R$ 70 mil por CPF ou CNPJ, por grupo financeiro ou instituição financeira emissora.
A caderneta de poupança é destinada a qualquer investidor. Normalmente, não existe valor mínimo para iniciar as aplicações, o que torna o investimento bastante atraente. Segundo dados do Banco Central do Brasil (Bacen), nosso país tem mais de 100 milhões de cadernetas de poupança. Deste total, mais de 50 milhões tem por volta de R$ 100,00 aplicados.
A caderneta de poupança evidentemente possui vantagens e desvantagens em relação a outros instrumentos financeiros com características e graus de risco similares.
Entre as vantagens, destacam-se a isenção de imposto de renda (IR) sobre os rendimentos auferidos por pessoas físicas e jurídicas imunes, bem como a liquidez imediata.
Vale destacar que embora a caderneta de poupança admita o resgate diário, se o investidor resgatar os recursos antes da data de aniversário, ele não receberá o rendimento referente àquele mês.
Além da vantagem da isenção de IR e da alta liquidez, na caderneta de poupança não há cobrança de taxas de administração e negociação.
A desvantagem da caderneta de poupança está na pequena remuneração do capital investido. O rendimento costuma ser menor que outras aplicações também conservadoras como LCIs, fundos de investimento RF de baixo risco e Notas do Tesouro Nacional, por exemplo.
Importante observar que as pessoas jurídicas, excetuando as imunes, são remuneradas nas cadernetas de poupança a cada trimestre e pagam Imposto de Renda de 22,5% sobre o rendimento nominal.
Essa taxa é bastante alta e deixa o investimento desinteressante, com risco até de juro real negativo, ou seja, rendimento menor que a inflação.
A seguir uma simples ilustração da rentabilidade das cadernetas de poupança (regra nova e regra antiga) frente ao CDB, Fundos de Investimento Renda Fixa, NTN-B e LCI. Neste caso, poupança, LCIs e CDBs possuem garantia do FGC até 70 mil. 

Samy Dana

Dirceu e Genoino


BRASÍLIA - Os destinos de José Dirceu e José Genoino cruzaram-se nos ares do julgamento do mensalão.
Em todos esses anos, réus, advogados, especialistas e até alguns ministros ponderavam que "não havia uma só prova" contra Dirceu, mas Genoino tinha assinado empréstimos fraudulentos como presidente do PT. O chamado "batom na cueca".
O destino de Dirceu era incerto e o de Genoino parecia selado. Mas, ao longo do julgamento, só uma pessoa endossou essa impressão: o ministro Dias Toffoli, que absolveu Dirceu e condenou Genoino por corrupção.
Apesar dessas questões objetivas, sempre houve uma espécie de certeza íntima em sentido contrário: ninguém acreditava que Dirceu não tivesse nada a ver com a trama nem que Genoino tivesse atuação central.
Não era e não é crível que o mensalão pudesse envolver partidos, parlamentares, Banco do Brasil, Banco Rural, BMG, empresas de publicidade e Delúbio Soares sem que Dirceu estivesse por trás, no comando, centralizando tudo desde a sua sala na estratégica Casa Civil.
Com Genoino, ocorre o oposto: ninguém, até na oposição, acredita que ele fosse decisivo, maquinando, articulando viagens mirabolantes, ora ao Banco Central, atravessando a rua e a prudência, ora para Portugal, cruzando oceanos.
Pesam nessa percepção, além dos autos, as personalidades, histórias, estilos de vida de um e outro. Dirceu é guerreiro, ambicioso, sem limites. Genoino é conciliador, despojado, leva uma vida quase de professor.
Intimamente, os demais ministros gostariam de fazer o contrário de Toffoli: condenar Dirceu, pelo óbvio, e absolver Genoino, que era secundário. Só não o fizeram por causa da assinatura, do batom na cueca.
O ajuste veio na última hora, na definição dos anos na cadeia. Dirceu, o de fato, foi condenado a regime fechado. Genoino, o de direito, a regime semiaberto. Mais do que aritmética, prevaleceu o senso de Justiça aí. 

Eliane Cantanhêde

Relator do mensalão diz que condenados não terão direito a cela especial


Relator do processo do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Joaquim Barbosa disse nesta terça-feira (13) que os 25 condenados no processo não terão direito a cumprir pena de regime fechado em cela especial.
Os ministros do Supremo ainda estão definindo o tamanho das punições. Alguns réus, como o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), o operador do mensalão Marcos Valério e a dona do Banco Rural Kátia Rabello, receberam mais de 8 anos de prisão e terão que cumprir inicialmente a punição na cadeia.
Barbosa explicou que a prisão especial só cabe em casos de prisão provisória. "A prisão especial é só para quem está cumprindo prisão provisória e não definitiva", disse.
Questionado sobre a situação de Dirceu, o ministro não quis falar em casos específicos dos réus, mas avaliou o cenário geral. "Não vamos falar sobre pessoas", afirmou.
O Código Penal estabelece que os detentores de diploma de curso superior, ministros, governadores, delegados, parlamentares e militares têm direito a "serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à disposição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação definitiva."
Após a definição das penas, o Supremo decidirá sobre o pedido do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de prisão imediata dos condenados. Ministros ouvidos pela Folha descartam a medida.
Os condenados poderão ser presos quando o resultado do julgamento (acórdão) for publicado ou somente após a análise de todos os recursos propostos.
Barbosa disse que juízes estaduais ou federais vão determinar o local onde os condenados vão cumprir o regime fechado.
Condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a dez anos e dez meses de prisão, Dirceu, por exemplo, tem como destino mais provável um presídio de segurança máxima no interior de São Paulo, Estado onde tem residência atualmente.
SIMPLICIDADE
Barbosa visitou hoje os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, Marco Maia (PT-RS), para convidá-los para sua posse na presidência do Supremo no dia 22. Os encontros foram rápidos e descritos por ele como "protocolares". Barbosa passou mais tempo com Sarney, a quem disse conhecer "há muito tempo".
Na sala de Maia, que fez duras críticas ao julgamento do mensalão pela condenação de petistas, ficou cerca de 15 minutos e preferiu ficar em pé.
Ao final do encontro, o relator do mensalão foi questionou sobre sua gestão e garantiu que vai emplacar seu estilo. "Casa um tem seu estilo", disse. "O meu estilo é muita clareza, simplicidade e transparência", afirmou.
O ministro disse ainda que não pode avaliar se o julgamento representa um resgate da política. "Não tive tempo de pensar estou muito ocupado, nem os jornais consigo ler". 

MÁRCIO FALCÃO

Dirceu: pena ‘só agrava a infâmia e a ignomínia’


Em nota veiculada em seu blog, o condenado José Dirceu reagiu ao castigo que o STF lhe impingiu na sessão desta segunda-feira. “A pena de dez anos e dez meses que a Suprema Corte me impôs só agrava a infâmia e a ignomínia de todo esse processo”, anotou. Acusou o STF de valer-se de “recursos jurídicos que violam abertamente nossa Constituição e o Estado Democrático de Direito.” Recursos como “a teoria do domínio do fato, a condenação sem ato de ofício, o desprezo à presunção de inocência e o abandono de jurisprudência que beneficia os réus. ”Dirceu reiterou o lero-lero segundo o qual o julgamento do mensalão ocorre “sob pressão da mídia”. Disse que foi “marcado para coincidir com o período eleitoral na vã esperança de derrotar o PT e seus candidatos.” Repisa a alegação de que não há provas contra ele nos autos. Otimista, anota que o julgamento “ainda não acabou”. Afora a possibilidade de impetração derecursos, o condenado invoca no texto seu “direito sagrado” de “provar” a “inocência”. Dirceuanuncia: “Não me calarei e não me conformo com a injusta sentença que me foi imposta. Vou lutar mesmo cumprindo pena.” Abaixo, a íntegra da manifestação do ex-chefe da Casa Civil de Lula, intitulada de “Injusta Sentença”: Dediquei minha vida ao Brasil, a luta pela democracia e ao PT. Na ditadura, quando nos opusemos colocando em risco a própria vida, fui preso e condenado. Banido do país, tive minha nacionalidade cassada, mas continuei lutando e voltei ao país clandestinamente para manter nossa luta.  Reconquistada a democracia, nunca fui investigado ou processado. Entrei e saí do governo sem patrimônio. Nunca pratiquei nenhum ato ilícito ou ilegal como dirigente do PT, parlamentar ou ministro de Estado. Fui cassado pela Câmara dos Deputado e, agora, condenado pelo Supremo Tribunal Federal sem provas porque sou inocente. A pena de 10 anos e 10 meses que a suprema corte me impôs só agrava a infâmia e a ignomínia de todo esse processo, que recorreu a recursos jurídicos que violam abertamente nossa Constituição e o Estado Democrático de Direito, como a teoria do domínio do fato, a condenação sem ato de ofício, o desprezo à presunção de inocência e o abandono de jurisprudência que beneficia os réus. Um julgamento realizado sob a pressão da mídia e marcado para coincidir com o período eleitoral na vã esperança de derrotar o PT e seus candidatos. Um julgamento que ainda não acabou. Não só porque temos o direito aos recursos previstos na legislação, mas também porque temos o direito sagrado de provar nossa inocência. Não me calarei e não me conformo com a injusta sentença que me foi imposta. Vou lutar mesmo cumprindo pena. Devo isso a todos os que acreditaram e ao meu lado lutaram nos últimos 45 anos, me apoiaram e foram solidários nesses últimos duros anos na certeza de minha inocência e na comunhão dos mesmos ideais e sonhos.
 José Luíz de Oliveira Lima, o advogado de Dirceu, disse em entrevista que aguarda pela conclusão do julgamento para decidir que recursos irá ajuizar. 
Josias de Souza

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Os ruins e os piores


BRASÍLIA - A violência em São Paulo evoluiu de uma guerra entre bandidos e policiais para uma guerra de vaidades entre o governo federal e o estadual, descambou para mais uma guerra partidária entre PT e PSDB e desemboca numa guerra interminável de números. A eleição de 2014 já está começando.
Com as credenciais de ex-secretário nacional de Segurança na era FHC e atual professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da PM-SP, o coronel da reserva da PM José Vicente da Silva Filho pega em armas para defender São Paulo.
Incomodado com o noticiário em geral e com uma coluna em que classifico a violência na capital de São Paulo como "calamidade", ele diz que, feitas todas as ponderações de população, a violência no Rio e em Salvador, Maceió, Recife, Fortaleza e Curitiba está num nível bem pior do que a paulistana.
Vai aos (seus) números: a violência no Rio é 80% maior, e a de Salvador, 300%. Mesmo em setembro, quando os homicídios praticamente dobraram em São Paulo, os dados cariocas ainda continuaram 25% mais assustadores.
Na versão do coronel professor, mais do que guerrear para ver que Estado está pior do que o outro, ou que capital é mais violenta do que a outra, convém focar nos dados federais. E eles não são nada bons, diz.
Nas contas de José Vicente, o governo federal gastou 21,26% a menos que em 2011 em segurança e, até agora, só usou 46% do Orçamento de R$ 10,8 bilhões destinados para esse setor tão delicado.
Pior: citando dados da Câmara dos Deputados, acrescenta que o Orçamento da União para Segurança em 2013 foi reduzido para R$ 7,2 bi, 33% a menos do que neste ano.
É assim que, enquanto bandidos assassinam policiais em São Paulo e civis também lá e em todo o resto do país, autoridades, acadêmicos e imprensa participamos de um festival horripilante: quem mata mais? 

Eliane Cantanhêde 

E

Ter um futuro


Num debate no Rio de Janeiro, ouvi do ativista francês Daniel Cohn-Bendit: "Em nossa juventude, lutamos pela liberdade pensando que, com ela, faríamos o futuro que queríamos; hoje, a juventude precisa usar essa liberdade na luta para ter algum futuro".
De fato, a política parece nos restringir a um longo presente, sem aprender com o passado nem projetar o futuro.
O Congresso aprovou o projeto que altera a destinação dos royalties do petróleo. O tema se arrasta desde 2011, quando o Congresso aprovou o marco regulatório do pré-sal e deixou os royalties para depois das eleições, bem entendido.
A polêmica é sobre a divisão entre Estados e municípios produtores e não produtores, que não foi mediada na política e será arbitrada pela Justiça. Mais uma vez, o governo foi atropelado por uma base parlamentar mobilizada por interesses imediatos e pragmáticos.
Tão ou mais grave, mas que não ganha manchetes, é a destinação dos recursos. Prevaleceu a solução mais fácil, em que os governantes têm liberdade para gastar como querem, numa pulverização de recursos "boa de voto" e péssima para o futuro do país.
O petróleo é fonte de energia poluidora, que acelera as mudanças climáticas, mas o mundo ainda não pode prescindir dele. Energias renováveis e mais limpas eólica, solar, biomassa e etanol estão sendo desenvolvidas, mas ainda não são suficientes para substituir totalmente o petróleo. Cabe à atual geração usar o que tem antecipando-se aos problemas futuros.
Nos recursos do pré-sal, devem ter prioridade educação, ciência e tecnologia, além da prevenção das mudanças climáticas. Assim, o Brasil poderá liderar a transição para a economia de baixo carbono. O governo acenou com os recursos para a educação, mas não se empenhou na causa. E abandonou o Fundo Clima, criado no fim de 2009 com parte dos royalties do petróleo. O PL atual o deixa à míngua e compromete a Política Nacional de Mudanças Climáticas.
Como o governo e sua base parlamentar vão manter os projetos de combate à desertificação no semiárido nordestino, combate à erosão e gestão de áreas costeiras, prevenção de desastres naturais, manejo florestal, monitoramento da emissão de gases-estufa?
De onde virão os 10% do PIB para garantir o Plano Nacional de Educação que tramita no Congresso? Como manter os recursos destinados ao Fundo Clima, para cumprir as metas da política de mudanças climáticas? Devemos esperar que a próxima geração pense no futuro quando ele tiver chegado?
Se brasileiros considerarem seriamente a proposição dramática de Cohn-Bendit, "lutar para ter um futuro", e o chamado de Stéphane Hessel, "indignai-vos!", em pouco tempo a Europa pode ser aqui.

MARINA SILVA 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Dilma diz a PT e PMDB que, antes de 2014, o governo tem dois anos de trabalho pela frente


Em jantar com dirigentes e ministros do PT e PMDB, no Palácio da Alvorada, Dilma Rousseff evitou traçar planos para a sucessão presidencial. Disse que, antes de 2014, o governo tem dois anos de “muito trabalho” pela frente. Enalteceu a parceria entre os dois maiores partidos de sua coligação. Declarou que a junção funcionou no governo, no Legislativo e também nas eleições municipais de 2012. Lula também esteve no Alvorada na tarde desta terça (6). Mas preferiu não participar do jantar. Achou que sua presença poderia ser mal compreendida. Teve receio de que dissessem que estava querendo se sobrepor à autoridade da presidente. Conversou com Dilma por cerca de três horas. Analisou com ela a conjuntura pós-eleitoral. Ajudou a alinhavar a retórica que seria desfiada no jantar. E foi embora. Afora a anfitriã, estiveram no repasto do Alvorada 19 pessoas, entre senadores, deputados e ministros (veja lista no rodapé). O blog conversou com três dos comensais de Dilma. Vai abaixo um resumo em dez atos do que se passou:
1Eleições municipais: O encontro começou no salão de estar do Alvorada. Dilma abriu a conversa com uma análise sobre as eleições para prefeitos. Celebrou o fato de as disputas não terem produzido prejuízos para a “boa convivência” das legendas que apoiam o governo no Congresso. Os presidentes do PT, Rui Falcão, e do PMDB, Valdir Raupp, despejaram números sobre o tapete. Dilma considerou que os dois partidos tinham muito a comemorar. Juntos, saíram das urnas com uma sólida base municipal, comentou.
2São Paulo e Chalita: Dilma realçou a “importância” das alianças que o PMDB fez com seu partido. Deu especial ênfase ao apoio do candidato derrotado Gabriel Chalita ao petista Fernando Haddad, prefeito eleito de em São Paulo. Não foi uma adesão qualquer, ela disse. Chalita envolveu-se na campanha, ajudou a construir a vitória do PT, completou. Patrono da candidatura de Chalita, o vice-presidente Michel Temer assentia com movimentos de cabeça. Parte da audiência deixou o Alvorada com a sensação de que Chalita é um ministro esperando para acontecer.
3Belo Horizonte: Dilma declarou que os acertos com o PMDB foram importantes mesmo em praças em que o PT saiu derrotado. Concentrou-se em Belo Horizonte. Para ela, o infortúnio de Patrus Ananias na capital mineira teve gosto de vitória. Por quê? Graças à votação do ex-ministro do Bolsa Família, o PT saiu das urnas maior do que entrou. Sabíamos que seria difícil derrotar Márcio Lacerda (PSB), afirmou a presidente. Mas o enfrentamento tornou-se incontornável. Sem mencionar o nome do tucano Aécio Neves, Dilma insinuou que, ao coabitar a primeira gestão de Lacerda com o PSDB, o PT como que condenou-se à sombra. A aliança com o PMDB produziu, segundo ela, um promissor realinhamento de forças em Belo Horizonte.
4A bajulação de Sarney: o presidente do Senado interveio a certa altura para bajular Dilma. Disse que os partidos deviam o bom desempenho nas urnas à anfitriã. Não quero fazer rasgação de seda, afirmou José Sarney. Em seguida, rasgou: o sucesso eleitoral se deve à sua popularidade, ao reconhecimento do seu governo na sociedade, disse o morubixaba do PMDB. A gente deve isso à boa aceitação da sua administração, acrescentou o senador.
5Reforma política: Dilma afirmou que os partidos precisam aproveitar o bom momento para avançar no Legislativo. Curiosamente, não mencionou os projetos que interessam mais diretamente ao seu governo. Discorreu sobre a reforma política. Abstendo-se de mencionar o mensalão, que o PT chama de “caixa dois”, a presidente foi enfática: passa da hora de reformar a legislação eleitoral. Ela se dispôs a ajudar. Não faz questão de ser protagonista. Fará o que o Congresso achar que lhe cabe fazer. Se quiserem que o Planalto mande um projeto, será enviado. Se avaliarem que o governo não deve se meter, assim será feito. O essencial, repisou Dilma, é avançar. O avanço virá, na opinião dela, se os partidos abandonarem os projetos ambiciosos. Acha que o melhor seria selecionar dois ou três tópicos realmente prioritários. Não desceu aos detalhes.
6Os afagos no vice: na sua intervenção mais efetiva ao longo da conversa, Michel Temer sugeriu a Dilma que promovesse encontros como o da noite passada com os outros partidos do condomínio governista. A sugestão foi prontamente acatada por Dilma. Sem precisar datas nem formatos, a presidente afirmou que convidará ao Alvorada todas as legendas que a apoiam. Sem exceções. Ao longo da conversa, a presidente brindou Temer com referências elogiosas. Enalteceu-o ao referir-se ao “êxito” da participação do PMDB no governo. Alisou-o ao agradecer a mão estendida do PMDB em Belo Horizonte. Afagou-o ao valorizar a rápida adesão do PMDB no segundo turno da disputa municipal de São Paulo.
72014: embora não haja dúvida de que Dilma será candidata à reeleição, o ano de 2014 não foi mencionado na conversa senão de forma lateral. Em timbre de brincadeira, o ministro petista Aloizio Mercadante (Educação) sugeriu que PT e PMDB esboçassem desde logo o plano sucessório, definindo as alianças nos Estados. O senador Valdir Raupp, presidente do PMDB, deu asas ao chiste: nós ficamos com 23 Estados e deixamos uns quatro para o PT, disse, entre risos. Espremendo-se as intervenções feitas sobre o tema, chegou-se à conclusão de que não convém nem colocar a carroça de 2014 adiante dos bois nem ignorar as evidências de que o jogo começou. Falando a sério, Dilma afirmou que, antes da reeleição, vem o trabalho. Muito trabalho, disse ela, referindo-se aos dois anos de gestão que lhe restam. Soou otimista. Disse que são alvissareiros os indicadores de 2013. Não fez referência explícita à reedição da chapa Dilma-Temer. A manutenção ficou subentendida nas menções benfazejas que ao PMDB e ao vice. O nome de Eduardo Campos, o neopresidenciável do quase ex-governista PSB, não foi citado uma mísera vez no Alvorada.
8Câmara e Senado: a eleição para as presidências da Câmara e do Senado tampouco foi um tema proeminente na conversa. Dilma não disse nada do tipo apoio fulano ou endosso beltrano. Foi como se desse de barato que os próximos presidentes do Congresso serão os líderes do PMDB: Renan Calheiros no Senado e Henrique Eduardo Alves na Câmara. Dilma já torceu o nariz para Renan. Mas o senador estava no Alvorada. E o simples convite funcionou como sinalização de que os óbices desapareceram. Renan não disse palavra. Sobre a Câmara, mencionou-se o acordo escrito que prevê o apoio do PT ao indicado do PMDB. Acordo é coisa para ser cumprida, disse Dilma. Rui Falcão, o presidente do PT, ecoou-a. E o deputado Jilmar Tatto, líder do petismo na Câmara, declarou que , independentemente de acordos, Henrique Alves merece ser alçado à cadeira hoje ocupada por Marco Maia, também presente.
9Henrique Alves: o líder do PMDB teve de deixar o Alvorada antes da sobremesa. Ele agendara um encontro com a bancada do PR. Estava atrasado. Pediu desculpas à anfitriã. Preciso cuidar da minha eleição, afirmou. Nesse instante, Dilma como que explicitou seu apoio ao deputado. Vá mesmo, ela estimulou. Aqui tem poucos votos. E todos já são seus. Antes, Temer fizera um comentário jocoso: o Henrique trabalha tanto que vai chegar à eleição como candidato único. Não vai ter graça. O ministro peemedebista Mendes Ribeiro (Agricultura) devolveu a piada: quando você concorreu como candidato único teve graça, não é mesmo? Dilma gargalhou.
10Bom homor: a Dilma que se exibiu ao PT e ao PMDB na noite do Alvorada é muito diferente da Dilma com que os aliados se habituaram a lidar. Durante todo o encontro, que terminou pouco antes da meia-noite, a presidente destilou um humor raro. Nas poucas vezes em que tratou de projetos que correm no Congresso, Dilma evitou o habitual estilo de mandona. Soou cândida ao tratar da medida provisória que prevê a redução do preço das contas de luz. Manteve a calma ao ser informada de que a Câmara acabara de lhe impor uma derrota no projeto da repartição dos royalties do petróleo. Ela defendera que 100% dos royalties fossem destinados à educação. Os deputados deram de ombros. Não foi possível, disse Henrique Alves, que, em plenário, encaminhara a votação contra a proposta do governo. Dilma deu a entender que sancionará o texto aprovado. Vamos ver o que vem, afirmou, reservando-se o direito de vetar os trechos que julgar mais impróprios. Uma intervenção de Valdir Raupp terminou de comprovar a rendição de Dilma à cordialidade. Em dado momento, o presidente do PMDB insinuou que alguns diretórios estaduais reclamam por mais espaço no governo. Dilma farejou na observação um pedido de ministérios. Noutros tempos, iria à jugular do pidão. No novo formato, atalhou Raupp com um sorriso: Ôpa! Vamos deixar que isso venha como consequência, não como reivindicação, disse, inusualmente lhana. Foram à mesa do Alvorada duas opções de prato: carne e peixe. À mesa, a conversa fluiu amena. Quando Henrique Alves informou que teria de se ausentar para cabalar os votos do PR, Dilma foi, de novo, calculadamente gentil: Antes, vamos fazer um brinde, ela convidou. Quando a gente não tem afinidade, faz discurso. Quando somos parceiros, a gente faz um brinde, acrescentou. As taças foram erguidas pelo “passado e pelo futuro” do relacionamento entre os dois sócios majoritários da aliança. Dilma vê “muito trabalho” pela frente. Mas não parece enxergar nada além de 2014 no fim do seu túnel particular.  Em tempo: Pelo PT, estiveram no Alvorada: Rui Falcão, presidente da legenda; Marco Maia, presidente da Câmara; os líderes Walter Pinheiro, Arlindo Chinaglia, Jilmar Tatto e José Pimentel; e os ministros Aloizio Mercadante (Educação), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência); e Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Pelo PMDB, foram à mesa: o vice Michel Temer; José Sarney, presidente do Senado; Valdir Raupp, presidente do partido; os líderes Henrique Alves, Renan Calheiros e Eduardo Braga; e os ministros Garibaldi Alves (Previdência), Mendes Ribeiro (Agricultura), Moreira Franco (Assuntos Estratégicos) e Gastão Vieira (Turismo). 
Josias de Souza 

Direitos não se negociam, se ampliam


Diante da campanha de setores da mídia e do movimento sindical que, sob a alegação de um hipotético aumento da “competitividade da economia”, se batem pela “flexibilização de direitos”, reiteramos que direitos não se negociam, se ampliam. Este é o nosso compromisso coletivo, enquanto trabalhadores e trabalhadoras em educação e militantes da CUT.
Em defesa da memória histórica, vale lembrar que foi a nossa Central quem comandou a resistência aos ferozes ataques à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) - movidos pelo desgoverno Fernando Henrique Cardoso. Foi a Central Única dos Trabalhadores quem, desde aqueles sombrios tempos, tem estado à frente das maiores mobilizações contra tal disparate. Desnecessário dizer aonde foram parar as economias da Grécia, Espanha e Portugal – bem como os empregos, os salários e os direitos dos trabalhadores – quando seus governos se dobraram ao receituário do capital.
Sempre defendemos – e continuaremos defendendo - a necessidade de acordos para garantir avanços, nunca para retroceder.
Nossa compreensão é a de que a flexibilização de leis que nos garantem um patamar mínimo de direitos, resultado de décadas de greves e duros enfrentamentos, representaria um claro desserviço à classe trabalhadora. Tal avaliação é tanto mais precisa numa conjuntura em que a crise nos países capitalistas centrais, particularmente nos europeus, se traduz em graves ataques à organização sindical e à consequente perda de direitos.
Reafirmamos que o momento exige o fortalecimento da nossa unidade e mobilização para combater a precarização, garantir e ampliar conquistas.
Entre outras reivindicações, precisamos somar forças para defender o respeito ao direito de greve e à data-base do funcionalismo, elementos fundamentais para a melhoria das condições de vida e trabalho, bem como ampliar a pressão pela regulamentação da Convenção 151 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que assegura o direito à negociação coletiva entre trabalhadores públicos e os governos das três esferas - municipal, estadual e federal.
Temos a convicção de que a implementação de tais iniciativas, fomentando o diálogo e a negociação, representará um importante passo não só para o fortalecimento da democracia, como da própria economia nacional. 

Inflação oficial acelera em outubro e sobe para 5,45% em 12 meses


O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial da inflação, subiu 0,59% em outubro, de acordo com dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (7).
Em setembro, a taxa havia subido 0,57%, 0,16 pontos percentuais acima da inflação de 0,41% de agosto.
De janeiro a outubro, a inflação acumula alta de 4,38%. A meta do governo para a inflação este ano é de 4,5%, com banda de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Com esse resultado, o IPCA dos últimos 12 meses ficou em 5,45%, ante 5,28% no acumulado de setembro. O número deste mês está mais próximo da projeção dos analistas para o fechamento deste ano. O levantamento do Banco Central com profissionais do mercado, o boletim Focus, desta semana, indica um IPCA de 5,44% para 2012.
Os preços dos alimentos subiram 1,36%, mantendo o grupo na liderança da alta inflacionária. O maior impacto foi causado pelo arroz, que ficou 9,88% mais caro, contribuindo com 0,06 ponto percentual para o índice, seguido pela carne, em alta de 2,04% e com peso de 0,05 ponto percentual na inflação. Em setembro, o arroz já havia subido 8,21% e a carne 2,27%.
O terceiro maior impacto foi a refeição fora de casa, em alta de 0,70% e com impacto de 0,03 pontos percentuais no índice.
GASOLINA
Seis dos nove grupos que compõem o IPCA tiveram altas maiores em outubro do que em setembro, segundo o IBGE. O grupo Transportes, cujos preços em setembro caíram 0,08%, subiram 0,24% em outubro, por conta do ajuste da gasolina da ordem de 0,75%, depois de ter caído 0,13% no mês anterior.
O segmento vestuário passou de 0,89% em setembro para 1,09% em outubro e os artigos de residência pularam de 0,18% para 0,37% de um mês para outro.
Já a inflação do grupo Habitação caiu de 0,71% em setembro para 0,38% em outubro, com a queda de todos os índices que compõem o segmento: taxa de água e esgoto (de 0,92% em setembro para 0,63% em outubro); aluguel residencial (de 0,61% para 0,51%); gás de botijão (de 1,27% para 0,49%); condomínio (de 1,19% para 0,29%) e energia elétrica residencial (de 0,83% para -0,24%).  

Folha de São Paulo