domingo, 18 de setembro de 2011

O risco do voluntarismo

A presidente Dilma Rousseff e sua equipe precisam passar das palavras ao atos para manter de pé a mudança na política econômica. Merece crédito a decisão de tentar levar o Brasil a conviver com taxas de juros mais civilizadas. Mas há limites para o voluntarismo.
A guinada tem um custo claro: Dilma precisará apertar mais os cintos. Ou seja, cortar gastos num grau maior. E isso não será feito sem dor política e social.
Reajustes salariais para o funcionalismo precisarão ser postergados. Investimentos em obras de infraestrutura também. Haverá reflexos sobre programas sociais, como o "Minha Casa, Minha Vida", e os projetos de expansão de saneamento básico.
É possível manter o colchão social criado pelo governo Lula e avançar no combate à pobreza extrema, o que custa barato. No entanto, não dá para ir muito além. Pintar um cenário róseo para o que resta de 2011 e o próximo ano não mudará o mundo real.
Apesar de cumprir seus papéis públicos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, têm abusado do discurso otimista. Mantega é afinado ideologicamente com teses desenvolvimentistas, que sempre pregaram que não se pode pagar um custo muito alto em termos de crescimento para manter a inflação em patamar baixo. Tombini, reza o folclore político de Brasília, tem até temor físico de Dilma.
Aliás, viraram conversa de cafezinho no Congresso Nacional as histórias de broncas homéricas da presidente em auxiliares e de certa autossuficiência nos variados temas da administração pública.
Mas interessa aqui falar da política econômica. Uma parte significativa do mercado aposta na alta da inflação e do dólar de um modo que pode ser perigoso para a saúde econômica do Brasil. Se a inflação ultrapassar o teto da meta, que é de 6,5% ao ano de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), haverá pouca margem para chegarmos a uma menor taxa real de juros.
A Europa e os EUA vêm dando sua contribuição, cada um nas suas circunstâncias, para o Brasil apostar num menor crescimento da economia mundial. É essa avaliação pessimista que tem servido de escudo para justificar a mudança na política econômica.
No entanto, é preciso relembrar que um menor rigor monetário demanda um maior rigor fiscal, o que tem potencial para deixar insatisfeitos aliados no Congresso, governadores, prefeitos e os setores da sociedade civil com maior capacidade de mobilização.

Dedos cruzados

Importante: resta torcer para que esteja errada a aposta do mercado contra a política econômica do governo.

Enfrentando o dragão e o tigre

É correta a decisão de elevar o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos importados e montadoras que não atenderem à exigência de fabricar carros com o mínimo de 65% de componentes nacionais.
O Brasil precisa parar de exportar empregos. Para o consumidor, soa ruim. Para a sociedade, faz um bem danado. A pobreza cresceu nos EUA porque Washington descuidou de seus empregos enquanto priorizava a "guerra ao terror".

Kennedy Alencar

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