domingo, 27 de novembro de 2011

CNTE denuncia

Comissão de Finanças da Câmara cede à pressão da Fazenda e dos governadores e rebaixa reajuste do piso.
Em decisão que contraria o processo de evolução do piso salarial profissional nacional do magistério (PSPN) e os fundamentos constitucionais de financiamento dessa política pública, a Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados aprovou, no último dia 23 de novembro, parecer do dep. José Guimarães (PT-CE), que estabelece o INPC/IBGE como único índice de reajuste anual do PSPN.
Para os cerca de dois milhões de profissionais do magistério público da educação básica no país, essa deliberação da CFT/Câmara requerida pela Fazenda Federal e por governadores e prefeitos, não só anula a possibilidade de valorização do piso e das carreiras profissionais - por meio de medida que contraria, inclusive, preceito constitucional - como dá guarida aos entes federados que, desde a vigência da norma federal lutam, deliberadamente, inclusive por meio de ações judiciais no Supremo Tribunal Federal, contra a Lei 11.738.
Em 2008, após ano e meio de tramitação do PL 619/07, o presidente Lula sancionou a Lei do Piso e sua sucessora, a exemplo de toda base aliada do Governo Federal, utilizou-se dessa importante conquista da educação para angariar prestígio e votos não só dos/as trabalhadores/as em educação como também de grande parte do eleitorado brasileiro.
No entanto, paradoxalmente, desde que o piso entrou em vigor, a CNTE e seus sindicatos filiados têm precisado lutar pelo cumprimento dos preceitos da Lei - insistentemente descumpridos por gestores públicos -, por entender que o piso é o primeiro passo rumo à efetiva valorização de uma categoria profissional castigada ao longo de décadas, e por que não dizer séculos! Prova dessa luta está expressa nas 16 greves estaduais e nos inúmeros outros movimentos paredistas municipais, deflagrados ao longo do ano de 2011, em protesto aos desrespeitos à lei federal.
Ainda sobre as greves, importante frisar que, em nenhuma delas, as administrações públicas conseguiram comprovar a falta de recursos para o pagamento do piso, haja vista o MEC não ter utilizado os cerca de R$ 1 bilhão que dispõe para complementar os vencimentos iniciais da categoria. Também o Supremo Tribunal Federal, no julgamento de mérito da ação direta de inconstitucionalidade (ADI 4.167), rechaçou o argumento dos governadores de escassez de recursos para cumprimento do piso, tanto por falta de provas como por considerar que as administrações públicas tiveram tempo suficiente, desde a sanção presidencial, para se adaptarem à norma. Ademais, o STF também foi taxativo quanto à constitucionalidade do piso, que precisa, por óbvio, ter sua valorização vinculada à principal fonte financiadora - o Fundeb.
Lembramos, por oportuno, que o Substitutivo do Senado, acordado entre o MEC e as entidades da educação, e que mantém a perspectiva de aumento real do valor do piso, havia sido aprovado, por unanimidade, nas Comissões de Educação; de Trabalho, Administração e Serviço Público, além da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, de forma que a CFT foi a única Comissão a recusá-lo por razões meramente de economia fiscal.
Por estas razões, a CNTE manifesta sua absoluta insatisfação com a decisão da CFT/Câmara dos Deputados, ao tempo em que procurará formas de reverter essa votação que compromete qualquer possibilidade de melhoria das condições de vida e trabalho do magistério público da educação básica.
Enfatizamos, por fim, que essa decisão da CFT/Câmara ocorre simultaneamente à pressão que o relator do PNE tem sofrido para não propor nenhum percentual de investimento do PIB na educação acima de 7%. Contudo, o indicativo do Governo Federal não atende às demandas educacionais, a começar pela que exige valorização salarial do magistério, razão pela qual a sociedade reforçará a mobilização pelos 10% do PIB para a educação.

CNTE

Consumismo com álibi!



Blog Josias de Souza

Meu reino por um jornal a favor!



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Quem faz a cabeça do mundo

Os Estados Unidos já não são a potência imbatível de antes, há até quem diga que sua economia em breve será ultrapassada pela da China (é uma bobagem, eu sei, mas diverte o público), seu sistema político tornou-se claramente disfuncional, não são mais capazes de resolver problemas com seus "marines" ou com seu poder econômico. OK, tudo isso é verdade, mas há um território no qual os Estados Unidos continuam insuperáveis: suas universidades são as que fazem a cabeça do mundo.
Demonstração clara desse fato, para ficar apenas em acontecimentos recentes: três dos "newsmakers" que foram ou ainda são notícia na atualidade têm em comum o fato de terem sido formados em universidades norte-americanas. Um é Abdurrahim el-Keib, novo primeiro-ministro da Líbia pós-Gaddafi; outro é o primeiro-ministro grego Lucas Papademos; e o terceiro, o novo presidente do Conselho italiano de Ministros, Mario Monti.
Cobrem áreas do mundo diferentes (o norte da África e o sul da Europa), além de terem background também diferente.
El-Keib, por exemplo, é mestre em engenharia elétrica pela Universidade da Carolina do Sul e doutor na mesma área pela Universidade da Carolina do Norte, na qual defendeu uma tese que pouco ou nada tem a ver com o posto que agora ocupa: "planejamento de compensação de capacitadores e operação para alimentadores de distribuição primária" (se dependesse disso, eu jamais poderia ser primeiro-ministro de coisa alguma, nem da minha rua).
O grego Papademos é, digamos, parente intelectual do líbio: depois do grau de mestre em engenharia elétrica, obteve o doutorado em economia no mitológico MIT (Massachusetts Institute of Technology). Além disso, ensinou em duas das mais lustrosas grifes da academia norte-americana (Columbia e Harvard). Aliás, seu antecessor, George Papandreou, também foi educado nos Estados Unidos (Amherst).
Por fim, Mario Monti estudou em Yale, outro templo badaladíssimo.
A revista "Foreign Policy" aproveitou a coincidência para fazer um apanhado de líderes mundiais que estudaram nos Estados Unidos.
Tiveram que selecionar 10 deles, porque a lista deve ser imensa. Mesmo uma seleção tão restrita mostra diversidade: vai de Rafael Correa, presidente do Equador, a Ellen Johnson Sirleaf, presidente da Libéria e Nobel da Paz deste ano.
A esquerda e os amantes da teoria da conspiração dirão que os Estados Unidos usam a qualidade de seu sistema educacional para atrair talentos e promover neles uma lavagem cerebral para que se tornem incondicionais do "american way of life". Eu que sou franco-atirador e inimigo número 1 das teorias conspiratórias não tenho tanta certeza.
Não digo que seja mentira, mas cabe uma hipótese alternativa: o norte-americano confia tanto no seu modelo e tem tanta certeza de que é o melhor jamais inventado que o simples mergulho que nele façam estudantes estrangeiros é suficiente para justificar a abertura de suas academias para o mundo externo.
Se há lavagem cerebral, nem sempre funciona, de que dá prova o presidente Rafael Correa, crítico feroz dos Estados Unidos, apesar de ter obtido o grau de mestre e, depois, Ph.D. em economia na Universidade de Illinois, sede de Urbana-Champaign.
Mas convém lembrar que toda a retórica anti-imperialista de Correa não foi suficiente para que abandonasse a dolarização da economia equatoriana, com o que seu país cede parte da soberania justamente para a moeda do império.
Teorias e hipóteses à parte, o que fica é o fato de que há mais escolas de excelência nos Estados Unidos do que em qualquer outro país. Logo, atraem mais que qualquer outro as elites de todos os países, especialmente daqueles em que não há uma confiança assentada na qualidade de suas próprias universidades.
Em sendo assim, é natural que a narrativa norte-americana da história, da economia, das ciências humanas em geral, prevaleça sobre outras, para o bem ou para o mal, ao gosto de cada qual.

Clóvis Rossi

Um trabalho para o Trabalho!



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O demônio do meio dia e de todas as horas

"A depressão é a solidão dentro de nós que se torna manifesta e destrói não apenas a conexão com os outros, mas também a capacidade de estar apaziguadamente apenas consigo mesmo.
"Bastou postar esta semana no Facebook a frase acima para receber dezenas de comentários e mensagens e desabafos sobre o que já foi chamado de mal do século - não sei se deste ou do anterior -, e também criativamente definido pelo jornalista Igor Gielow como a "velha senhora", entidade sinistra que fica bafejando seu hálito gélido e fétido na nuca de suas vítimas.
E quantas vítimas!
A frase supra foi extraída do início do livro "O Demônio do Meio Dia", autoria do jornalista americano Andrew Solomon. Editado pela primeira vez em 2001 (aqui em 2002 pela Objetiva), o volume ganhou o National Book Award e foi finalista do Pulitzer, além de ter recebido mais uma dúzia de láureas importantes mundo afora.
Portanto faz dez anos que foi escrita a obra mais esclarecedora, para o grande público, sobre a depressão. Dez anos, justamente o período em que aprendi a conviver com esta "senhora" tão desprezível. Desprezível mas de jeito nenhum desprezável, porque, volta e meia, eis ela por aí, assim como ocorreu dias atrás.
Mais uma vez, lá se foi a conexão comigo mesmo e com quem quer que seja, pelo menos a conexão aquela que faz a vida, de alguma maneira, valer a pena. Porque, ainda para se referir a Solomon, o sentimento mais comum do deprimido é o da insignificância.
E como que para justificar o codinome, trata-se de um demônio que não ataca somente na calada da noite, como a maioria dos pecados, pesadelos e culpa, expondo-se desavergonhadamente a qualquer hora, inclusive à pela luz do meio dia.
Mas transcorridos dez anos do livro e da convivência, eis que se aprende uma coisa absolutamente básica: é terrível, mas passa pois como diria um amigo deprimido e paradoxalmente bem-humorado, "se até uva passa...".
Se nesta sua obra seminal Solomon descreve, perscruta, disseca e analisa em perspectiva a doença e suas nuances, lembrando corretamente que é uma desgraça que veio para ficar, mas pode ser controlada, ele ali já delineia como é possível levar este controle (por meio de medicamentos, terapias, atitudes e autocontroles) a níveis substancialmente razoáveis, com momentos prolongados em que simplesmente se esquece de que, ir embora, mesmo, ela nunca vai de fato.
Recordo já ter definido aqui que o deprimido deve observar a depressão em seus momentos de ausências - que podem ser fugazes ou bem prolongados - como quem vigia uma casa ou um móvel que recebeu tratamento contra cupins: ao primeiro sinal de pó pelos cantos, alerta vermelho, os bichinhos estão de volta!
E não há dúvida que nesta última década aumentou muito a capacidade das pessoas portadores, parentes e, sobretudo médicos - de perceber o "pozinho", os sintomas que levam ao diagnóstico correto deste transtorno.
Por conta disso, não surpreende que esteja ocorrendo um aumento estatístico de doenças mentais em geral e, claro, da depressão também.
Veja que na Folha da última sexta-feira estava lá: no primeiro semestre deste ano aumentou em quase 20% o número de concessões de auxilio doença pelo INSS a trabalhadores acometidos de transtornos mentais, liderando a fila o estresse e a depressão (condições que muitas vezes se confundem totalmente). Leia a matéria na íntegra.
O número é simplesmente quatro vezes maior do que o total dos demais motivos de afastamento - acidentes, problemas cardíacos etc.
Como a reportagem de Érica Fraga e Venceslau Filho deixa claro, há duas linhas de raciocínio a explicar isso: para uns, seria apenas mais uma onda de doenças trabalhistas, como se a tendência agora fosse ficar deprimido, por conta de motivos diversos, como as maiores exigências intelectuais do trabalho no mundo moderno. Para outros, como o pesquisador da Universidade de Brasília Wanderley Codo, com quem eu concordo vivamente, o que ocorre é o seguinte: o diagnóstico da depressão tem se tornado cada vez mais preciso.
O que no passado já foi inexplicável ou tratado como "preguiça mental" ou "esgotamento nervoso" ou frescura ou diversas outras coisas difusas, hoje tem não apenas diagnóstico, mas tratamento específico e uma série de outras recomendações que podem resgatar muita gente do limbo em que patinam.
Detalhe: também nunca como antes, hoje é muito mais fácil a pessoa descobrir por meios próprios (amigos, mídia e, sobretudo internet) que tem depressão e buscar tratamento especializado, o que explica de outro modo o aumento dos casos.
Menos mal, e antes tarde do que nunca, este é o lema ideal aos deprimidos e também desta coluna, que frequentemente trata desse problema, difundindo informações que possam esclarecer e ajudar pessoas a viver mais e melhor.
Se for o seu caso e você está descobrindo isso agora, bem vindo ao clube!

Luiz Caversan

A outra mancha!



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Parece brincadeira de mau gosto

Teoricamente (teoricamente, veja bem) José Serra teria todas as condições técnicas de ser um bom prefeito de São Paulo. Até tem condições razoáveis de vencer. Mas ainda imaginá-lo candidato parece uma brincadeira de mau gosto.
O problema é simples: ele não tem a menor vontade de ser prefeito. Se eventualmente aceitar é só porque não tem outra alternativa, uma espécie de prêmio de consolação.
Já não tinha na primeira eleição, quando descumpriu a promessa de ficar até o final do mandato. Muito menos agora.
Será que São Paulo, uma cidade com tantos problemas, merece um prefeito desestimulado e nostálgico de algo que poderia ser e não foi? Nesse caso, nem Serra estaria se respeitando. E volto a dizer aqui que ele tem um ótimo currículo.
Não é possível que os tucanos, a começar do governo Alckmin, tratem São Paulo com tamanho desprezo.
Melhor perder com dignidade do que ganhar com humilhação.
PS - Dizem que Serra desmoralizou o documento que lhe dei para assinar com o compromisso de não deixar a prefeitura. Errado. Aquele pedaço de papel é sempre lembrado como um jeito de valorizar a cidade de São Paulo.
E, como faço todas as eleições, vou convidar todos os candidatos a assiná-lo.

Gilberto Dimenstein

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

ANP suspende atuação da Chevron no Brasil


A ANP (Agência Nacional do Petróleo) determinou nesta quarta-feira a suspensão das atividades de perfuração da Chevron no Campo de Frade, até que sejam identificadas as causas e os responsáveis pelo vazamento de petróleo e restabelecidas as condições de segurança na área.
A medida significa a suspensão de toda atividade de perfuração da Chevron do Brasil no território nacional.
Novas autorizações só poderão ser concedidas quando as causas do vazamento forem identificadas e as condições de segurança na área de Frade forem restabelecidas, decidiu a diretoria da agência em reunião extraordinária.
A petroleira americana explora 12 poços no campo de Frade, entre eles o que apresenta vazamento de óleo desde o dia 8 de novembro.
A ANP rejeitou ainda pedido da concessionária para perfurar novo poço no Campo de Frade com o objetivo de atingir o pré-sal.
A diretoria da agência informou que a perfuração de reservatórios no pré-sal "implicaria riscos de natureza idêntica aos ocorridos no poço que originou o vazamento, maiores e agravados pela maior profundidade".
A medida não alcança as atividades necessárias ao abandono definitivo do poço com vazamento e a restauração das suas condições de segurança, informou a agência.
A Chevron informou que ainda não foi notificada sobre a decisão, e vai seguir todas as normas e regulamentos do governo brasileiro e suas agências.

DESCULPAS

O presidente da Chevron no Brasil, George Buck, pediu desculpas ao povo brasileiro nesta quarta-feira, em audiência pública na Câmara.
Buck afirmou que a prioridade máxima da empresa foi evitar ferimentos e danos a pessoas, depois a proteção ao meio ambiente, com o controle da mancha de óleo no mar. Em seguida, a preocupação foi conter a fonte do vazamento. Segundo ele, o vazamento foi contido em quatro dias, e o fluxo atual é "residual".
O presidente afirmou que qualquer vazamento é "inaceitável", mas que o óleo que ainda escapa da superfície do solo marinho da região está depositado nas rochas, e está seguindo seu fluxo.

TCU

O TCU (Tribunal de Contas da União) decidiu nesta quarta-feira investigar a ANP (Agência Nacional do Petróleo) após o vazamento.
A auditoria, proposta pelo ministro Raimundo Carreiro, pretende saber se a agência tem ações preventivas de controle para este tipo de vazamento e se está fiscalizando os planos de emergência das petrolíferas.
Além disso, o tribunal também pediu uma auditoria na Petrobras para saber se ela será ressarcida pelos gastos feitos no apoio à Chevron para controlar o vazamento.

MULTA

O presidente da Petobras, José Sérgio Gabrielli, disse nesta quarta-feira que a multa em caso de acidentes em operações petrolíferas são de responsabilidade do operador, mas que os sócios podem ter de arcar com uma fatia da punição dependendo dos contratos entre as partes.
Gabrielli não quis relevar se a Petrobras terá que pagar o referente à sua participação no campo de Frade, onde ocorreu o acidente da Chevron há duas semanas, mas ressaltou que o diálogo entre os sócios nas empresas de petróleo é permanente.
A estatal é sócia da Chevron no campo de Frade. A empresa já foi multada em R$ 50 milhões pelo Ibama, mas pode ter de pagar até R$ 260 milhões em punições.

PRAIAS

O governo do Rio considera haver, ainda, risco de o óleo que vaza na bacia de Campos chegar à costa. Técnicos do Inea (Instituto Estadual do Ambiente) consideram haver quantidade relevante de óleo em partes mais fundas e que esse material pode se dirigir a praias próximas por meio de correntes marítimas.
A mudança do clima pode contribuir a isso. Segundo o o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a alteração na direção dos ventos de leste contrária à costa para o sul pode favorecer a aproximação da mancha.
O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, disse que, como o petróleo que vazou é pesado, pode não subir imediatamente, transformando-se em pelotas que podem ser carregadas para diferentes pontos.
"Em duas semanas a um mês, há o risco de essas bolas de piche aparecerem em praias de Arraial do Cabo, Macaé [ambas no Rio] e em Ubatuba [SP]."

SOFIA FERNANDES
CIRILO JUNIOR

Mancha!



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E-geladeira

Agora que o hardware aberto e a internet das coisas deixaram de ser coisa de mangá e passaram a fazer parte do cotidiano, algumas tecnologias de convergência parecem ter finalmente saído da fase de protótipo para entrar no mercado.
Isso não significa, naturalmente, que todas as novas tecnologias resistirão ao cruel darwinismo digital. Não é de hoje que a TV tenta criar, sem sucesso, experiências interativas através de redes telefônicas, satélites e cabos diversos. Ainda não é possível prever se a experiência de buscar um vídeo no YouTube ou consultar uma informação tão pessoal quanto um home banking, loja online ou perfil do Facebook a partir de um ambiente público feito a TV da sala vingarão, nem se um rádio online será comercialmente viável em um carro em movimento --ou mesmo que vantagens essas novas formas de comunicação terão sobre as tecnologias que pretendem substituir. O certo é que, como na virada do século, em que a banda larga era uma novidade controversa e não se imaginavam Twitters e Facebooks, estamos às margens de outra tsunami de novidades tecnológicas com grande poder transformador e resultados imprevisíveis.
É possível, no entanto, imaginar alguns produtos que, como o videocassete, o DVD e o Walkman, reunam tecnologias conhecidas para criar uma inovação sem precedentes. A internet, por exemplo, pode levar novas formas de interação a aparelhos conhecidos que, embora bastante úteis, mudaram pouquíssimo desde que foram inventados.
Um bom exemplo é a geladeira. Chamada de Kühlschrank em alemão, o que quer dizer, muito apropriadamente, um "armário frio", este eletrodoméstico sofreu pouquíssimas modificações de projeto desde sua invenção, no início do século 18. O descongelamento automático, o freezer separado do conjunto e a questionável torneira de água e gelo do lado de fora da porta são bem pouco para mais de trezentos anos de existência. Mesmo assim, quase não há insatisfeitos com o trambolho que têm em suas cozinhas, e são raros aqueles capazes de imaginar versões alternativas. A tal ponto de geladeiras que tenham quatro ou mais compartimentos de refrigeração (além, é claro, da fatídica torneirinha) sejam consideradas modernérrimas. Conectá-las à internet parece um Frankenstein geek, coisa de nerd. E é, pelo menos por enquanto.
Geladeiras on-line são uma piada tão velha quanto a web, já que não faz o menor sentido acessar um e-mail a partir delas. Mas é possível usá-las para outros fins a partir de tecnologias bastante conhecidas hoje. Para fazer um exercício criativo, consideremos a convergência de redes sociais, análise de métricas, supermercados e RFID. Se o último termo é estranho para você, pense nele como um pequeno chip, muito barato, que emite um sinal de rádio, individual como um código de barras, identificável por antenas especiais. E conecte sua geladeira convergente à rede.
Agora avance algumas décadas no tempo e conheça um possível refrigerador usado por aqueles que serão um dia seus netos. Ele deverá ser parecidíssimo com o seu. Talvez tenha algumas portas a mais, talvez mantenha a torneirinha, pouco importa. Sua diferença estará nas antenas internas, no cabo de conexão e no tamanho. Ele será oferecido em vários formatos, a maioria bem menor do que os utilizados hoje.
O eletrodoméstico, pouco importa seu tamanho e funcionalidade, deverá ser gratuito, oferecido como parte do contrato de fornecimento estabelecido entre seu usuário e o fornecedor de alimentos. Precisará ser instalado e configurado, e passará por um processo de aprendizado em que se adaptará aos hábitos de consumo da casa, integrando-os a outras informações de uso de cartão de crédito e hábitos diários. Ao final do período de adaptação, o modelo genérico deverá ser substituído por outro, menor, adaptado às necessidades mensuradas pelo sistema e recomendadas como adequadas para todos. A mensalidade garantirá o abastecimento básico, mas poderá ser facilmente expandida para módulos de dietas, experiências gastronômicas, enfermidades, estações do ano, datas especiais e festas. Para estas últimas, uma geladeira adicional, já configurada para os hábitos e preferências dos convidados, poderá ser fornecida.
As embalagens de cada produto usado na geladeira serão automaticamente identificadas e poderão trocar de cor quando sua validade estiver próxima do vencimento. As receitas prontas e produtos in natura deverão ser armazenados em vasilhas que substituirão as centenárias embalagens Tupperware e Pyrex, e cujo conteúdo e data de validade, se não identificados, poderão ser fornecidos pelo usuário.
Fascinantes, assustadores e inevitáveis, os novos eletrodomésticos deverão coletar uma quantidade inimaginável de dados a respeito de seus "donos", a ponto de tornar a privacidade um mito distante, inadequado e desconfortável quanto a liberdade de escolha. No admirável mundo novo do mercado global, os inconformados serão, como sempre, classificados como selvagens bárbaros.
Como bem definiu o romancista japonês Haruki Murakami, é bem provável que a mais importante revelação histórica seja que "na época em que a novidade surgiu ninguém sabia o que estava por vir".

Luli Radfahrer

Lulipoaspiração!



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Dois dedos na cara da banca

Por fim, duas personalidades do coração do establishment apontam o dedo para a banca, responsabilizando-a pelo que a presidente Dilma Rousseff chamaria de "malfeitos".
Começo por quem o fez em inglês, que repercute mais, ainda por cima tendo sido publicado pelo "Financial Times", que não é exatamente o porta-voz dos indignados ou simpático ao PSOL, por exemplo.
Em entrevista ao jornal britânico, Robert Jenkins acusou a banca de ser "intelectualmente desonesta e potencialmente danosa", por fazer o diabo para aguar a nova regulação do setor, determinada lá atrás pelo G20, como consequência da crise de 2008. Crise causada, é sempre bom lembrar nos tempos que correm, não porque os governos estavam excessivamente endividados mas porque o sistema financeiro se transformou em um cassino que faz apostas realmente daninhas, não apenas potencialmente.
Qualifiquemos Jenkins: ele é um dos 11 membros do Comitê de Política Financeira do Reino Unido, incumbido de proteger a estabilidade financeira. Antes, havia sido gerente de investimentos de uma instituição financeira, a F&C Asset Management.
Conhece, portanto, os dois lados do balcão. Conhece o suficiente para lamentar que "uma profissão que deveria se caracterizar pela integridade e a prudência, agora apoia uma estratégia de lobby que explora mal-entendidos e o medo".
Jenkins está se referindo à pressão dos bancos para escapar das novas regras de capital e liquidez, denominadas no jargão internacional de Basileia 3, por terem sido elaboradas nessa cidade suíça que abriga o BIS (Banco de Colocações Internacionais, o banco central dos bancos centrais).
Passemos agora ao dedo brasileiro dessa história, que explica o lobby e a mentira da banca, sob assinatura de outro nome de impecável credenciais pró-mercado e pró-establishment, o do professor Antonio Delfim Netto, em seu artigo desta quarta-feira para a Folha-papel.
Delfim refere-se, acima de tudo, à resistência da banca à regulação aprovada nos Estados Unidos, mas seu raciocínio aplica-se também ao esforço global do sistema financeiro contra os novos controles.
Diz Delfim que "James Dimon, o cínico e competente presidente do JP Morgan, não tem pudor em afirmar que o controle sugerido pela lei 'reduzirá o crescimento econômico' e deve ser considerado 'antiamericano porque coloca os EUA numa situação competitiva desvantajosa". Acrescenta, irônico: "Só se for em relação aos 'predadores europeus' que, ele sugere, continuarão com as mãos livres!".
O ex-deputado conselheiro informal tanto de Lula como de Dilma lembra que "a American Bankers Association e o Institute of International Finance dão suporte pretensamente científico" à afirmação de Dimon. Segundo Delfim, o sistema financeiro gastou mais de US$ 90 milhões com "lobbiyng" em 2009; em 2010, mais do que US$ 100 milhões e, em 2011, até hoje, US$ 50 milhões.
Em seguida, Delfim destroi a mentira dos lobbies da banca, ao afirmar: "Felizmente, o BIS acaba de publicar um estudo tranquilizador produzido por representantes de bancos centrais de 15 países o do BC [do Brasil] foi feito pelo competente Marcos Ribeiro de Castro, que desmonta completamente os argumentos do custoso 'lobby'".
Fecha assim: "O efeito da regulação será modestíssimo na taxa de crescimento (menos de 0,01% por ano durante os anos de sua implantação), mas produzirá substancial redução dos riscos de destruidoras crises financeiras".
Sei que regulação financeira não é um assunto tão emocionante quanto o gol de Adriano no domingo, mas é minha obrigação dizer que é bem mais relevante e vai muito além da contabilidade da banca. Trata-se de definir se o mundo, quando voltar a crescer, quer ser democrático, em que os poderes regularmente eleitos impõem os devidos controles à banca, ou se continuará sendo o vale-tudo que se viu em 2008/2009 e volta a se dar agora.

Clóvis Rossi

Governo estuda distribuir lucro do FGTS entre os trabalhadores


O governo estuda distribuir anualmente parte dos lucros do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) entre os trabalhadores para aumentar a remuneração do fundo, que, como no ano passado, ficará abaixo da inflação em 2011.
Com o aval do Conselho Curador do FGTS, a Caixa Econômica Federal concluiu um estudo que prevê a distribuição anual de até metade do resultado do fundo entre todas as contas com saldo em 31 de dezembro.
Estima-se que isso poderia até dobrar a atual remuneração, que é de 3% (juros) mais a variação da TR no ano.
Como o rendimento do fundo é previsto na lei que criou o FGTS, qualquer mudança tem de ser aprovada pelo Congresso Nacional.
Segundo a Caixa, o Ministério do Trabalho está analisando o estudo e avalia enviar um projeto de lei para o Legislativo com a proposta. De acordo com o ministério, porém, não há decisão sobre o assunto na pasta ainda.
No ano passado, o FGTS teve lucro de R$ 5,4 bilhões. O resultado é o retorno dos investimentos, cujos recursos são usados principalmente em financiamentos de habitação, incluindo o programa Minha Casa, Minha Vida, e para financiar obras de infraestrutura e saneamento.
Pela proposta em estudo, anualmente o conselho curador determinará o percentual que o trabalhador receberá como "dividendo", que incidirá sobre o saldo existente ao final de cada ano.
Se a regra já estivesse em vigor neste ano, até metade dos R$ 5,4 bilhões do lucro do ano passado seria dividida entre os mais de 200 milhões de contas abertas no momento das quais 90 milhões receberam depósitos nos últimos 12 meses.

NOVAS PERDAS

Há alguns anos, representantes dos trabalhadores reclamam da baixa remuneração do FGTS. O governo vem estudando formas de aumentar os rendimentos sem comprometer a estabilidade do fundo.
Neste ano, as contas do FGTS renderão 4,29% (TR de 1,2552% mais 3%), segundo cálculos de Mario Avelino, presidente da ONG Instituto FGTS Fácil. Como o IPCA deverá ficar em 6,5%, as contas dos trabalhadores deixarão de receber R$ 21 bilhões apenas neste ano, diz Avelino.
Uma das propostas avaliadas era atrelar a remuneração à inflação. A alternativa, contudo, enfrenta resistência por aumentar a indexação da economia e potencialmente encarecer financiamentos com recursos do FGTS.
A proposta de distribuição de lucros ganhou força justamente por não criar uma amarra ao desempenho do fundo.

LORENNA RODRIGUES

Governo aceita três fundos de previdência para servidores

O governo cedeu ao apelo de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e aceitou criar três fundos de previdência diferentes: um para os servidores do Executivo, um para os do Legislativo e outro para os do Judiciário.
Projeto que deve ser votado ainda este ano pela Câmara previa um único fundo para os Três Poderes. A mudança de posição do Executivo foi anunciada nesta quarta-feira, durante reunião entre os líderes da base aliada, o ministro Garibaldi Alves (Previdência) e Nelson Barbosa (secretário-executivo da Fazenda).
"Serão três fundos com gestões separados para contemplarmos a autonomia dos Três Poderes, assim como queriam alguns deputados e o Judiciário", resumiu Garibaldi Alves. "Nosso entendimento inicial era que com apenas um fundo para todos os funcionários teríamos uma economia maior, mas o argumento de que isso poderia gerar uma "deseconomia" na gestão nos convenceu", disse Barbosa.
Também houve acordo no modo de gestão do fundo. O projeto original dizia que ele deveria ser terceirizado. Pelo entendimento, no entanto, ele poderá ter a gestão dos próprio participantes, podendo tornar-se menos independente e mais politizada.
A principal polêmica com relação ao texto, no entanto, permanece. O governo não abre mão de manter em 7,5% o teto de contribuição da União no fundo. Partidos da base aliada, incluindo o próprio PT, querem aumentar essa alíquota para 8,5%.
"Entendemos que 7,5% é suficiente, já atende a preocupação dos servidores. Estamos mostrando com números que não precisa de mais", afirmou Barbosa. "Queremos fazer justiça previdenciária. Alíquotas maiores resultaria em uma diminuição dos recursos disponíveis para outras atividades", completou.
Aprovado em 2003, o fundo não foi regulamentado ainda. Ele criará um novo modelo de aposentadoria para o funcionalismo federal, semelhante ao do setor privado.
Pela proposta o servidor terá uma aposentadoria paga pela União até certo valor (R$ 3.691,74 em números atuais). Para ganhar mais, terá de contribuir para um fundo de previdência complementar. A nova regra irá valer só para servidores federais contratados após sua aprovação.
Os 950 mil aposentados e pensionistas na União geram um deficit anual de R$ 57 bilhões. No INSS, com mais de 20 milhões de beneficiários, o deficit é de R$ 35 bilhões.

MARIA CLARA CABRAL

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Corregedoria investiga enriquecimento de 62 magistrados


O principal órgão encarregado de fiscalizar o Poder Judiciário decidiu examinar com mais atenção o patrimônio pessoal de juízes acusados de vender sentenças e enriquecer ilicitamente, informa reportagem de Frederico Vasconcelos e Flávio Ferreira, publicada na Folha desta segunda (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).
A Corregedoria Nacional de Justiça, órgão ligado ao Conselho Nacional de Justiça, está fazendo um levantamento sigiloso sobre o patrimônio de 62 juízes atualmente sob investigação.
O trabalho amplia de forma significativa o alcance das investigações conduzidas pelos corregedores do CNJ, cuja atuação se tornou objeto de grande controvérsia nos últimos meses.
Associações de juízes acusaram o CNJ de abusar dos seus poderes e recorreram ao Supremo Tribunal Federal para impor limites à sua atuação. O Supremo ainda não decidiu a questão.

Frederico Vasconcelos e Flávio Ferreira

Em Belém, carreata pela divisão do Pará é recebida com vaias

A primeira carreata realizada pelos defensores da divisão do Pará, em Belém, na manhã deste domingo (20), foi recebida com vaias e hostilidades pelos moradores da capital paraense.
Dois trios elétricos conduziam uma fila de cerca de 50 carros, que empunhavam bandeiras com a palavra "Sim" e estampavam adesivos a favor da divisão.
Ao passar por duas das principais praças da cidade, a Batista Campos e a da República, a carreata foi hostilizada por pessoas que exibiam a bandeira do Pará e criticavam a ideia da divisão.
A resistência à carreata do "Sim" foi articulada pela campanha contra a divisão, que passou antes no trajeto previsto e distribuiu material.
Nessas duas praças, houve discussões entre os lados contrários, insultos verbais e até hostilidades. Pessoas arrancaram bandeiras do "Sim" e pisaram sobre elas.
A campanha contra a divisão chegou a mobilizar também um trio elétrico para ir de encontro à carreata. Sabendo disso, os defensores da divisão mudaram o trajeto para evitar o encontro.
No próximo dia 11, o Pará vai às urnas votar se deseja a criação de mais outros dois Estados a partir de seu território: Carajás (sudeste) e Tapajós (oeste).
Segundo pesquisa Datafolha divulgada no último dia 11, 80% dos eleitores do Pará remanescente são contra Carajás e 77%, contra Tapajós.
Em todo o Pará, porém, os votos contra a divisão somam 58%, enquanto há 33% a favor. Os favoráveis concentram-se nas regiões que querem se separar.

AGUIRRE TALENTO

Governo esconde supersalário de servidor


O governo ignorou neste ano um decreto presidencial que manda tornar públicos os supersalários pagos a servidores do Poder Executivo.
O decreto 3.529, baixado no ano 2000 e ainda em vigor, manda o Ministério do Planejamento divulgar a cada quatro meses várias informações, como o maior e o menor salários pago em cada repartição.
Mas o decreto foi cumprido pela última vez em 18 de janeiro de 2010, quando o governo apontou casos de servidores que recebiam até R$ 12 mil por mês além do teto previsto pela Constituição.
Não foram divulgados nomes, mas o governo apontou os valores e os órgãos em que os servidores trabalhavam.
O teto salarial previsto pela Constituição é o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal, hoje R$ 26,7 mil.
Mas Executivo, Legislativo e Judiciário adotam critérios diferentes para definir quais gratificações são consideradas para enquadrar os salários no teto constitucional.
No início do ano passado, o governo informou que havia pelo menos 18 funcionários que tinham seus vencimentos reduzidos para que o excedente fosse eliminado.
Um servidor do Universidade Federal do Ceará, por exemplo, recebia R$ 37,1 mil. Os supersalários divulgados na época se concentravam em universidades e eram resultado de decisões judiciais.
Na ocasião, a AGU (Advocacia-Geral da União) prometeu fazer um pente-fino e tentar reverter algumas decisões, mas o órgão aguarda informações do Ministério do Planejamento e ainda não agiu.
Em resposta a questionamento da Folha, o Ministério do Planejamento não esclareceu o motivo pelo qual deixou de publicar as informações exigidas pelo decreto.
O ministério observou que publica várias informações sobre a estrutura salarial das carreiras do funcionalismo e afirmou que esses dados oferecem "maior profundidade".
Mas o ministério só divulga os salários-base, sem indicar os adicionais que em muitos casos fazem o teto constitucional ser ultrapassado.

RENATO MACHADO
FILIPE COUTINHO

No topo, Brasil tem maior vencedor da história do Parapan


Como no Rio-2007, o Brasil terminou o Parapan-Americano de Guadalajara no topo do quadro de medalhas. Foram 197 pódios no total (81 de ouro, 61 de prata e 55 de bronze), à frente dos 132 dos EUA (51, 47 e 34) e dos 165 dos anfitriões (50, 60 e 55).
O evento do México também consagrou o nadador brasileiro Daniel Dias, 23. O atleta ganhou 11 ouros em Guadalajara, que, somados às oito medalhas douradas de 2007, o fazem o maior vencedor da história do Parapan.
"Tinha expectativa em conquistar essas medalhas, mas não sabia se ia acontecer pois também dependia dos revezamentos", disse Dias, que nasceu com má formação congênita dos membros superiores e da perna direita.
Depois de Dias, o atleta com mais ouros em Guadalajara foi o também nadador André Brasil, com seis. Brasil, que teve poliomielite aos três meses e ficou com uma pequena sequela na perna esquerda, já tinha conquistado quatro ouros, uma prata e um bronze em 2007.
O Brasil encerrou sua campanha no Parapan de Guadalajara com o ouro no futebol de 5 (para cegos) ao derrotar neste domingo a Argentina na decisão, por 1 a 0, na prorrogação.
O judô (para deficientes visuais) rendeu duas medalhas no último dia de competições. Karla Ferreira conquistou o ouro na categoria até 48 kg, e Magno Marques ficou com a prata até 66 kg.

Folha de São Paulo

ONU vislumbra fim da Aids; há 34 mi de portadores de HIV no mundo

Em 2010, havia 34 milhões de portadores de HIV, segundo um relatório divulgado pelo Unaids (Programa das Nações Unidas para a Aids) nesta segunda-feira. O texto indica que nunca houve tanta gente vivendo com o vírus da Aids como agora.
Em comparação a um ano anterior, o número de soropositivos aumentou em 700 mil soropositivos eram 33,3 milhões em 2009, mas, em compensação, a mortalidade pela doença, que chegou a ser de 2,2 milhões de indivíduos por ano em meados da década passada, caiu para 1,8 milhão em 2010.
O número recorde é atribuído, em grande medida, à generalização de tratamentos que prolongam a vida dos soropositivos e estimulam a esperança de erradicar a doença. Atualmente, metade dos portadores do vírus recebe algum tipo de terapia.
"Nós nos encontramos na antessala de um importante marco na resposta à Aids", afirmou o diretor executivo do órgão, Michel Sidibe.
"Há apenas alguns anos, parecia impossível falar sobre o fim da epidemia no curto prazo. No entanto, a ciência, o apoio político e as respostas comunitárias estão começando a dar frutos claros e tangíveis", completou.
O Unaids estima que a doença chegue ao fim em breve. "Nos próximos cinco anos, os investimentos inteligentes podem impulsionar a resposta à Aids até a visão de zero novas infecções por HIV, zero discriminação e zero mortes relacionadas com a Aids", disse Sidibe.

QUEDA

Desde o início da pandemia de Aids, na década de 1980, mais de 60 milhões de pessoas já foram contaminadas pelo vírus HIV. Coquetéis de drogas conseguem controlar o vírus durante vários anos, mas não há cura nem vacina preventiva.
O relatório diz que milhares de mortes foram evitadas em países de baixa e média renda desde 1995 graças ao lançamento e distribuição de novas drogas. Essa tendência, indica o Unaids, se intensificou nos últimos dois anos.
Dos 14,2 milhões de pessoas que deveriam estar em tratamento nos países de baixa e média renda, 6,6 milhões (47%) estão efetivamente recebendo os remédios. Em 11 países subdesenvolvidos, o acesso ao tratamento já é universal (ou seja, com cobertura de pelo menos 80%).
Para se ter uma dimensão comparativa, em 2009, havia 15 milhões de pessoas precisando de tratamento, mas só 36% tinham acesso.
O Unaids informou ainda que o maior acesso a drogas está resultando também em uma menor taxa de contaminações. Vários estudos científicos já apontavam que a oferta mais disseminada dos tratamentos deveria reduzir a proliferação do vírus.
Em 2010, surgiram 2,7 milhões de novos casos de contaminação delo HIV, o que é 21% a menos do que no auge da pandemia, em 1997.

MAIOR INCIDÊNCIA

A região mais afetada pelo HIV/Aids continua sendo a África subsaariana (5% de prevalência entre a população adulta), seguida pelo Caribe (0,9%) e Rússia (0,9%).
Na América Latina a evolução permanece estável desde o início dos anos 2000 (0,4% de prevalência). Também permanece estável na América do Norte (0,6%) e Europa ocidental e central (0,2%), "apesar do acesso universal ao tratamento, do atendimento e apoio, e da ampla sensibilização ao tema", ressalta o documento.
A proporção de mulheres com HIV permaneceu estável (ao redor de 50%), mas há mais mulheres que homens infectadas na África negra (59%) e no Caribe (53%).
No fim de 2010, 68% dos soropositivos viviam na África subsaariana, onde mora apenas 12% da população mundial. Desde 1998, um milhão de subsaarianos morrem vítimas da Aids por ano e em 2010 metade dos óbitos relacionados com a Aids no mundo foram registrados na África austral.
O número de contágios caiu em 33 países, 22 deles situados na África subsaariana.
No Caribe, no ano passado eram 200 mil soropositivos (adultos e crianças), contra 210 mil em 2001. As novas infecções caíram em um terço no mesmo período.
"A grande influência é o acesso cada vez maior aos serviços de prevenção do HIV para as mulheres grávidas, que permitiram uma considerável redução no número de crianças com HIV e na mortalidade infantil pela Aids".
Na América Latina, o número de novas infecções anuais, que registrava queda constante desde 1996, se estabilizou nos primeiros anos do novo milênio e tem permanecido estável desde então a cem mil por ano.

AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Fim de linha!



Blog Josias de Souza

Vai ou racha na Europa


Os governos na Europa não agiram enquanto havia tempo.
Agora, as saídas se fecham para os 17 países que têm o euro como moeda.
Sobram duas:
1) O fim da união monetária entre alguns países, com recessões brutais;
2) A Alemanha autorizar o BCE (Banco Central Europeu) a financiar indefinidamente os países quebrados.
A primeira saída é total incógnita. Nunca aconteceu.
Haveria corrida a bancos para saques em euros nos países suspeitos de sair. Pois suas novas moedas nasceriam muito desvalorizadas.
Já há saques fortes de correntistas nos bancos da Grécia, que mais se debate na atual crise (quadro ao lado).
Haveria também um empobrecimento imediato nos países que deixarem o euro. E sua exclusão imediata do mercado de crédito global.
Grécia, Irlanda e Portugal já foram socorridos.
O mercado agora sufoca Itália e Espanha (e em menor grau a França) para rolar suas dívidas.
O quadro ao lado mostra como esses países têm de pagar juros bem mais altos que a Alemanha para se refinanciar.
Quanto mais tempo isso ocorrer, pior: maior será o aumento do endividamento, base da atual encrenca europeia.
Isso ocorre com os países em crise tendo ainda o euro como moeda.
Se tiverem de se refinanciar em dracmas, libras, escudos, liras (moedas anteriores ao euro), a rolagem de débitos será impossível. Por muito tempo.
Esses países não acabariam, por óbvio. Mas sofreriam um colapso brutal.
Um evento como esse arrastaria bancos em todo o mundo. São eles os credores dos governos ameaçados de deixar o euro e de quebrar.
O quadro ao lado mostra como bancos de vários países estão expostos em US$ 2,5 trilhões às dívidas de Itália, Espanha, Irlanda, Portugal e Grécia.
Se levarem um calote, emprestarão menos a empresas e consumidores. Agravando a crise global.
Mesmo nos EUA, a exposição é enorme. Os bancos americanos têm quase US$ 700 bilhões a receber da Europa.
Uma crise bancária dessa natureza congelaria boa parte do crédito global, levando o mundo a uma enorme recessão.
O fim do euro (mesmo que restrito a alguns países) é uma saída tão caótica que é difícil especular sobre ela.
O menos caótico, mas politicamente impossível até agora, seria repassar a conta dos países mais endividados e menos dinâmicos aos mais ricos da zona do euro: Alemanha e, em menor grau, França.
Para isso, o Banco Central Europeu teria de se transformar em algo semelhante ao Fed (o BC dos EUA). E a zona do euro precisaria de um "Departamento do Tesouro da Europa" (que hoje não existe).
Assim, o BCE faria o que o BC dos EUA faz: ligaria a máquina de imprimir euros e financiaria indefinidamente os endividados. O Fed já injetou US$ 2 trilhões nisso desde 2008.
A conta futura na Europa seria então repartida entre os 17 países do euro.
Alemanha e França seriam os grandes fiadores de um novo ciclo de endividamento.
É isso o que está em jogo.
Estima-se em US$ 3 trilhões o custo para o BCE garantir a compra de títulos de países em dificuldade na Europa.
Os alemães não querem, mas empurrar com a barriga é algo possível.
O exemplo americano: mesmo com uma dívida pública que pode dobrar nos próximos dez anos, o dólar continua servindo de refúgio a investidores.
Isso porque o Fed pode imprimir dólares para sempre, desde que o mercado os aceite. Logo, o refinanciamento de dívidas é sempre possível.
Na zona do euro, isso é impraticável hoje.
Pois a Alemanha não quer que o BCE imprima euros indefinidamente para bancar os países quebrados.
Nem que os alemães financiem um Tesouro conjunto europeu, que assumiria dívidas futuras de outros países.
O máximo permitido pela Alemanha até aqui foi deixar o BCE comprar parte dos papéis que alguns países em dificuldade não conseguem vender no mercado.
Essas intervenções vêm aumentando rapidamente, mas não resolvem (quadro ao lado).
Elas não são como ter um Fed que pode imprimir quantos dólares quiser. E um Tesouro único por trás para dizer que garante as dívidas.
É por isso que o mercado cobra juros cada vez maiores de Espanha e Itália para refinanciar seus rombos: não há "bons" garantidores por trás da rolagem.
Nem a disposição do BCE de financiá-los.
coluna canzian - europa_recessão
Agravante: há uma forte recessão se aproximando. Com vários países da Europa ameaçados.
Até aqui, a aposta alemã foi a de que medidas de austeridade em vários países estancariam a crise.
Sem que os alemães precisassem ser fiadores dos quebrados.
Não funcionou.
O inacreditável fim euro pode levar a Alemanha a ceder finalmente. A endossar um BCE que financie sem limites a região.
As alternativas parecem piores.
Por incrível que pareça, é a Alemanha de novo.

Fernando Canzian

Prova de amor!



Blog Josias de Souza

Mulheres maravilhosamente nuas e os judeus

Emocionante a imagem das mulheres israelenses que se deixaram fotografar sem roupa em solidariedade a uma blogueira egípcia que, ao ficar nua em seu blog, está recebendo ameaças.
É um belo símbolo de resistência contra a intolerância e falta de liberdade de expressão. É uma aula de respeito à diversidade.
Sou judeu, apoio a existência de Israel, mas sinto-me obrigado a reconhecer que políticas israelenses não ajudaram a construir a paz, dando combustão ao fanatismo árabe. Por trás dessa intolerância, em ambos os lados, está o uso pernicioso da religião -o que se tornou uma praga do ódio.
Ninguém sabe como desconstruir esse círculo vicioso de ódio, alimentando pela suposta interpretação de desígnios divinos.
A maravilhosa foto circulando agora pela internet levanta a suspeita de que, quem sabe, se as mulheres ganharem cada vez mais poder no Oriente Médio, terão mais inteligência emocional para conseguir a paz.
Não vejo problema na imagem de Arafat num mural do metrô que vem provocando protestos da comunidade judaica.
Esse é daqueles debates em que todos saem perdendo. Projeta uma imagem de intolerância contra a expressão de uma artista que usou a figura de alguém que ganhou o Prêmio Nobel da Paz por ter assinado um acordo com Israel.
Gostemos ou não, é muito melhor do que está aí entre lideranças palestinas.
De resto, faz parte da agenda de soluções mundiais encontrar uma solução para que os palestinos tenham direito a seu próprio território e saibam respeitar a existência de Israel.

Gilberto Dimenstein

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Vitória final


Aprender não é fácil…
a frustração tende a se instalar rapidamente.
Você sofre.
Sente-se derrotado.
Você quer desistir abandonar o desafio.
Você quer ir embora e finge que isso não importa.
Mas você não vai desistir, porque você não é um perdedor,
você é um lutador…
As vezes nós temos que perder antes de poder ganhar,
temos que chorar antes de poder sorrir.
Temos de sofrer antes de poder ser fortes.
Mas se você continuar lutando e acreditando,
você vai conseguir a vitória final.

Portal Angels

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Nova droga eleva colesterol bom e reduz o ruim


Estudo apresentado nesta semana no congresso da American Heart Association, em Orlando, nos EUA, mostra que um novo remédio conseguiu aumentar os níveis do chamado colesterol bom, o HDL, e baixar as taxas do ruim, o LDL.
Quando combinado aos remédios já usados para baixar colesterol (estatinas), o evacetrapib mais que dobrou os níveis de colesterol bom e reduziu em até 35% o colesterol ruim, além de diminuir os triglicérides, outro indicador de risco cardíaco que é medido em exames de rotina.
O novo remédio pertence a um grupo de substâncias que inibem uma proteína responsável por transferir colesterol do HDL para o LDL, aumentando a proteção contra o entupimento dos vasos.
O HDL funciona "limpando" o colesterol das artérias e o levando até o fígado. De lá, ele é eliminado do corpo.
Segundo Raul Santos, diretor da unidade de lípides do InCor (Instituto do Coração), um nível baixo de HDL é um sinal de risco de infarto. Resultados abaixo de 40 mg/dl para homens e 50 mg/dl para mulheres são um sinal de alerta, de acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Remédios da mesma família do evacetrapib vêm sendo testados há alguns anos. O primeiro deles foi uma grande decepção para os médicos, afirma Santos, porque aumentou a pressão arterial dos pacientes e o risco de problemas cardíacos.
"Depois disso, foram desenvolvidas mais três moléculas que, até agora, não causaram esses efeitos."
Um desses medicamentos, o dalcetrapib, está sendo testado no InCor por 20 pacientes, há dois anos. "Em 2013 devemos ter uma resposta sobre os efeitos da droga."
Os médicos ainda precisam determinar se o mecanismo usado pela droga para aumentar o colesterol bom pode prejudicar a pessoa a longo prazo. A proteína cuja ação é inibida pelo remédio para aumentar o colesterol bom pode ter uma ação protetora para as artérias.
"O efeito do remédio sobre o colesterol é ótimo, mas ainda não sabemos se isso vai prevenir eventos cardíacos", diz Santos.
O novo estudo, feito por médicos da Cleveland Clinic e publicado no "Journal of the American Medical Association", sugere testes maiores para comprovar os benefícios do remédio.

POLÊMICA

Um outro estudo apresentado no congresso americano de cardiologia e publicado no "New England Journal of Medicine" levanta o debate sobre outra substância usada há mais de 50 anos para aumentar o HDL, a niacina.
A pesquisa analisou o impacto da substância em pessoas com LDL controlado (abaixo de 70 mg/dl). Segundo os autores e um editorial publicado na revista médica, o remédio deve ser aposentado, porque não aumenta o colesterol bom dos pacientes e causa vermelhidão da pele.
Segundo o cardiologista do InCor, no entanto, ainda é preciso esperar o resultado de um estudo maior, com 25 mil pessoas, antes de desistir do remédio. "Ele é seguro, está no mercado há décadas."

DÉBORA MISMETTI

Lupi diz que não mentiu sobre uso de avião


O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, disse nesta quinta-feira (17) que se sente injustiçado e negou ter mentido ao dizer que não havia usado um avião providenciado pelo empresário Adair Meira para viajar ao Maranhão. Meira é dono de uma rede de ONGs beneficiada por convênios de mais de R$ 10 milhões com a pasta.
"Eu disse que não tinha andado em avião pessoal, é diferente você andar em um taxiaéreo", afirmou ele em audiência no Senado.Lupi disse que não "registrou" o nome do empresário Adair Meira quando o conheceu.
"A memória às vezes falha, eu sou humano", disse. "Quantos ministros, deputados, senadores podem ter usado carro, avião em atividades rotineiras de quem não conhece? Meu erro foi não checar com a apuração que devia. Isso foi o que aconteceu."
Segundo reportagem da revista "Veja", o ministro teria visitado o Maranhão em dezembro de 2009 a bordo de um avião providenciado por Meira.
No sábado, nota do Ministério do Trabalho negou que Lupi tivesse voado em um avião de modelo King Air o que foi desmentido nesta semana após divulgação de fotos por um site do Maranhão.
Na semana passada, em audiência na Câmara, Lupi negou ter relações com Meira. "Não sei onde ele mora, nunca andei em aeronave pessoal dele."
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) pediu ao ministro uma cópia das notas taquigráficas que ele apresentou durante a sessão.

CRISE

A crise começou após reportagem da revista "Veja" no dia 9 de novembro informar o envolvimento de servidores e ex-servidores do ministério em um esquema de cobrança de propinas que revertia recursos para o caixa do PDT.
Após a reportagem, Lupi afastou um dos envolvidos e afirmou que só deixaria o governo "abatido por bala". A presidente não gostou das declarações e ele se retratou logo depois.
No dia 12, uma nova publicação da "Veja" denunciou o uso de avião contratado por um dono de uma rede de ONGs beneficiária de convênios de mais de R$ 10 milhões com o Ministério do Trabalho.
Segundo interlocutores do Planalto, a presidente Dilma estaria esperando que o ministro do Trabalho desse explicações "consistentes" sobre as circunstâncias de sua viagem ao Maranhão em dezembro de 2009.

ANDREZA MATAIS
ANDRÉIA SADI
CATIA SEABRA

Batom na cueca!



Blog Josias de Souza

Fala, Lula

Um sindicalista sugeriu que, em solidariedade a Lula, todos também raspassem a cabeça. Virou piada porque o tal sindicalista do ABC já é careca. Haveria, porém, um jeito sério de transformar o câncer de Lula numa homenagem à vida e poderia começar com o próprio Lula quebrando um silêncio.
Escrevi aqui que o câncer de Lula poderia servir de lição, ajudando a difundir a relação entre fumo e câncer. Fiquei aguardando que, em algum momento, o ex-presidente usasse a força de seu exemplo para condenar o ato de fumar. Nada. Está, portanto, perdendo a chance de educar as pessoas sobre os riscos para a saúde pública, usando seu extraordinário poder de comunicação.
Sabemos que o hábito de fumar é hoje maior entre os pobres do que entre os mais ricos por falta de informação.
Gostaria de vê-lo dizer o seguinte: companheiros, não façam a burrada que fiz fumando tanto por tanto tempo.
Ele poderia usar até mesmo aquelas metáforas que os intelectuais não gostam, mas funcionam.
Seria um gesto simples, educativo, e teria o efeito de muitas campanhas de saúde pública.
Ajudaria no final a salvar vidas.

Gilberto Dimenstein

Novela mexicana!



Blog Josias de Souza

Balas perdidas na Rocinha

Entenda-se o "balas" do título não no sentido literal, físico, mas como oportunidade perdida para discutir questões de fundo a respeito do narcotráfico, crime organizado etc, que foram, afinal, os motivos que impulsionaram a retomada da Rocinha.
Surpreende que a maior parte dos jornais do mundo que noticiaram a operação se surpreenderam com o fato de que não foi disparado um único tiro. Pudera: dez dias antes, as autoridades avisaram da reocupação, o que deu tempo aos traficantes de fugir tranquilamente.
Posto de outra forma: o objetivo da operação era recuperar território. Ponto. Não era desasrticular as quadrilhas instaladas nas três comunidades invadidas. É óbvio que, nessas circunstâncias, o narcotráfico continuará vivinho da silva, até porque o consumo está longe de diminuir.
A primeira oportunidade perdida é, pois, a de discutir a política de combate às drogas, que não está dando resultados. É sintomático que o juiz Marcelo Semer tenha comentado o assunto, mas ao tratar de outro fato recente em que as drogas foram o eixo (a prisão de estudantes da USP que fumavam maconha, ao que se seguiu a ocupação da reitoria e o que mais se sabe).
Semer diz que aquele episódio "mostra também o esgotamento da política de guerra contra as drogas, cujos paradigmas fazem água por todos os lados. A farta criminalização não vem trazendo qualquer alento à saúde pública que supostamente busca proteger".
Pior, sempre segundo Semer: "O consumo aumenta, independentemente da proibição. E ao invés de investir em saúde, o Estado gasta em repressão".
Difícil discordar do diagnóstico. O problema é que não há clareza a respeito de qual seria, então, a política alternativa.
Admito que sou simpático à tese da descriminalização das drogas, a partir de um raciocínio que reconheço ser empírico e, talvez, simplista demais: liberada a venda, estar-se-ia tirando o negócio da clandestinidade e, por extensão, reduzindo ou eliminando a violência a ele associada inexoravelmente hoje em dia.
Mais ou menos como bebida alcoólica, que é também droga. O consumo é elevado, há mortes e doenças a ele vinculados, mas ninguém mata ninguém para ficar com os pontos de venda. Repito: pode ser simplismo, falta o teste da realidade, o único que de fato conta, mas é preciso discutir alternativas.
Já tratei desse assunto lá atras, o que despertou comentários em quantidade dos leitores, pelo que remeto o interessado a comentário anterior.
O segundo ponto que se deveria discutir é o papel das Forças Armadas no combate ao crime organizado. Ficou patente, acho eu, tanto no episódio da Rocinha como, antes, no Complexo do Alemão, que a polícia por si só não tem capacidade bélica para defenestrar os traficantes.
Recorre, então, aos fuzileiros navais e fica-se no limiar da violação constitucional, que veda às Forças Armadas desempenhar o papel de polícia.
É outra discussão delicada mas que tem que ser encarada se é para restabelecer o controle do Estado sobre todo o território nacional e não apenas nas zonas sul e centro do Rio de Janeiro o que não deixa, em absoluto, de ter seus méritos, mas é pouco, muito pouco.

Clóvis Rossi

Amor de$medido!



Blog Josias de Souza

Os melhores anjos

Conforme prometido, resenho hoje o excelente "The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined" (os melhores anjos da nossa natureza: por que a violência diminuiu), do psicólogo evolucionista Steven Pinker.
É um catatau de quase mil páginas, no qual o autor tenta nos convencer de uma tese totalmente contra-intuitiva: o mundo está se tornando um lugar cada vez mais seguro para viver, e a raça humana se mostra cada vez menos violenta.
Pinker, é claro, tem consciência da enormidade de sua afirmação: "Num século que começou com o 11 de Setembro, o Iraque e Darfur, dizer que vivemos numa época incomumente pacífica pode soar como algo entre a alucinação e a obscenidade". E é por isso que ele dedica cerca de dois terços do livro a mostrar com números, tabelas e sofisticadas análises estatísticas como as taxas de violência estão caindo.
É evidente que, em números absolutos, o século 20, com duas guerras mundiais e um punhado de ditadores genocidas é o campeão, somando 180 milhões de mortes em conflitos e megamassacres. Trata-se, por qualquer critério imaginável, de um banho de sangue, um hemoclismo, mas isso ocorre principalmente porque nunca fomos tantos. A cifra corresponde a mais ou menos 3% do total de óbitos registrados ao longo do século, povoado por cerca de 6 bilhões de almas. A questão é que, em termos proporcionais, nossos ancestrais que viviam em sociedades sem Estado nos superam com facilidade.
Evidências arqueológicas recolhidas de dezenas de sítios que datam de 14000 a.C. a 1770 d.C. revelam que as taxas de mortalidade em conflitos podiam chegar a inacreditáveis 60%, como é o caso dos índios Creek ao longo do século 14. A mortalidade média verificada nesses sítios foi de 15%.
Pinker identifica seis tendências históricas principais que nos afastaram do caminho da barbárie. A primeira começou a ocorrer vários milênios atrás, quando passamos das sociedades de caçadores-coletores para as de agricultores, com cidades e, principalmente, governos. Esse movimento reduziu drasticamente as guerras e rixas crônicas entre bandos rivais, diminuindo a violência em cinco vezes. É o que o autor chama de "processo de pacificação".
Em seguida vem o "processo de civilização". Ele tem lugar quando aparecem os Estados centralizados, em que a autoridade busca exercer o monopólio do uso da violência. Na Europa, isso começou a ocorrer lá pelo século 16. A redução na violência foi de 10 a 50 vezes.
A terceira tendência é a "revolução humanitária". Ela aparece nos séculos 17 e 18 e se traduz em movimentos filosóficos com o propósito de abolir a escravidão, o despotismo, a tortura judicial, a superstição e até a crueldade com os animais.
O quarto movimento é o que Pinker chama de "longa paz". A partir da Segunda Guerra, países que se democratizaram pararam de travar guerras uns com os outros.
Em quinto vem a "nova paz". Desde 1989, com o fim da Guerra Fria, diminuiu a frequência com que ocorrem genocídios, ataques terroristas e ondas de repressão em regimes autoritários. Ler os jornais pode nos dar a impressão contrária, mas é só uma impressão, que tem mais a ver com os vieses de nossa memória (lembramos do que aparece na imprensa e julgamos que esse é um universo representativo) do que com os números reais.
Há, por fim, o que Pinker chama de "revoluções dos direitos". A partir de 1948, com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, começaram a pipocar movimentos com o objetivo de combater agressões a grupos específicos, como mulheres, minorias étnicas, crianças, homossexuais e animais. Como são relativamente novos, a afirmação desses direitos ainda tende a gerar polêmicas, como é o caso do casamento gay.
Depois de nos convencer de que vivemos numa época privilegiada, o autor tenta explicar a psicologia da violência. Baseado principalmente na obra de Roy Baumeister, ele elege nossos cinco demônios internos, que mais frequentemente nos levam a agredir o próximo: predação (ou violência instrumental, com vistas a atingir um fim), dominância (o desejo de exercer autoridade ou obter prestígio), vingança (propensão moralística a reparar injustiças), sadismo (o mal pelo mal, mas este é um fenômeno relativamente raro) e a ideologia (criar a sociedade perfeita ou concretizar os desejos de Deus).
Aos demônios contrapõem-se nossos quatro "melhores anjos", isto é, os equipamentos internos que nos habilitam a resistir à violência e nos colocam na rota da cooperação e do altruísmo: empatia (a capacidade de identificar-se com as alegrias e sofrimentos dos outros), autocontrole (pelo qual resistimos a emoções como a raiva), senso moral (que santifica determinadas regras, tornando-as tabu, como o "não matarás") e razão (que nos permite enxergar além do clã, constituindo a base da civilização).
Evidentemente, esse esquema da obra que descrevi mal arranha a riqueza das análises e os belos "insights" de Pinker. Como não dá para destacar tudo, centro-me no ponto que mais me impressionou, o resgate do Iluminismo.
Apesar de Pinker estar no centro de uma corrente científica que contribuiu bastante para derrubar o mito de que o homem pode pautar-se inteiramente pela razão, ele sustenta que foi no curso da "revolução humanitária", em especial a partir do século 18, com a popularização da imprensa, a publicação de livros e a valorização do conhecimento racional que fomos colecionando nossas mais significativas conquistas no processo de conter a violência.
Ainda que muito lentamente, ideias centrais do Iluminismo como democracia, igualdade dos sexos e das raças, abordagem científica dos problemas e até uma pitada de anticlericalismo foram se impondo. E não é uma coincidência que tenham sido os países em que elas primeiro se implantaram os que mais longe chegaram em termos de paz e civilização.
Ainda que a razão não se comporte exatamente da forma que os "philosophes" a idealizaram e descreveram, parece incontestável que ela esteja no centro de nossas melhores realizações.
Encerro com duas pequenas notas. A primeira é a constatação de que, ao longo das últimas décadas, a inteligência média da humanidade, medida em termos de QI, aumentou bastante. É o chamado Efeito Flynn, que já foi testado e confirmado em 30 países. Se um humano mediano da década de 1910 (que, por definição tinha um QI de 100) fosse trazido para os dias de hoje, sua pontuação seria de apenas 70, no limite do retardo mental. Os ganhos ocorreram principalmente na parte do teste que mede a inteligência geral, em especial a capacidade de raciocínio abstrato, em oposição a habilidades matemáticas e linguísticas. A hipótese de Pinker é que o avanço se deve à popularização do raciocínio científico, ensinado nas escolas, no qual nos habituamos a lidar com regras gerais e arbitrárias. É o mesmo tipo de raciocínio que nos permite abandonar a visão de mundo paroquial, na qual nós e os nossos somos o centro de tudo, e abraçar a noção de que existem normas de aplicação universal. Ora, é justamente essa a ideia por trás da civilização, de que, pelo menos em princípio, temos todos a ganhar com a multiplicação de democracias que sejam capazes de entender-se e integrar-se, ainda que não sem os percalços de sempre.
Antes que o leitor considere Pinker um clone do professor Pangloss, vale o alerta do autor. O fato de que a humanidade tem caminhado para a paz não é garantia de que vá continuar a fazê-lo. Os nossos cinco demônios estão aí e não é muito difícil despertá-los. Há menos de cem anos experimentamos a Segunda Guerra Mundial e, mesmo hoje, apesar de todos os avanços, há ainda guerras civis e genocídios em curso. Manter-se na linha da paz e da tolerância, além de uma boa dose de sorte, exige que nos aperfeiçoemos em criar as condições para que nossos "melhores anjos" preponderem sobre os "demônios". Apesar das aparências, estamos conseguindo.

Hélio Schwartsman

Luz na USP

Ao mesmo tempo em que 58% dos estudantes certificam a presença da PM na USP, 57% dizem que a polícia não aumentou a percepção de segurança, segundo dados da pesquisa Datafolha.
Superada a dúvida sobre a aceitação dos estudantes, é preciso olhar para a essência da questão. A PM entrou na USP para garantir a segurança. Não é o que está acontecendo. Constatei pessoalmente.
Voltei à USP, depois de anos, para dar aulas em curso de especialização na Poli. Fiquei impressionado com a percepção de medo existente. Falta luz no campus. À noite, quem pode, quer parar o carro próximo à unidade que freqüenta para não ter que andar na escuridão.
Algo tão básico à segurança como a iluminação, ela chegou a um ponto de insuficiência inacreditável. Desde quando estudei no curso noturno da FEA, entre 1975 e 1979, já não havia luz. Andar até os limites do estacionamento ou para pegar o ônibus, quando a ponto era distante, dava sensação de insegurança. Hoje, trinta anos depois, continua assim.
Realmente, custa a crer. Além disso, não se vê uma guarda universitária em número suficiente e estruturada, como deveria.
Questões básicas que caberiam à Reitoria foram negligenciadas.
Com esse aval que ganhou da comunidade acadêmica, a PM precisa montar um sistema que funcione. Logo. Pode perder a inibição dos recém-chegados, vencida a síndrome da rejeição com o resultado do Datafolha.
Todavia, deve ter um plano de trabalho que leve em conta as peculiaridades do campus. Penso que não se deve fechar os olhos para nada. A lei, lá dentro, deve ser a mesma de fora. Não faz sentido território com leis seletivas. Está no conceito de nação: "um conjunto de indivíduos que habitam o mesmo território, falam a mesma língua e obedecem às mesmas leis".
Agora, a forma de abordagem deve respeitar as pessoas. Não é a mesma de quando se está à caça de supostos criminosos. É o jeito de fazer; muitas vezes, excessivamente truculento.
A PM que aprendeu a lidar com as pessoas em estádios e sabe diferenciar o torcedor organizado do vândalo comum, tem que saber lidar com os estudantes. Sem privilégios. Contudo, precisa ter um plano de trabalho mais eficaz para atingir o objetivo básico, que é a segurança.
Cabe à Reitoria providenciar logo as medidas de infraestrutura. O importante é discutir a eficiência do sistema. Porque, ter um pouco de medo, todo dia, no lugar onde se vive, é destruir sutilmente as sensações de paz e felicidade.
São Paulo está em busca de uma vida mais feliz. E a USP tem que colocar luz nesse objetivo. Começando pela luz. Literalmente!

José Luiz Portella

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Amanhã será outro dia


Não percas a tua fé entre as asperezas do mundo.
Ainda que os teus pés estejam sangrando, segue para frente,
erguendo-te para a luz celeste, acima de ti mesmo.
Crê e Trabalha…
esforça-te no bem, e espera com paciência.
Tudo passa e tudo se renova na terra,
mas o que vem do alto permanecerá.
De todos os infelizes, os mais desditosos
são os que perderam a confiança em Deus
e em si mesmos; porque o maior infortúnio
é sofrer a privação da fé, da esperança,
e prosseguir vivendo.
Eleva, pois, o teu olhar e caminha…
Luta e serve…Aprende e adianta-te…
Além da noite escura, brilha a alvorada radiante!
Hoje é possível que a tempestade amofine
o teu coração e atormente o teu ideal,
fustigando-te com a aflição ou ameaçando-te
com a morte; não te esqueças porém, de que,
AMANHÃ SERÁ OUTRO DIA…

Portal dos Anjos

Beltrame diz esperar que Nem forneça dados sobre tráfico e corrupção


A prisão de Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem --apontado como o chefe do tráfico de drogas na favela da Rocinha, pode resultar em informações sobre o organograma do crime e corrupção policial. Em entrevista à Rede Globo, o secretário da Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou nesta segunda-feira que a polícia espera que Nem contribua com as investigações.
"Seria uma oportunidade importantíssima o oferecimento de alguma medida judicial para que ele pudesse contribuir com a Justiça e, obviamente, com a polícia", disse o secretário ao telejornal "Bom Dia Brasil". Medida que costuma ser aplicada é a da delação premiada, quando o criminoso coopera com a investigação e tem a pena reduzida pela Justiça.
O traficante foi preso na semana passada, no porta-malas de um carro, quando tentava fugir. Um dos policiais militares que participaram da prisão disse que os homens que ajudavam Nem na tentativa de fuga chegaram a oferecer R$ 1 milhão de suborno.
Para o secretário, Nem pode ajudar também a identificar casos de corrupção.
"Ele [Nem] tem conhecimento não só da arquitetura do tráfico como o assédio que ele, em tese, teria, no que diz respeito a corrupção. Nós esperamos ansiosamente que ele possa nos dar qualquer tipo de dado para que a gente puxe esse novelo", disse o secretário à GloboNews.
"As polícias querem esclarecer essas situações. Se isso [corrupção] é muito ruim, se isso dói, se isso é vergonhoso, se isso nos deixa mal, é essa mesma polícia que está fazendo um trabalho belíssimo. Essa mesma polícia está pacificando áreas", afirmou.
Forças de segurança ocuparam a Rocinha na madrugada de domingo (13), sem que tiros fossem disparados. Casas de luxo usadas pelos traficantes foram revistadas.
De acordo com o secretário, esses imóveis e equipamentos considerados bens do tráfico podem ser destinados à comunidade ou ao governo. Segundo ele, uma das casas poderia ser uma base operacional da polícia, por exemplo, mas isso ainda depende de avaliação das autoridades.

Folha de São Paulo

"És apenas um ser mortal"

Lula da Silva padece de doença grave e os brasileiros foram informados a respeito. Com pormenores. Há quem não goste de tanta transparência. Há quem veja no ato um significado político qualquer busca de popularidade; maior influência no interior do partido; o relançamento de uma candidatura presidencial futura; etc.
Pessoalmente, aprecio a honestidade de Lula. Para começar, ela mostra a grande diferença entre a democracia e o autoritarismo. Essa diferença foi resumida pela revista "Veja", que no seu editorial comparou o caso de Lula com os patéticos casos de Fidel Castro ou Hugo Chávez.
De fato. Em Cuba ou na Venezuela, os cidadãos sabem pouco sobre a saúde dos seus próceres e a informação é manipulada para não espantar as manadas. Isso diz tudo sobre a forma como o poder político, nesses países, olha para os seus cidadãos: como crianças assustadiças e ignaras.
E, claro, também é revelador sobre o clima de medo e paranóia que reina entre as elites desses regimes.
Sempre assim foi. Em Espanha, as maleitas do caudilho Franco da mera diabetes à incapacitante Parkinson foram sucessivamente escondidas da população espanhola até ao limite dos limites, ou seja, até à instauração da democracia em 1975.
Na União Soviética, Stálin gostava tanto dos médicos que os prendia ou executava com regularidade quando sofreu o infarto fatal, esperou-se 12 horas até se chamar um profissional, não fosse o camarada recuperar entretanto e mandar fuzilar os seus assessores pelo abuso.
E, sobre Mao Tsé-Tung, a bipolaridade e a doença de Lou Gehrig que o matou (uma doença neurológica degenerativa) só foram conhecidas muito depois da chegada do seu sucessor, Deng Xiaoping, ao poder.
Mas a transparência de Lula não mostra apenas a diferença entre a democracia e o autoritarismo. Mostra também uma evolução no interior das próprias democracias que, vigiadas por um poder midiático crescente, foram abandonando o secretismo de outras eras.
David Owen, médico e antigo ministro britânico das Relações Exteriores, escreveu um livro notável sobre o assunto. Intitula-se "Na Doença e no Poder" (Lisboa: Dom Quixote, 503 págs.) e Owen não se limita apenas a analisar os casos clínicos dos regimes autoritários supracitados. O secretismo também existia nas democracias, conta ele.
Existem episódios caricatos e os Estados Unidos são terreno fértil. Em 1893, o presidente Cleveland foi operado a um câncer do maxilar a bordo de um iate no porto de Nova York.
Depois de removida parte do maxilar, Cleveland voltou ao trabalho e os americanos foram informados que o presidente apenas realizara tratamentos para aliviar as dores de dentes.
Mas é no século 20 que a dissimulação começa a ser extravagante. Que o digam os presidentes Roosevelt (Teddy e Franklin).
O primeiro gostava de praticar boxe para relaxar e, no calor de uma luta, ficou permanentemente cego de um olho (o esquerdo). Os americanos nunca souberam do acidente.
Nem do acidente de Teddy, nem da poliomielite de Franklin, que o jogou numa cadeira de rodas durante toda a sua vida pública. A maioria dos americanos desconhecia o fato e a própria Biblioteca Presidencial, esclarece David Owen, testemunha esse desconhecimento: das 35 mil fotos disponíveis no espólio, só 2 repito: duas mostram Roosevelt nessa condição.
Woodrow Wilson é outro caso: em 1919, um acidente vascular cerebral deixou-o incapacitado. Mas nem isso levou à sua substituição: o governo continuou, durante sete meses, sob comando firme da mulher de Wilson.
Findos os sete meses, o presidente regressou, razoavelmente recuperado, e a sra. Edith Wilson entregou-lhe as rédeas do poder. Ninguém precisava de saber de nada.
Não se pense, porém, que só nos Estados Unidos seria possível um arranjo desses. Na mesma altura, do outro lado do Atlântico, a sra. Deschanel fazia o mesmo pelo seu marido, o presidente francês Paul Deschanel.
Que o mesmo é dizer: enquanto o presidente sofria de síndrome de Elpenor (tradução: períodos de semiconsciência e desorientação espacial recorrentes), a mulher governava por ele.
A França, aliás, é um caso interessante de mendacidade absoluta quase até aos nossos dias. Desconheço se Sarkozy padece de alguma doença, com a exceção da megalomania evidente e dos complexos de inferioridade por causa da sua diminuta estatura (física).
Mas é espantoso que os franceses tenham vivido na ignorância sobre as depressões profundas do General De Gaulle; o câncer do sangue que matou Georges Pompidou; e o câncer da próstata que François Mitterrand conseguiu ocultar durante onze anos com a conivência do seu médico pessoal, que o tratava literalmente às escondidas (em aviões, quartos de hotel etc.).
Nada que se compare, verdade seja dita, ao maior ilusionista de todos: esse exemplo de saúde, juventude e vitalidade que dá pelo nome de John F. Kennedy.
Aos 43 anos, Kennedy era eleito para a Casa Branca. Mas, como explica David Owen, os americanos elegiam um homem incomparavelmente mais doente do que o secretário-geral da União Soviética Nikita Khrushchev (66 anos), o premiê britânico Harold Macmillan (idem) ou o chanceler alemão Konrad Adenauer (84 anos), seus pares da época.
Kennedy era o produto acabado de uma vida em hospitais: escarlatina aos 3 anos; colite aos 13 (e tratamentos com cortisona durante a adolescência); dores crónicas nas costas depois de acidente de viação em Harvard aos 21; úlcera do duodeno devido aos esteróides que tomava por causa das dores (o que também lhe provocou a osteoporose posterior); e, sobretudo, a doença de Addison uma falha auto-imune das glândulas supra-renais que exige terapia de substituição hormonal durante a vida inteira.
Sim, a transparência de Lula sobre o seu câncer na laringe é prova da maturidade democrática do Brasil. Mas é também uma importante lembrança sobre a fragilidade e contingência de todas as vidas humanas: grandes ou pequenas, públicas ou anónimas.
Os nossos antepassados sabiam disso. E não era por acaso que o imperador e filósofo Marco Aurélio, quando cruzava as ruas de Roma, tinha sempre um escravo a seu lado que lhe segredava repetidamente ao ouvido: "És apenas um ser mortal." A frase acabava com qualquer vaidade.
As democracias serão lugares mais habitáveis se governantes e governados nunca se esquecerem dessa lição.

João Pereira Coutinho

Amor e ciúmes!



Blog Josias de Souza

Kleber diz que 80% dos jogadores não gostam de Scolari


De saída do Palmeiras, o atacante Kleber disparou críticas ao técnico Luiz Felipe Scolari. O atleta foi afastado do grupo no dia 11 de outubro após entrar em atrito com o técnico Luiz Felipe Scolari.
"80% dos jogadores e 90% dos funcionários do clube não gostam dele. [O meu afastamento] foi escolha da diretoria", afirmou o jogador, no programa "São Paulo Acontece", da Band.
O atleta discutiu com Scolari durante uma reunião feita após a briga de torcedores com o volante João Vitor em frente ao Parque Antarctica.
"O treinador [Scolari] falou que era para pegar um ônibus e ir à quadra da Mancha conversar com os caras. Falei que era isso mesmo e que só jogador está se ferrando. Ele disse que a comissão também está junto. Aí eu falei que não."
Kleber disse que torcedores foram até a sua casa protestar e que isso não aconteceu com o Scolari
"Ele [Scolari] disse que há dez anos colocou arma na cara deles [torcedores]. Aí eu disse que a coisa mudou. Ele coloca a gente contra a torcida. Já falou que o time jogava que nem partida entre casados e solteiros, que treinar o nosso time era como acordar com mulher feia. Falou que em 20 anos era a primeira vez que nunca tinha conseguido armar um time. Disse assim: 'Não tenho culpa se peço o Sheik [Emerson, atacante do Corinthians] e me trazem o Ricardo Bueno'. Isso na frente do garoto. Desmoraliza o elenco".
Na ocasião, Scolari se revoltou com Kleber e disse publicamente que o atacante não jogaria mais com ele.

Folha de São Paulo

Amor de amador!



Blog Josias de Souza

Nem aí

O governador Sérgio Cabral (PMDB) disse que a ocupação da favela da Rocinha no fim de semana representou um dia histórico para o Rio. E que antes ele não estava feliz porque não havia paz na comunidade.
O traficante Nem dominou por anos a Rocinha. É inacreditável que só agora, pela pressão de Copa e Olimpíadas (e da expansão imobiliária), o governo do Rio tenha agido para por fim ao terror das quase 80 mil pessoas que vivem na comunidade.
Nem é e sempre foi uma pessoa de carne e osso. Visível e que circulava pelas ruas da Rocinha. Não foi pego antes porque o governo do Rio não quis, não deixou ou manteve pessoas sob seu comando que protegiam o traficante.
A Rocinha foi ocupada sem nenhum incidente grave. Bastou a ameaça do Estado, o ente mais poderoso, para que o serviço fosse feito.
Cabral deveria vir a público explicar as razões de ter demorado tanto tempo para agir.
No link, coluna escrita há quase quatro anos após visita à Rocinha. De lá para cá, foram quase 1.500 dias em que a população viveu sob o comando de Nem: Rocinha, classe D/E e "acesso"

Fernando Canzian

E viva a emenda de feriado

Está tudo de pernas pro ar. Eu ouvia dos nossos sócios americanos e europeus que o Brasil não ia para frente por causa desse monte de feriados entre outras coisas. Era um tal de abolição disso, proclamação daquilo e até um tal de dentista sem falar no feriado da Marta, o da Consciência Negra.
Poucos brasileiros sabem explicar todos os feriados, e há muitos que não sabem definir um sequer. 25 de Março é rua, como também 13 de Maio ou 9 de Julho.
Mas têm os gringos razão quando criticam o excesso de feriados? Tem a produtividade real uma relação de causa e efeito com a quantidade de trabalho? Excetuando linhas de montagem e produções que só possam ser medidas no tempo, o que vejo é a procura de um equilíbrio entre trabalho e qualidade de vida, que não se mede em horas.
Hoje a Europa e os EUA vivem sintomas substanciais de deterioração, e têm reduzido as suas horas semanais de trabalho. Mas a Alemanha, Escandinávia e Holanda, por exemplo, trabalham menos horas semanais do que Grécia e Itália, e está nítida a diferença de solidez inversamente proporcional. A Califórnia, a Rio de Janeiro de lá, não autoriza como aqui caçoar dos que procuram equilíbrio, e trabalham menos e com mais cabeça.
Quando, nos anos 80, diminuímos na empresa as horas semanais de 48 para 42, todos os estudos nossos e da Fiesp garantiam que teria que ser feito um ajuste quase proporcional no faturamento. Claro que isto não ocorreu, nem na linha de produção.
Naquela época estudei um pouco a história da semana laboral, na biblioteca da Fiesp, e descobri um documento onde Jorge Street defendia a ideia, no final dos anos 20, de que operários deveriam ter direito a férias. Os empresários associados (nos centros de indústrias da época, antes da) rebatiam, citando estudos segundo os quais os operários somente trabalhavam com o corpo, e que a cabeça estava sempre descansada. Assim, não havia razão para férias no caso deles.
Similar humor, com igual seriedade dos patrões, caberia na discussão de feriados e tempo livre hoje em dia. Daqui a algumas décadas, rirão da pressão dos empresários para a chegada no horário no "serviço", horas trabalhadas e mesmo o conceito de compra do tempo dos funcionários ao invés de talento e resultado.
Há incontáveis formas de contratar com as pessoas de uma empresa pelo resultado esperado delas. Há que liberar os funcionários da agonia do relógio de ponto que pende como uma espada de Dâmocles sobre a cabeça de quem tem um emprego.
Se as emendas de feriado perturbam os patrões, o que dizer do hábito antiquado de construir sedes e forçar as pessoas a passarem uma média de 3 horas por dia tentando chegar lá, e de volta para casa? Equivalem a 80 dias inteiros a cada ano, contra oito de emendas de feriado.
Não cabe mais ficar medindo o trabalho assim, é hora de aceitar que feriadões são patrimônio cultural inteligente dos brasileiros. Faltam apenas os patrões se darem conta de sua parte. Enquanto isso, que aproveitem a emenda... E na quarta-feira, olho na hora!

Ricardo Semler

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Baixos salários, “bicos” e desrespeitos à profissão de professor

Recente estudo de professores da Universidade de São Paulo - USP, com base na Pesquisa por Amostragem de Domicílios (Pnad/IBGE-2009), revelou que cerca de 10% dos/as docentes brasileiros/as da educação básica complementam suas rendas com atividades desempenhadas fora do magistério, sobretudo através de vendas de cosméticos.
Para quem vive o dia a dia das escolas públicas, os resultados da pesquisa surpreendem mais pelo baixo percentual de quem pratica outras ocupações do que em razão de os/as professores/as terem que complementar, de fato, os baixos salários a que estão submetidos na maior parte do país.
Outro dado relevante sobre a complementaridade da renda familiar da categoria do magistério pode ser extraído do Censo do Professor (MEC/INEP-2009). O estudo indica que, pelo menos, 1/3 (um terço) do professorado da educação básica pública desempenha dupla ou tripla jornada de trabalho na profissão. Ou seja: a renda é reforçada por meio do principal instrumento de trabalho, porém de forma que compromete a saúde do/a educador/a e a própria qualidade do ensino.
A recorrente economia de recursos do Estado, que concedeu ao magistério a possibilidade de possuir mais de um vínculo empregatício no setor público e que exime os gestores de investir na formação inicial e continuada e nas condições de trabalho da categoria, cada vez mais colide com a perspectiva de melhorar a qualidade da educação. Pior: ao invés de reverter essa realidade, as administrações públicas - paradoxalmente e com o apoio da parcela da mídia subserviente - investe na responsabilização dos/as educadores/as pela baixa qualidade dos sistemas de ensino, cuja gestão, em sua maioria, não permite a participação da comunidade escolar nos processos de formulação, aplicação e verificação das políticas públicas.
Por óbvio que os problemas inerentes à qualificação profissional do magistério não se restringem ao salário. Mas esse, conjugado com a expectativa de carreira e de valorização social da profissão, é o maior deles. Corroborando essa tese, o diagnóstico da meta 17 do Plano Nacional de Educação, que trata da remuneração do magistério, revela que o/a professor/a com formação de nível médio (curso de magistério) detém renda média 38% acima dos demais trabalhadores brasileiros com escolaridade similar. Contudo, essa relação se inverte, na mesma proporção, quando o/a professor/a com formação de nível superior (maioria no Brasil) tem sua renda comparada com os demais trabalhadores de formação universitária. E isso é um fator de desestímulo à qualificação, ainda mais quando o próprio professor precisa arcar com o ônus financeiro de sua formação ou quando não dispõe de concessão de tempo pelos gestores para fazê-la adequadamente.
Para a CNTE, o piso nacional do magistério - vinculado à carreira - representa um primeiro passo na direção da equidade laboral dos/as educadores/as no país, condição fundamental para elevar a qualidade da educação com equidade. Mas muitos governadores e prefeitos - e, agora, até a justiça de um Estado, o Pará, em confronto com a decisão do Supremo Tribunal Federal - insistem em não observar a norma federal que também prevê jornada de trabalho para o/a professor/a com tempo dedicado às atividades extra-sala de aula (preparação e correção de atividades, reuniões pedagógicas e com os pais, formação no local de trabalho, dentre outras).
Outras questões afetas à qualidade da educação e que desestimulam o ingresso da juventude na profissão, ou que afastam, por doença ou desestímulo, os atuais professores das redes de ensino, consistem nas defasagens da formação inicial (sob responsabilidade majoritária de faculdades privadas, ou provida em cursos à distância), na falta de qualificação permanente ofertada pelo Estado, nas jornadas de trabalho incompatíveis com a profissão, nas deficientes formas de contratação no serviço público e nas precárias condições de trabalho e de vida oferecidas aos profissionais - em sua maioria mulheres, o que denota discriminação de gênero nesse setor de atividade profissional. E, sem que esses pontos sejam devidamente contornados, pouco se avançará na valorização do magistério e dos demais profissionais da educação e na melhoria da qualidade do ensino público.

CNTE