quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Novo desenvolvimentismo sai do armário

Não houve manifesto, livro, artigo estruturante. Nem twitter teve. Mas parece, porque não há confirmação oficial, proclamado o novo desenvolvimentismo.
A sombra que espreitou Brasília nos Anos Lula agora parece, não está confirmado oficialmente, dominar, inconteste, o Planalto e por tabela a Esplanada.
A proclamação mais enfática do novo modelo veio logo de um emérito ex-tucano, o professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, que em sua coluna na Folha de papel na última segunda-feira, identificou a troca na direção macroeconômica nos seguintes termos: "Enquanto o tripé ortodoxo é 'taxa de juros elevada, taxa de câmbio sobreapreciada e Estado mínimo', o tripé novo-desenvolvimentista é 'taxa de juros baixa, taxa de câmbio de equilíbrio, que torna competitivas as empresas industriais que usam tecnologia moderna, e papel estratégico para o Estado'.
A argumentação é contestável, para dizer o mínimo: Estado mínimo com uma carga tributária que come 35% de toda a riqueza produzida pelo Brasil?
O Brasil de fato nunca foi ortodoxo. Consolidou-se nos últimos anos, do Plano Real para cá, um compromisso nacional e multipartidário com algum rigor econômico que garantiu estabilidade e previsibilidade, seminais para toda a emergência socioeconômica em curso no país.
Foram 17 anos nessa toada, longe de ortodoxa, mas perto do previsível. Essa previsibilidade conservadora, consolidada nos Anos Lula e tachada de "neoliberal" e "ortodoxa" sem nunca tê-lo sido, é abandonada agora pelo que parece ser o primeiro filho de fato importante dos nove meses iniciais do governo Dilma: a mudança na política econômica.
Nada foi declarado oficialmente. Mas a forma como o Banco Central cortou os juros e o anunciado aumento de imposto para importação de carros são os últimos exemplos, enfáticos, da mudança de rumo econômico que já seria possível constatar apenas registrando quem são os assessores mais próximos da presidenta hoje na área econômica.
Bresser em seu artigo argumenta que o novo desenvolvimentismo é pragmático e não se guia por premissas ideológicas. Tomara, porque a premissa ideológica hoje parece ser a do antimercadismo.
Como não há nada formulado, estruturado, anunciado, esclarecido, ficamos a conjecturar, como Bresser, o que seria a nova política econômica.
O que sabemos é que ela opera sob uma imensa facilidade às nossas custas: a explosão da arrecadação de tributos no país após o crescimento econômico e processos sustentáveis de formalização e bancarização da economia.
Em algum momento o Brasil iria relaxar seu conservadorismo econômico. Começou a fazê-lo em meio ao tumulto na economia global que está sendo justamente usado para justificar as mudanças.
"O desafio colocado pela crise", como expressou a própria Dilma em seu discurso na ONU, "é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo".
Talvez fosse melhor abandonar a segurança do conservadorismo econômico, que tanto fez pelo país, em momento mais tranquilo da economia mundial.
Mas os formuladores e formuladoras da nova política econômica não quiseram esperar para tirar seu novo instrumental macroeconômico da gaveta. Estavam ansiosos em mostrar que as coisas mudaram.
O "novo desenvolvimentismo", na falta de um nome ou explicação melhor, saiu do armário.

Sérgio Malbergier

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