sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Dez anos que encolheram os EUA

Depois do século americano, os EUA entraram no século 21 no auge de seu poder. Com o colapso do comunismo, o país estabeleceu em escala planetária seu domínio militar, econômico e cultural.
Quando George W. Bush assumiu a Casa Branca, em janeiro de 2001, o Orçamento militar dos EUA era de cerca de US$ 300 bilhões, mais de dez vezes a soma de todos os outros orçamentos militares do mundo.
O cenário da Guerra Fria, de duas superpotências disputando o mundo, havia dado lugar à hegemonia da hiperpotência global, e parecíamos diante de um novo século americano.
Mas, nove meses dentro do novo século e do primeiro mandato de George W. Bush, quatro aviões sequestrados por jihadistas implodiram a cena global ao vivo pela TV.
O aniversário de dez anos dos atentados do 11 de Setembro estimula a tal perspectiva histórica daquele trágico dia e de suas consequências. Abundam ensaios, livros e artigos sobre o assunto. Ele merece toda a atenção.
Há certo consenso nessa revisão perspectiva de que os atentados em si não foram tão relevantes para definir o curso da história, mas sim a reação dos EUA a eles. O que para mim dá na mesma. Ninguém discute o que é mais importante para a história, o ataque japonês a Pearl Harbor ou a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial; são um processo só.
A verdade é que se o grupo fanático, niilista e marginal de Osama Bin Laden não tivesse executado a carnificina espetacular do 11 de Setembro, os EUA não teriam enterrado trilhões em duas guerras invencíveis nem teriam adotado um unilateralismo armado que minaram sua estatura no mundo.
As guerras atolaram os EUA em dívidas que hoje dificultam enormemente sua recuperação econômica. E os erros diplomáticos e militares reduziram a liderança global do país. Bin Laden pode estar morto e sua rede terrorista, fatalmente golpeada, mas os EUA estão menores hoje do que há dez anos.
Há quem diga que essa decadência americana era inevitável com a superação da Guerra Fria, já que o fim da disputa EUA-União Soviética enfraqueceu inevitavelmente as alianças forjadas sob aquela lógica e possibilitou novas alianças regionais.
É certo que vivemos momento de mudança radical de poder.
Enquanto as crises de endividamento e confiança dos EUA, da Europa e do Japão paralisam o Hemisfério Norte, processos de desenvolvimento inclusivos e virtuosos catapultam países emergidos como China, Brasil e Índia ao centro do tabuleiro global.
Paralelamente, atores disruptivos e não-estatais, como a própria Al Qaeda, ganham força num planeta onde a tecnologia, a comunicação e o capital ignoram fronteiras.
O 11 de Setembro e os atos subseqüentes aceleraram essas transformações ao mostrarem os limites do poder americano.
Mas aos que amam odiar os Estados Unidos, para aqueles americanófilos reprimidos que só saem do armário para entrar na fila do visto do consulado americano, recomendo cautela na comemoração.
A terra de Barack Obama e Mark Zuckerberg ainda é muito maior e mais forte do que quase todas as combinações de seus rivais. Tem as melhores universidades, as maiores empresas e um dos melhores ambientes de negócios do mundo.
Parece que não teremos um segundo século americano. Mas os EUA provavelmente ainda serão o maior jogador no novo jogo das nações.
Olhando algumas das opções de política externa de China e Brasil, sinto-me aliviado.

Sérgio Malbergier

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