sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Dólar alto terá impacto menor sobre alimentos mas pode pressionar alugueis

Os turistas que vão para o exterior nos próximos meses estão preocupados com a elevação do dólar por causa dos gastos que realizarão fora do país.
Mas quem não pensa em viajar tão cedo também será afetado pela forte valorização que a moeda americana registrou neste mês.
Primeiro, nas compras de eletroeletrônicos. Nas pequenas lojas especializadas, como as da rua Santa Ifigênia, no centro da cidade de São Paulo, vários artigos –como HDs externos, calculadoras financeiras, tocadores de MP3, controles de videogames-- encontram-se em falta, porque os importadores estão segurando os produtos a fim de repassá-los nas próximas semanas já com reajuste de preços.
Não deve haver um choque no supermercado, entretanto, segundo os especialistas em inflação.
Os produtos que costumam subir mais nessas situações são aqueles cujas matérias-primas (as chamadas commodities agrícolas), negociadas no mercado internacional, têm cotação em dólar: o pão, o macarrão, a bolacha (ou biscoito, como quiserem ), feitos de farinha de trigo; a margarina, de óleo de soja; o açúcar.
"Porém, os preços das commodities estão recuando, o que compensa, em parte, a elevação da moeda americana", diz Heron do Carmo, estudioso de preços da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e presidente do Conselho Regional de Economia paulista. "Além disso, para o valor final de determinado item, contribuem as despesas com funcionários, transporte... Em alguns casos, a embalagem chega a custar mais do que o produto em si. Não se pode dizer que uma mercadoria vai ficar muito mais cara apenas devido à escalada do dólar."
Constituem exceção, logicamente, os itens manufaturados em outros países --azeites, vinhos e chocolates, por exemplo.
Demora um pouco para os reflexos aparecerem nas gôndolas. "Temos observado uma oscilação bastante forte no dólar. No entanto, somente se a moeda ficar em um nível mais alto por pelo menos um mês será possível perceber consequências nos alimentos", explica André Braz, economista da FGV (Fundação Getulio Vargas) responsável pelos cômputos dos seus índices de inflação. Cumprida tal condição, os efeitos surgiriam a partir de novembro, em pequenas doses, diluindo-se ao longo de seis meses.
É preciso considerar, adicionalmente, que a economia brasileira vem se desacelerando, o que dificulta o repasse do aumento dos comerciantes para o seu cliente. "Ainda é cedo para tirar conclusões, inclusive porque não sabemos em qual ponto a moeda americana vai se estabilizar", frisa Braz.
O governo está preocupado com o avanço dos preços porque os índices de inflação já estão acima da meta estabelecida, de entre 2,5% e 6,5% no ano.
Para o consumidor, a orientação é pesquisar mais os preços das mercadorias que costuma adquirir, considerar mudar de supermercado se notar reajustes excessivos, ou trocar a marca dos produtos que entram no seu carrinho.
Uma conseqüência mais importante poderá ser notada especialmente nos alugueis, cujos reajustes costumam ter como baliza o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV. Esse indicador contempla produtos que são mais afetados pela alta do dólar, minérios em estado bruto e matérias-primas industriais.
"A porcentagem usada para o acerto dos contratos é a acumulada em doze meses. Então, o tamanho do aumento será influenciado por outros fatores de médio prazo", pondera Braz.
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Denyse Godoy

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