quinta-feira, 31 de março de 2011

Sobre ser um bom professor no Brasil

Em uma pesquisa realizada pelo movimento “Todos pela Educação”, entidades nacionais e internacionais deram sua opinião sobre o que é ser um bom professor. O resultado pode ser conferido no boletim desta semana.
Os entrevistados destacaram vários pontos em comum, como a formação compatível dos profissionais da educação, salário digno, oferta de tempo e condições adequadas para que o professor prepare suas aulas.
Quem não gostaria de poder dizer que é feliz porque faz o que gosta e ainda é remunerado pelo trabalho? Infelizmente esse ideal está longe da carreira do magistério da educação básica. Falta estímulo ao professor, valorização, infraestrutura, salário digno. Sem perspectivas na carreira, é comum o desânimo e estresse entre os educadores.
Além disso, o muro da escola não deve ser visto como uma barreira física. A educação de qualidade que defendemos pressupõe a total integração entre a comunidade e a escola. Pais, diretores, professores, funcionários e alunos devem estar unidos para buscar soluções que alterem a realidade da educação.
Há quem pensa que lecionar é para quem não teve oportunidade melhor na vida. Mas ser educador é uma escolha. Escolha de quem ainda acredita que é por meio da educação que se formam cidadãos de bem. A CNTE luta por isso.

CNTE

Nota à Sociedade Brasileira e ao Congresso Nacional

O Fórum Nacional de Educação, espaço inédito de interlocução entre a sociedade civil e o Estado brasileiro, reivindicação histórica da comunidade educacional e fruto de deliberação da Conferência Nacional de Educação (Conae), aprovou - em sua primeira reunião ordinária ocorrida hoje - pela ratificação dos princípios acordados entre a Campanha Nacional pelo Direito à Educação e o Ministério da Educação acerca da tramitação do Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020) no Congresso Nacional.
Respeitando a soberania e a independência do Poder Legislativo, o Fórum Nacional de Educação defende que a tramitação do PL 8035/2010, que trata do PNE 2011-2020, deve ocorrer com base nos seguintes princípios:
1) A Comissão Especial, na qual irá tramitar o PL 8035/2010, deve ter a participação majoritária de parlamentares dedicados e comprometidos com a causa da educação, privilegiando membros da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados;
2) A tramitação do PL 8035/2010 deve ser célere, sem ser aligeirada, com a preocupação essencial de que haja qualidade nos debates em torno da matéria, tão importante ao País;
3) A tramitação do PL 8035/2010 deve ser democrática e participativa, compreendendo um amplo cronograma de audiências públicas capazes de garantir a necessária capilaridade e legitimidade ao futuro mecanismo legal de planejamento da educação brasileira. Adicionalmente ao acordo entre a Campanha Nacional pelo Direito à Educação e o
Ministério da Educação, responsável por estabelecer os princípios acima dispostos, o Fórum Nacional de Educação delibera que os debates em torno do PL 8035/2010 devem tomar como referência primordial as deliberações da Conae. Inclusive, o Fórum Nacional de Educação solicita, desde já, à futura Comissão Especial e à Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados a realização de audiências públicas para se debater a proposta do PNE à luz do Documento-Final da Conae.
O Fórum Nacional de Educação também deliberou que contribuirá para a organização de fóruns estaduais, distrital e municipais para que o PL 8035/2010 seja debatido com a maior capilaridade possível, fortalecendo a legitimidade do futuro Plano Nacional de Educação.
Por último, o Fórum Nacional de Educação entende ser essencial o estabelecimento de uma interlocução intensa entre a dimensão nacional e as dimensões estadual, distrital e municipal para o fortalecimento do PNE 2011-2020. O objetivo é garantir a devida abrangência federativa a um Plano de ampla envergadura e escopo. O FNE também crê ser fundamental garantir compromissos dos parlamentares, por meio da incidência junto a eles e elas a partir de suas bases, acerca dos
princípios expressos nesta Nota.

Assinam:
Órgãos e entidades presentes na primeira reunião ordinária do Fórum Nacional de
Educação
Associação Brasileira das Universidades Comunitárias - Abruc
Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais - Abruem
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – Anped
Campanha Nacional pelo Direito à Educação
Central Única dos Trabalhadores - CUT
Comissão Técnica Nacional de Diversidade para Assuntos relacionados à Educação dos Afro-brasileiros - Cadara
Confederação Nacional das Associações de Pais e Alunos - Confenapa
Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino - Confenen
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino - Contee
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - Contag
Confederação Nacional do Comércio - CNC
Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica - Conif
Conselho Nacional de Educação - CNE
Conselho Nacional de Secretários de Educação - Consed
Federação de Sindicatos de Trabalhadores de Universidades Brasileiras - Fasubra
Fórum de Professores das Instituições Federais de Ensino - Proifes
Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação - FNCEE
Ministério da Educação - MEC
Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica - Sinasefe
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC
União Brasileira dos Estudantes Secundaristas – Ubes
União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação - Uncme
União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - Undime
União Nacional dos Estudantes - Une

CNTE

quarta-feira, 30 de março de 2011

Nas nuvens!



Blog de Josias de Souza

Supremos ensinamentos!



Blog de Josias de Souza

Supremo picadeiro!



blog de Josias de Souza

Zé Alencar

Convivi de perto com o Zé Alencar. Durante os oito anos em que foi vice-presidente de Luiz Inácio Lula da Silva, estive com ele em diversos momentos. O fato de sermos mineiros nos aproximava. Lembro que todas conversas foram longas. Ele gostava de um bom papo. Podia até demorar te receber, mas, quando você entrava no seu gabinete, a conversa ia longe. Fosse um entrevista formal, gravada, ou um encontro totalmente em "off", jargão jornalístico que identifica uma conversa em que o interlocutor não será revelado. Na verdade, ele não costumava falar em "off", falava abertamente. Gostava de dizer que não tinha medo do que falava e não precisava ficar se escondendo.
Foi assim que, durante o governo Lula, se transformou no principal crítico dos juros altos. Fazia as críticas abertamente, sem pestanejar. Quando o interlocutor se mostrava surpreso com seu tom sincero, Zé Alencar sempre dizia que, se não pudesse falar o que pensava, não adiantava ficar na vida pública. E tome críticas. Em alguns momentos chegou a prometer que ficaria um pouco mais reservado, dando um sossego à equipe econômica.
Lembro que, certa vez, ele me recebeu no seu gabinete na vice-presidência e não quis fazer críticas aos juros altos. Disse que estava falando demais e precisava ficar um pouco quieto. Ao chegar na redação, fui surpreendido por várias notícias na internet com declarações do então vice-presidente contra a política monetária de Henrique Meirelles no Banco Central.
Liguei para seu chefe de Gabinete, Adriano Silva, que foi logo passando o telefone para Zé Alencar. "Uai, presidente, o que aconteceu, o sr. não aguentou ficar calado como havia prometido", fui logo perguntando. "Sabe, meu filho, eu até que tentei, mas não consigo ficar calado diante desses juros escorchantes. Não tem quem aguente ser empresário, gerar empregos, com um juro desse", respondeu, soltando uma gargalhada.
Do meu lado, não tenho do que reclamar em termos de informações. Fiz uma das primeiras entrevistas com o então vice-presidente. Ali ele já fazia críticas ao juros e reclamava uma reforma tributária profunda. Ele nos deixa sem que suas duas principais bandeiras tenham se tornado realidade. Os juros seguem elevados, não tanto quanto antes, é verdade. E a reforma tributária, pelo andar da carruagem, nunca será aprovada.
Lembro de uma entrevista que fiz com ele em dezembro de 2007. Ali, o vice disse: "Não tenho medo da morte, tenho medo da desonra". Frase de Sócrates que ele passou a repetir com frequência em seguida. Entrevista feita em Belo Horizonte, no escritório da Coteminas. Conversa realizada antes de um belo almoço mineiro servido por sua equipe. Tinha de tudo um pouco. Torresmo, linguiça, tutu, carne de panela, couve, farofa, feijão tropeiro, mandioca frita e a famosa cachaça mineira, a "Maria da Cruz", produzida em uma de suas fazendas.
Apesar de mineiro, não sou muito dado a beber cachaça. Mas ele sempre insistia comigo a tomar um trago da boa cachaça mineira quando nos encontrávamos para um almoço no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice Presidência. Naquele dia, não foi diferente. Acabei cedendo e tomando um dedo, fazendo aquela cara de quem não gostou. Ele ria da minha reação. E tomava sempre mais de uma dose. Com a melhor cara do mundo.
Costumava chamar Zé Alencar de presidente. Em uma de suas primeiras interinidades na Presidência, seu chefe de Gabinete, Adriano Silva, me ligou: "O vice está te convidando para dar uma passada aqui no gabinete da Presidência". Lá fui eu. Ele estava ocupando o gabinete de Lula. Ao chegar, encontrei-o sentado no sofá. Ele foi logo dizendo: "Estou aqui no gabinete do meu amigo Lula, mas a cadeira ali na frente é dele, ele é o meu presidente". Pedi uma entrevista, já antevendo declarações contra os juros altos. "Não posso, seria uma descortesia falar mal dos juros quando o Lula está fora do país", respondeu, em tom sério.
Essa era outra característica de Zé Alencar. Era muito bem humorado, adorava contar um bom "causo mineiro", mas quando algo não lhe agradava fechava o semblante e falava sério, determinado, mostrando firmeza. Foi assim naquele dia. Em seguida, ficamos conversando, falando de sua interinidade, jogando conversa fora, já que ele não iria mesmo dar uma entrevista formal. Foi mais uma das boas conversas que tive com ele, sempre acompanhadas pelo eterno assessor Adriano Silva. Enfim, Zé Alencar nos deixa com a lição de que precisamos lutar até o último momento, mesmo quando tudo parece perdido.

Valdo Cruz

Alencar foi fiador político de Lula, diz Kennedy Alencar

O ex-vice-presidente José Alencar, morto nesta terça-feira em decorrência de um câncer, foi de importância vital para a eleição de Lula em 2002. A opinião é do colunista de Kennedy Alencar, colunista da Folha.
Kennedy diz que o principal papel político do ex-vice-presidente foi como "fiador político de Lula" nas eleições de 2002. "Havia muita desconfiança quanto a capacidade do PT e implementar um programa de governo factível, principalmente no mercado e entre o empresariado", diz o colunista.
O jornalista lembra ainda das críticas que o político fez ao governo. "Depois, durante o governo Lula, com a aplicação de uma política econômica mais austera, mais rigorosa, o próprio José de Alencar se manteve à esquerda", afirma Kennedy.

Kennedy Alencar

Tudo pronto, só falta combinar com Gaddafi

A ampla coalizão anti-Gaddafi que se reuniu em Londres nesta terça-feira deixou perfeitamente delineado o que fazer agora: o ditador líbio renuncia; estabelece-se um diálogo nacional, a princípio sem excluir os partidários do regime, exceto, claro, os da primeira fila; e em um prazo incerto e não sabido a Líbia terá eleições justas e livres, o selo com que a comunidade internacional avaliza pleitos em países problemáticos.
Seria, pois, a menos suja de todas as guerras recentes e não tão recentes.
Só falta combinar com os russos, ops, com Gaddafi.
Até agora, o ditador não deu o mais leve sinal de que vai abandonar o poder. Em todo o caso, a Itália parece estar negociando uma saída que envolva asilo em algum país africano, no qual estaria fora do alcance do Tribunal Penal Internacional, que vai investigar se Gaddafi cometeu crimes de guerra.
É inimaginável que o ditador se decida a abandonar o poder se houver algum risco de que seja entregue ao TPI.
Por isso, Franco Frattini, o ministro italiano do Exterior, diz que "Gaddafi deve compreender que seria um ato de coragem dele dizer que entende que deve sair". Acrescentou Frattini: "Esperamos que a União Africana possa apresentar uma proposta válida" [para o asilo do tirano].
É bom ressaltar que a Itália, por ter sido o poder colonial lá atrás e, mais recentemente, o mais íntimo aliado de Gaddafi, é o país ocidental mais bem informado a respeito do que acontece na Líbia.
Messiânico como se mostra, é pouco provável que Gaddafi aceite que uma renúncia possa ser rotulada como "ato de coragem".
Por isso, o "script" da coalizão anti-Gaddafi, por mais bonitinho e asséptico que seja, corre o risco de descarrilar no primeiro passo, que é justamente a saída do ditador, o que, em tese, traria o fim da guerra.
Criar-se-ia, nesse caso, a situação assim descrita por Tarak Barkawi, do Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Cambridge, em artigo para o 'site' da rede Al Jazeera, a melhor fonte de informação sobre o quadro no Oriente Médio:
"O Ocidente agora se arrisca a criar uma situação em que nem autoriza nem cria as condições para que os rebeldes derrubem Gaddafi nem pode fazê-lo ele próprio".
O único problema com essa frase é a palavra "Ocidente". Da reunião de Londres participaram países que não são ocidentais, casos de Jordânia, Kuait, Líbano, Marrocos, Qatar, Tunísia, Turquia e Emirados Árabes Unidos, para não mencionar o secretário-geral da Organização da Conferência Islâmica, o embaixador da Liga Árabe em Londres e um observador da Indonésia, o país com a maior população muçulmana no planeta.
Ou seja, a coalizão anti-Gaddafi tem uma representatividade bastante grande. O Qatar, aliás, ofereceu-se para sede da próxima reunião do que passou a ser chamado de 'grupo de contato', ou seja, o diretório que vai cuidar de trabalhar a Líbia pós-Gaddafi.
O problema, no entanto, não é o "pós" mas o agora.

Clóvis Rossi

Outras palavras

Novas situações costumam demandar novas palavras para descrevê-las. Quando essas palavras ainda não estão disponíveis, o único jeito é recorrer a velhos termos conhecidos, nem sempre adequados.
Não há, por exemplo, uma expressão correta para definir quem acompanha seus movimentos públicos pelas redes sociais, ainda mais se essa atitude não for recíproca. Eles certamente não são íntimos como acompanhantes, políticos como espiões, doentes como perseguidores, fofoqueiros como fãs, partidários como seguidores nem fiéis como adeptos de uma filosofia, religião ou time de futebol. Qualquer nome que se dê a eles será excessivo ou incompleto e raso. Da mesma forma, não se pode chamar de debate, resposta ou conversa o ato de se responder a atualizações de Twitter via Facebook. Ou de busca ou pesquisa o que se faz via Google.
Como essas ações, várias novas emoções são abrangentes e específicas demais para serem enquadradas como formas de angústia ou ansiedade: a necessidade de se verificar o Twitter, o sofrimento na espera por e-mails não respondidos instantaneamente, o desespero com caixas postais e listas crescentes de coisas a fazer, a impaciência com um silêncio repentino em sistemas de mensagens instantâneas, a vontade de experimentar novas personalidades, gêneros, idades e profissões em redes de relacionamento, a irritação provocada por respostas ou comentários abertos que discordem de sua opinião em mídias sociais, o incômodo com quem não se comporta da forma "correta", a agonia de não saber o suficiente ou de ser confrontado por alguém que saiba mais sobre o assunto de que você fala (qualquer que seja a pessoa ou o assunto), a compulsão por manter várias janelas abertas, várias listas incompletas e várias páginas marcadas para uma referência tardia que nunca ocorrerá... são várias as emoções que, de tão novas, ainda não aceitam definições e só serão descritas com precisão por palavras novas que, como estresse e engarrafamentos, um dia se tornarão comuns.
O mesmo se aplica aos velhos termos que são repropositados para se adaptar às novas ocasiões. Hoje quando alguém diz que falou com outro, não quer dizer que essa conversa tenha acontecido ao vivo, e nem mesmo por voz. "Falar" se refere a praticamente qualquer canal de comunicação, de Skype a mensagens via SMS, sem levar em consideração as diferenças específicas de cada meio. Complementar a expressão pode ajudar, se bem que "falei com fulano por e-mail" não facilite a compreensão. Que fonemas, afinal, alguém usa quando fala por escrito?
Da mesma forma, o "amigo" de uma rede social é quem antigamente era chamado de "conhecido", mesmo que tenha acesso a informações com um grau de intimidade que jamais se imaginou que seriam públicas. Na verdade ele não é uma coisa nem outra, hoje que é fácil criar relações de afinidade, compartilhar sentimentos, pertencer a grupos e dividir a intimidade com estranhos se tornou tão fácil. Nesses termos, a própria palavra "intimidade" perdeu um bocado de sentido.
As novas expressões ainda soam muito esquisitas mas vão sendo, aos poucos, incorporadas. Qualquer adolescente conectado sabe que quem "upa e shareia, ruleia", se referindo à boa aceitação daqueles que compartilham conteúdo na rede. Essa expressão, com várias outras, cria aos poucos uma língua diferente, restrita aos que usam a tecnologia com frequência.
Para diminuir a a barreira da exclusão digital é preciso parar de pensar nas tecnologias de interação como ferramentas e passar a encará-las como formas de comunicação que possibilitam a seus usuários o acesso a novas áreas de conhecimento. Dominá-las é cada vez mais parecido com a fluência em uma língua estrangeira do que com o domínio de uma técnica.

Luli Radfahrer

domingo, 27 de março de 2011

Anjo para confortar


Em um dos momentos mais difíceis de sua vida, Jesus estava tão triste com o que ia acontecer que implorou a Deus:
“Afasta de mim esse cálice”.
Mas, mesmo torturado e deprimido, decidiu aceitar a vontade de Deus para ele. E então aconteceu um fato muito interessante. Deus enviou um Anjo do céu para confortá-lo.
Nem o filho de Deus tentou se erguer sozinho de uma grave depressão. Ele buscou ajuda e obteve.
Curiosamente a ajuda que recebeu não era o que ele suplicara: “afasta de mim esse cálice”.
Esta é provavelmente a mesma oração que muitos de nós fazemos quando estamos nos sentindo mal.
Você provavelmente já implorou algo assim: “estou sofrendo meu Deus, por favor afasta de mim esse sofrimento”.
Mas, assim como fez com Jesus, Deus talvez não tenha tirado você daquela situação,
mas lhe deu força para atravessá-la.
Muitas vezes, no meio de muita dor, é difícil aceitar esse tipo de ajuda,
porque o que queremos é nos livrar do problema.
“Deus não fez desaparecer o motivo da dor de Jesus, mas enviou um Anjo para confortá-lo”.
Da próxima vez que você estiver triste e pedir que Deus o ajude em sua dor, lembre-se do que Ele fez com Jesus, certamente irá encontrar um Anjo para confortá-lo

Depois da impunidade, a bonança!



Blog de Josias de Souza

Lavanderia Suprema!



Blog de Josias de Souza

Regime de engorda!



Blog de Josias de Souza

Em matéria de Irã, gestão Dilma já ficou ‘grandinha’



Blog de Josias de Souza

Mísseis do bem!



Blog de Josias de Souza

Ben Jor X Chico Buarque



Blog de Josias de Souza
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi sincero ao dizer que recusou o convite para o almoço com Barack Obama no Itamaraty a fim de não "atrapalhar" a presidente Dilma Rousseff. Outras versões, como a de não saber dividir holofotes, subestimam Lula, exatamente como acontecia quando ele estava no poder.
É um erro apostar numa ruptura entre Dilma e Lula. Os dois se falam com uma frequência maior do que se imagina. Ele avalia que precisa ter cuidado para não fazer intromissões indevidas. Ela tem usado a força de Lula como um escudo em situações em que não pode se expor, como na guerra com as centrais sindicais para aprovar o salário mínimo de R$ 545 e nas articulações no PT sobre reforma política e eleições municipais de 2012.
A inegável mudança sobre direitos humanos na política externa é um detalhe que não afetará o projeto prioritário dos dois: Lula e Dilma estarão juntos em 2014 para tentar continuar no poder.
Espinha de peixe
Houve, porém, um motivo adicional para a ausência de Lula no almoço do Itamaraty. Ele gosta de Obama, mas deixou o poder contrariado com um gesto do presidente americano. No ano passado, Obama combinou com Lula que seria feita uma tentativa de acordo com o Irã a respeito do programa nuclear daquele país.
A articulação do Brasil e da Turquia teve estímulo do americano. Isso ficou claro numa carta que Obama enviou a Lula duas semanas antes da visita do brasileiro a Teerã, o que aconteceu em meados de maio de 2010.
Na carta, Obama dizia que o Irã criaria "confiança" na comunidade internacional caso aceitasse enviar 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido para a Turquia. Em troca, receberia 120 quilos de combustível nuclear.
Mas Obama puxou o tapete de Lula, pressionado pela secretária de Estado, Hillary Clinton.
Fora da agenda
Havia no Palácio do Planalto o desejo de adiar a substituição do presidente da Vale, Roger Agnelli. Dilma avaliava que poderia postergar uma briga que causaria desgaste logo no início do governo. Afinal, é uma intervenção política na maior empresa privada do país.
Mas o vazamento de uma reunião do ministro Guido Mantega (Fazenda) com o Bradesco dificultou a sobrevida de Agnelli.
Pode ou não pode?
É respeitável o argumento de que o governo não deve interferir na gestão das empresas privadas, ainda mais na Vale, que tem de levar em conta os altos e baixos do mercado global.
No entanto, todas as grandes empresas do país procuram o governo quando isso lhes interessa. No caso de uma companhia que explora recursos não renováveis, é legítimo que o governo manifeste interesse nos seus rumos. O problema é a dosagem da interferência.

Kennedy Alencar

Rubens Paiva, um homem de bem

Quando fui morar no Rio de Janeiro no começo dos anos 90, para dirigir a sucursal carioca da Folha, instalei-me inicialmente num flat na rua Almirante Pereira Guimarães, Leblon. Ao contar que era pra lá que eu estava indo ao amigo Marcelo Rubens Paiva, escritor, cronista e dramaturgo, ele me disse: "Morei ali. Nossa casa ficava na esquina da Pereira Guimarães com a Delfim Moreira, de frente para o mar..."
À época, o máximo que fiz foi constatar que no lugar da tal casa existia um (mais um) edifício modernoso, como tantos que surgiram na orla carioca a partir dos anos 70, período a que Marcelo se referia.
E sempre que passava por aquele pedaço da praia lembrava da observação do Marcelo, imaginando como deveria ser bucólica a vida na agora movimentada avenida, mas sem nunca fazer a ligação óbvia: fora naquele endereço, naquela casa hoje inexistente que ocorrera talvez o crime político, crime de Estado, mais vergonhoso da história recente do país: a prisão, com posterior desaparecimento, do empresário e ex-deputado Rubens Paiva, pai de Marcelo, pai de família, um democrata, um homem de bem.
No dia 21 de janeiro de 1971, agentes da ditadura militar, não-identificados e fortemente armados, tiraram Rubens Paiva de sua casa, onde vivia legal e pacatamente, na frente da mulher e dos filhos, levando-o para uma instalação militar no bairro da Tijuca, a pretexto de prestar um depoimento. Trata-se da a última vez que Paiva foi visto pelos seus.
A mulher Eunice e a filha Eliana chegaram também a ser presas no mesmo lugar, ameaçadas de tortura, mas foram soltas depois.
Rubens não.
Rubens foi torturado barbaramente, segundo relatos colhidos ao longo dos anos, e morreu nas mãos de seus algozes, que trataram de fazer desaparecer seu corpo.
Como exatamente, onde exatamente, quando exatamente morreu e onde foi parar o corpo de seu pai é uma dúvida que meu amigo Marcelo e sua família carregam há 40 anos.
Uma angústia, uma perda e um carma com o qual tiveram de aprender a conviver sem que lhes perguntassem se queriam ou não, se podiam ou não.
Rubens nasceu em Santos em 1929 e foi morto no Rio com apenas 42 anos. Não era um criminoso, era um pai de família, um empresário, um homem agradável, divertido, amigo dos amigo, honesto e amoroso. Um político cassado porque queria o melhor para o seu país de uma maneira diferente do que aquela pretendida pelos militares ditadores, que não admitiam ser contrariados.
Anos atrás, o Estado brasileiro reconheceu a responsabilidade pela morte de Rubens, finalmente foi expedido atestado de óbito, houve indenização, o que é correto, mas tudo é insuficiente: seu corpo nunca foi devolvido a seus familiares, da mesma forma que seus carrascos jamais identificados, muito menos punidos.
Há diversos relatos e depoimentos dando conta de conflitantes versões sobre seu paradeiro. No entanto, nunca houve um empenho verdadeiro e efetivo por parte do Estado brasileiro para que essa mácula da nossa história fosse definitivamente esclarecida.
Talvez o seja um dia, e não será tarde para que sua memória e o sofrimento de sua família sejam finalmente respeitados.
Para quem quiser conhecer um pouco mais da história deste brasileiro admirável e que simboliza os anos terríveis que este país passou muito recentemente, duas dicas:
Neste sábado 26 de março, familiares, amigos e admiradores de Rubens Paiva se reúnem na abertura da exposição 'Não tens epitáfio, pois és bandeira', que reconstitui parte da trajetória de Rubens Paiva, no Memorial da Resistência de São Paulo (Largo General Osório, 66 - Luz), a partir das 11h.
E está nas livrarias 'Segredo de Estado - O Desaparecimento de Rubens Paiva', (Objetiva, 331 págs.) do escritor Jason Tércio. Trata-se de um grande esforço documental e biográfico, mesclado a trechos de ficção, que dá bem a medida de quem foi e o que aconteceu com Rubens Paiva.
Um homem de bem.

Luiz Caversan

Obama no Brasil: cadê os "deliverables"?

Está certo, faltaram "deliverables" na bagagem que o presidente americano, Barack Obama, trouxe ao Brasil. "Deliverables", na linguagem dos diplomatas, são os "resultados concretos". Obama não trouxe o apoio explícito à ambição do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, limitou-se a demonstrar "apreço". Tampouco anunciou uma aceleração na eliminação de barreiras sanitárias a produtos brasileiros como a carne isso, ao contrário da tarifa sobre o etanol, poderia se beneficiar de medidas do Executivo, não precisa do OK do Congresso.
Só para comparar, o presidente chinês, Hu Jintao, levou a Washington uma bela bagagem de "deliverables" de setor privado (que na China se mistura ao público, obviamente) quando visitou a Casa Branca, em janeiro. Assinou finalmente uma empacada compra de 200 jatos da Boeing, no valor de US$ 19 bilhões, foram fechados contratos de energia e ferrovias para a GE, e uma joint-venture entre a Honeywell e a Haier.
Para o Brasil, vieram promessas de financiamento de US$ 1 bilhão do Exim Bank para empresas americanas que queiram entrar na demanda de obras de infraestrutura para a Copa de 2014 e Olimpíada de 2016. Em 2010, os EUA haviam anunciado uma linha de US$ 2 bilhões para fornecedores de equipamentos para a exploração do pré-sal o que está bem aquém dos US$ 10 bilhões que a China ofereceu em crédito à Petrobras em 2009 e os US$ 25 bilhões do BNDES.
Nas palavras do ex-chanceler Celso Amorim em entrevista à repórter especial Cláudia Antunes, "dizer que foi uma visita histórica, só se for pelo primeiro presidente negro americano visitar o Brasil". "Não houve nada de prático", completou.
Mas tendo dito isso, ainda há muito a comemorar na visita. Em primeiro lugar, o Brasil ganhou um status semelhante ao de China e Índia no diálogo econômico com os Estados Unidos. Com o estabelecimento de diálogos estratégicos em energia, que se somam aos diálogos entre ministérios da Fazenda e Bancos Centrais, além da assinatura do acordo de cooperação econômica, o Teca, os dois países têm agora uma estrutura formal para discutir uma série de questões do mesmo jeito que os EUA mantêm com China e Índia.
"Os dois presidentes instruíram suas equipes claramente sobre a importância de avançar nesses assuntos, elevando-os a um status similar ao que temos com China, Índia e Rússia, onde temos uma série de diálogos estratégicos se reportando em alto nível aos presidentes", disse Dan Restrepo, responsável por Hemisfério ocidental na Casa Branca, em uma entrevista.
Não, não se trata ainda de passos concretos. Mas é importante institucionalizar a relação, ter canais formais para resolução de pendências. Assim, da próxima vez que um líder americano visitar o Brasil, talvez haja mais "deliverables".

Patrícia Campos Melo

quinta-feira, 24 de março de 2011

STF decide que lei Maria da Penha é constitucional

O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu hoje que a Lei Maria da Penha está de acordo com a Constituição ao impedir benefícios para agressores, como a suspensão do processo. Durante o julgamento, os ministros afirmaram que os crimes praticados no ambiente doméstico contra a mulher são gravíssimos, têm repercussão em toda a família e, por esse motivo, precisam ser combatidos.
Os integrantes do STF observaram que as agressões não se resumem à parte física, mas também atingem o lado psicológico. Recém empossado, o ministro Luiz Fux disse que "mulheres que sofrem violência doméstica não são iguais às que não sofrem violência doméstica". A ministra Cármen Lúcia disse que até ela sofre preconceito. Segundo ela, esse preconceito se manifesta quando um carro dirigido por um homem emparelha com o carro oficial em que ela se encontra e o motorista fica espantado ao descobrir que a passageira do carro oficial é uma mulher.
O STF tomou a decisão sobre a Lei Maria da Penha ao julgar e rejeitar um pedido de habeas corpus em nome de Cedenir Balbe Bertolini. Acusado de ter dado tapas e empurrado a companheira, ele foi condenado à pena restritiva de liberdade de 15 dias, convertida em pena alternativa de prestação de serviços à comunidade, e recorreu contra a condenação. Além de questionar o dispositivo da lei que impede a suspensão do processo, a defesa alegou que o caso deveria ter sido julgado por um juizado especial criminal.
Em nome do Ministério Público Federal, a vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, argumentou que os juizados criminais especiais têm-se mostrado incapazes de enfrentar a violência doméstica porque, segundo ela, estariam abordando o problema de forma superficial.

Mariângela Gallucci

Os obstáculos para ser professor

Apesar do piso nacional, a profissão não é valorizada e é pouco procurada pelos pré-universitários
Entre setembro e outubro de 2009, três estudos foram divulgados com o objetivo de traçar um panorama da situação salarial dos professores da Educação Básica no Brasil. O primeiro deles foi encomendado pela Unesco às pesquisadoras Bernadete Angelina Gatti e Elba Siqueira de Sá Barreto, da Fundação Carlos Chagas. No mesmo mês, um segundo levantamento foi realizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), com foco no pagamento recebido por professores em início de carreira. Já em outubro, o Ministério da Educação (MEC) comparou os vencimentos do magistério público entre 2003 e 2008.
A principal conclusão da pesquisa do MEC foi que houve um aumento do salário médio dos professores da Educação Básica pública. Em 2003, o valor médio era de 994 reais, em comparação aos 1.527 reais obtidos em 2008. Foram utilizados dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o estudo, que é separado por estados, no Distrito Federal é onde se paga melhor aos professores, com renda média em 3.360 reais. Na outra ponta da tabela está Pernambuco, onde a média de rendimento é de 982 reais, a mais baixa do País. O valor pago pelo DF está muito acima da média nacional, pese que o segundo colocado, o Rio de Janeiro, paga 2.004 reais em média ao magistério, e o terceiro, o estado de São Paulo, 1.845 reais em média. Entretanto, o estudo revela que, entre os 26 estados e o DF, 16 têm salários abaixo da média nacional. Esses estados estão concentrados nas regiões Norte e Nordeste. Porém, na Região Sul, Santa Catarina (1.366 reais) paga abaixo. No Sudeste, por sua vez, Minas Gerais e Espírito Santo (1.443 e 1.401 reais, respectivamente) estão na mesma situação. As informações se referem a uma jornada semanal de 40 horas.
Para o presidente da CNTE, Roberto Franklin de Leão, os dados do MEC podem ser contestados. "Falar em média é muito complicado, porque os poucos estados que pagam mais puxam o restante para cima", relata. A pesquisadora Bernadete Gatti faz a mesma crítica: "Em uma classe, se um aluno tira nota zero e o outro nota 10, a média é 5. A média camufla demais a situação". Roberto de Leão defende que a questão da composição salarial também tem de ser levada em conta. "Há uma diferença entre salário e remuneração. Muitos estados completam os pagamentos com abonos e gratificações." Segundo o levantamento da CNTE, o salário de início de carreira para um professor com licenciatura plena e que trabalhe 40 horas por semana em Mato Grosso do Sul é de 1.496,25 reais. Porém, com as gratificações, esse valor chega a 2.394 reais. A CNTE afirma que, ao fazer isso, os estados desvalorizam a carreira, uma vez que, em caso de aumento salarial, a promoção incide apenas sobre o vencimento. "Ocorre o risco de um piso salarial transformar-se em teto, o que torna a carreira do docente inviável. Se o professor for, por algum problema, aposentado, também não se incorporam essas gratificações nas aposentadorias", conclui Roberto de Leão.
Outro problema apontado por Bernadete é que os planos de carreira dos estados e municípios, quando existem, não são atrativos para os profissionais. "Em muitos casos, os planos são simplistas e colocam um valor final muito próximo ao da remuneração inicial", relata. Nesse sentido, o estudo do MEC conta com uma tabela em que apenas professores com nível superior completo ou incompleto são considerados, numa média de, aproximadamente, 14 anos de escolaridade. Se comparado com os dados fornecidos pela CNTE para profissionais com licenciatura curta, há uma proximidade entre o salário inicial e a média em alguns estados. No Ceará, por exemplo, a média indicada pelo MEC é de 1.249 reais, enquanto a remuneração de início de carreira é de 1.092,27 reais.

Escolaridade aumenta a renda

No relatório Professores do Brasil: Impasses e desafios, Bernadete e Elba ressaltam a heterogeneidade das políticas salariais de docentes no País e as inúmeras variáveis que devem ser levadas em conta para compreender a situação de remuneração desses profissionais. Primeiro, é preciso diferenciar todas as etapas da Educação Básica. Professores que ensinam na educação infantil e Fundamental têm salários menores do que seus colegas de Ensino Médio. Com dados da PNAD 2006, as autoras constataram que a média salarial na Região Sudeste de um professor em atividade na educação infantil é de 809 reais, enquanto, nos anos do Ensino Médio, o valor é de 1.066 reais. Do mesmo modo, no Nordeste, as médias dos ensinos infantil e Fundamental são 390 e 585 reais, respectivamente, e de 1.180 reais no Ensino Médio.
Uma segunda questão a ser levada em conta é a escolaridade dos profissionais. No Ensino Fundamental, docentes com até oito anos de escolaridade, ou seja, os professores que têm apenas o Ensino Médio completo, ganham no Sudeste 429 reais em média. Já a média de profissionais que estudaram de 12 a 14 anos é de 690 reais, valor que sobe para 1.151 para pessoas com até 17 anos de escolaridade. As autoras afirmam que as sucessivas graduações pesam positivamente nos vencimentos, o que indica uma coerência com os planos de carreira.
Por último, o cálculo das medianas permite entender a situação salarial da maioria dos docentes em cada região. A mediana é o ponto em que 50% do total dos entrevistados se situa abaixo de um determinado valor. Por exemplo, a média salarial, segundo a PNAD 2006, de um professor do Ensino Fundamental na Região Norte é de 870 reais, enquanto a mediana é de 750 reais. Isso significa que 50% dos professores dessa região ganham menos que 750 reais. Um profissional na mesma situação na Região Sul tem como média de rendimento 1.018 reais e uma mediana de 850 reais. Para Roberto Franklin de Leão, a avaliação das medianas permite constatar que a grande maioria dos professores da Educação Básica ganha abaixo das médias.
No estudo, as autoras comentam que a complexidade e a heterogeneidade da situação salarial dos professores devem-se, entre outros fatores, à organização descentralizada no que diz respeito a políticas de remuneração no País. "Há no País 5.561 municípios, 26 estados e um Distrito Federal, cada qual com seus sistemas de ensino e regulamentações próprios", escrevem. Apesar disso, Bernadete Gatti se posiciona contra a centralização das atribuições da educação. "A União deve exercer um papel regulador e complementador. Mas é impossível falar em uma política única para a educação em um país tão diverso como o Brasil." A pesquisadora lembra que em alguns países com melhores condições de remuneração para professores, como Argentina e Estados Unidos, as políticas salariais também são descentralizadas.

Profissão menos valorizada e procurada

O aumento salarial registrado pelo MEC coloca a carreira do magistério mais bem remunerada em quase 600 reais do que a média dos trabalhadores brasileiros, segundo revelou o jornal O Estado de S. Paulo. Porém, comparada às outras profissões com exigência de nível superior, a média salarial dos docentes é bem inferior. Segundo o estudo de Bernadete e Elba, o rendimento médio mensal de arquitetos é de 2.018 reais, enquanto o do magistério se aproxima de 1.200 reais. O valor pago aos professores também é inferior quando comparado com biólogos (1.791 reais); enfermeiros (1.751 reais) e farmacêuticos (2.212 reais). O cálculo foi realizado para jornadas de 40 horas por semana.
A desvalorização da carreira do docente na Educação Básica é refletida na procura por cursos de Pedagogia e Licenciatura, como Letras e Matemática. "Entre 2001 e 2006, houve um aumento de 97% na oferta de cursos de Pedagogia no País, porém, o número de matriculas aumentou apenas 27%", explica Bernadete. Para se ter uma ideia, as inscrições para o curso de Pedagogia da Universidade de São Paulo, no campus da capital, caíram de 3.310 na Fuvest 2006 para 1.380 na edição 2009 do vestibular. Para a pesquisadora, os cursos de Licenciatura são pouco valorizados nas universidades e tratados como de menor importância. "Há falta de materiais adequados e o número de aulas exigidas é cada vez menor". Bernadete afirma que a desvalorização da carreira pelas redes de ensino municipal, estadual e as próprias universidades e a representação do trabalho do professor como vocação, e não uma profissão são fatores que contribuem para a queda da procura e para os baixos salários.

CNTE

Julgamento da ADI do Piso no STF será no dia 30 de março


O Supremo Tribunal Federal deve julgar o mérito da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4.167) na próxima quarta-feira, dia 30. A ADI que contesta o Piso Salarial dos educadores é o primeiro item da pauta, de acordo com informações repassadas à Assessoria jurídica da CNTE pela presidência do STF.
Um ato será realizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em defesa da Lei do Piso.
Cerca de 100 pessoas vão acompanhar o julgamento no Plenário do Supremo. Dois dirigentes por afiliada (82 representantes das 41 entidades), mais a diretoria executiva da Confederação.
O traje masculino para acesso ao plenário do STF é, obrigatoriamente, social (terno, gravata e calça social), e o feminino é calça social com blazer ou saia com blazer ou vestido com manga.
Nossa capacidade de mobilização será fundamental para o resultado positivo no julgamento desta ADI. (CNTE, 24/03/11)

quarta-feira, 23 de março de 2011

Alunos se prejudicam com falta de estrutura nas escolas


O censo escolar do MEC aponta que no ano passado, 70% dos alunos dos ensinos fundamental e médio estudaram em escolas que faltaram laboratórios de ciências, informática, biblioteca ou quadra de esportes. Desse percentual, 27 milhões estudavam sem laboratórios de ciências, 15 milhões sem biblioteca e 35% em locais sem quadra. Os dados consideraram tanto a rede pública quanto a privada.
O presidente do Sintepe, Heleno Araújo enfatiza a necessidade de investir em novas formas de adquirir conhecimento. "O aluno rende muito quando pesquisa em laboratório e no momento em que pratica esporte. Não se pode tirar do aluno esse direito", pontuou. A pesquisa colocou ainda que nas séries finais do fundamental, a situação era mais grave.
A representante do Conselho Nacional de Secretários de Educação, Rosa Neide de Almeida ressaltam os prejuízos que os alunos possivelmente terão na formação. "O Brasil está fazendo o dever de casa em aspectos primários", bradou. O coordenador do Grupo de Trabalho de Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Isaac Roitman, analisa a situação como vergonhosa e sugere o lançamento do Programa de Aceleração de Crescimento, PAC, para recuperar escolas e formar professores. "Deveria ser prioridade para quem pensa no futuro do país".
Segundo o sindicalista Heleno, é necessário ter profissionais que saibam utilizar os recursos para que os alunos usufruam de forma saudável da tecnologia que dispõe.

Sintepe

Professores de escolas públicas terão bolsas para mestrado a distância

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) concederá bolsas de mestrado profissional a distância para professores da educação básica que lecionam em escolas públicas.
A medida foi anunciada ontem (21) pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, onde a presidente da República, Dilma Rousseff, condecorou 11 educadoras com a medalha da Ordem Nacional do Mérito.
As bolsas exigem dos docentes o compromisso de continuar em exercício na rede pública por um período de cinco anos após a conclusão do mestrado. Os docentes que descumprirem este prazo terão de devolver os recursos.
De acordo com o Ministério da Educação, a inciativa integra um conjunto de ações para elevar a qualidade da educação básica, definida pelo MEC como “área excepcionalmente priorizada”, no intuito de cumprir a meta do país de atingir a nota 6 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) até 2021.
“Queremos garantir o prosseguimento do estudo do professor, agora com mais que uma especialização – com um mestrado”, explicou Haddad. A cada mês de março, o benefício será liberado e terá vigência máxima de 24 meses e os professores poderão acumular a bolsa com seus salários.
As próprias instituições de ensino vão estabelecer seus critérios de seleção. Ainda segundo o ministério, existe também a possibilidade de concessão de bolsas para mestrados presenciais, desde que em cursos aprovados pela Capes e consideradas algumas situações de interesse específico do Estado.

Fonte: MEC

terça-feira, 22 de março de 2011

Efeito Cidade de Deus!



Blog de Josias de Souza

O ex-cara!



Blog de Josias de Souza

Ex-redentor!



Blog de Josias de Souza

Engenheiros vão inventar a cura do câncer?

Essa é a pergunta que muitos cientistas se fizeram quando as duas mais renomadas universidades do mundo (MIT e Harvard) se juntaram para desenvolver o mais sofisticado centro de pesquisa contra o câncer de que se tem notícia, inaugurado neste mês.
Não se sabe a resposta a essa pergunta, claro. Mas se houver uma vacina ou algum tratamento revolucionário, provavelmente aquele centro, batizado de David Koch, estará envolvido (o detalhamento está no www.catracalivre.com.br).
Instalado no campus do MIT, a novidade é que reuniram num mesmo prédio os mais diferentes tipos de pesquisadores em oncologia, química, biologia com engenheiros. Dessa mistura imagina-se que seria mais fácil encontrar novo remédios os engenheiros podem, por exemplo, desenvolver ínfimos chips, invisíveis aos olhos, injetados no corpo para lutar contra os tumores.
Desse núcleo, estão montando consórcios de pesquisa pelo mundo, criando-se uma malha planetária de pesquisas, mantidos com dinheiro público e privado.
Uma lição aqui vai além da medicina: se as universidades não quebrarem barreiras de seus departamentos e criarem espaços para criações coletivas, juntando as mais diversas especialidades, elas ficarão rapidamente obsoletas.

Gilberto Dimenstein

Em nome de Lula

Dilma Rousseff, presidente brasileira, fará sua segunda viagem internacional na próxima semana. Programou visita a Portugal. Deve passar quatro dias em terras portuguesas. Vai se reunir com o presidente português, Anibal Cavaco Silva, e o primeiro-ministro, José Sócrates Carvalho. Os encontros devem acontecer no dia 31 de março.
O real motivo da viagem a Portugal, porém, acontecerá no dia anterior. No dia 30 de março, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai receber o título de doutor honoris causa da Universidade de Coimbra.
Dilma, ex-ministra de Lula, a quem deve sua eleição para Presidência da República, faz questão de estar presente no evento em que o ex-chefe será agraciado.
Nas palavras de um assessor, a viagem de Dilma faz parte dos sinais que tem enviado e pretende continuar enviando aos "profissionais de intrigas de plantão", que, segundo ele, insistem em criar atritos inexistentes entre os dois.
Um aliado de Dilma e Lula faz questão de destacar que, apesar das diferenças de estilo, os dois jamais entrarão em atrito. A atual presidente reconhece que, sem Lula, não teria chegado ao cargo máximo do país.
Diferenças de estilo que, por sinal, estão agradando inclusive a oposição. A presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em Brasília durante a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi mais uma demonstração da avaliação positiva que faz dessa fase inicial da gestão da petista.
FHC, durante a campanha, não poupou críticas em relação à então candidata Dilma. Passada a eleição, porém, e diante dos primeiros meses da administração da petista, o tucano emite sinais de aprovação sobre o comportamento da atual presidente.
Fernando Henrique Cardoso segue como principal referência dentro do PSDB, apesar de muitos amigos dentro do seu partido insistirem em não reconhecer esse seu papel. Suas últimas declarações favoráveis a Dilma Rousseff devem estar deixando o grupo de José Serra bastante contrariado, que no início do atual governo ensaiou críticas contra os primeiros atos da petista.
Coincidência ou não, os serristas recolheram sua artilharia. Até quando? A conferir nos próximos lances da disputa pelo comando do PSDB.

Valdo Cruz

A volta do vira-lata

O complexo de vira-lata que assola a alma brasileira (segundo Nélson Rodrigues) não poderia faltar na visita do presidente Barack Obama aos trópicos.
Boa parte do noticiário girou em torno de como o "dono do cachorro" o afagaria em sua pretensão de ser integrante permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Se seria enfático, se seria suave, se se omitiria, se faria com o Brasil o que fez com a Índia (endosso formal).
É evidente que a posição dos Estados Unidos a respeito do que quer que ocorra no planeta é relevante, por se tratar da única superpotência remanescente, depois do fim da União Soviética (que, aliás, revelou-se superpotência de pés de barro).
Mas daí até ficar pendente de uma palavra do presidente norte-americano como se fosse a tábua da lei vai uma distância considerável que não é preciso percorrer.
O Brasil vai (ou não) ser membro do CS da ONU, o coração do sistema Nações Unidas, pelo que é, principalmente, e também pelo que faz (ou deixa de fazer). Não pelo que diga ou deixe de dizer Obama ou qualquer outro líder.
Nesse sentido, o Brasil é candidato mais que natural a um lugar no CS. É a segunda maior democracia do hemisfério ocidental, depois dos próprios Estados Unidos, é a sétima economia do planeta, é uma zona de paz, que não tem conflito com os vizinhos nem enfrenta problemas étnicos, religiosos etc.
Logo, acabará ganhando sua vaga no Conselho, a menos que seus governantes façam muita besteira. Desde a redemocratização, foram de fato feitas incontáveis asneiras por diferentes presidentes, mas nenhuma delas suficiente para invalidar a condição natural do Brasil como candidato à vaga.
Os dois presidentes mais recentes, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, puseram o país na agenda do planeta, mais Lula do que FHC, o que não deixa de ser contraditório com a condição de intelectual globalizado deste em contraste com um operário que parecia muito mais voltado para o interior.
É evidente que há críticas internas e externas a algumas ações ou omissões de um e de outro. Eu mesmo, nos espaços que a Folha-papel comete o erro de me emprestar, fiz e ainda faço todas as críticas que achei corretas e não me arrependo de nenhuma delas. Mas uma coisa é discordar de alguma ação ou omissão, outra, completamente diferente, é entender que ela inabilita o país para voos ainda mais altos.
Ante as condições naturais do Brasil e olhe que sou o inimigo número 1 do patrioteirismo, qualquer palavra de Obama beira, no médio e longo prazo, à irrelevância.
Até entendo que a visita acabou produzindo menos emoções que a princípio se supunha, o que leva o jornalismo a se agarrar em detalhes nem sempre relevantes. Mas o público não deve se enganar. Primeiro, a reforma da ONU anda em passo de tartaruga e é razoável supor que a decisão, se chegar finalmente a ser tomada, ficará para a época do sucessor do sucessor de Barack Obama.
Segundo, nesse momento, salvo, repito, a hipótese de uma grande bobagem, o Brasil terá a sua vaga garantida.

Clóvis Rossi

Cinema inacessível

A cinematografia "de arte" recente de Portugal, Inglaterra e Espanha simplesmente não chega ao Brasil. Gostaria de entender a lógica dos distribuidores acostumados a trazer filmes europeus para serem exibidos aqui, que preferem comédias de segundo escalão francesas ou italianas a trazer as películas premiadas em festivais importantes ou simplesmente bem cotadas desses países.
O caso da Espanha talvez seja o mais grave. O pobre frequentador médio de cinema daqui saberá apenas quem é Almodóvar, Penélope Cruz e Javier Bardem, e mesmo estes porque passaram pelo reconhecimento do circuito norte-americano. Nomes como os dos diretores Álex de la Iglesia ou Icíar Bollaín são praticamente desconhecidos e grandes vencedores dos prêmios Goya (o Oscar espanhol), como "La Soledad" (Jaime Rosales) e "Celda 211" (Daniel Monzón) nunca chegaram às telas brasileiras.
O filme mais recente de Alejandro Amenábar ("Agora"), o mesmo diretor do aclamado thriller "Os Outros", deve sair direto em DVD. Também não tenho notícia de que "Balada Triste de Trompeta" (Álex de la Iglesia), que ganhou Leão de Prata em Veneza no ano passado esteja nos planos de algum distribuidor.
O mesmo destino, infelizmente, deve ter o catalão "Pa Negre" (pão negro), que acaba de receber nove prêmios Goya e tornou-se febre na Espanha. Quem tiver a sorte de viajar para algum país em que esteja em cartaz, não perca, pois as chances de vê-lo aqui são escassas.
O filme de Agustí Villaronga, baseado no romance homônimo de Emili Teixidor, se passa na Catalunha rural, logo após a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). O conflito que culminou com a chegada de Franco ao poder e ao início de um período ditatorial que durou até 1975, deixou o país dividido. Na pequena aldeia onde a ação se passa, vencedores e vencidos convivem em um atrito que se parece mais com uma guerra de clãs familiares e de classe do que propriamente de grupos políticos.
O protagonista é o garoto Andreu (Francesc Colomer), filho de Farriol (Roger Casamajor), um militante "rojo" (comunista), e de uma mãe severa, Florencia (Nora Navas). Os três têm uma vida semi-miserável, Florencia trabalha numa fábrica de tecelagem e o pai aparentemente parece preocupar-se apenas com política e sua criação de passarinhos.
Andreu presencia o resultado de um crime horrendo, um homem, seu filho e seu cavalo são atirados de um penhasco a cena é especialmente aflitiva. Em seu depoimento à polícia, o menino diz que acredita que o assassino é uma espécie de fantasma que ronda o imaginário do povoado. Mas o chefe da polícia local, um "nacional" (partidário de Franco), interpretado por Sergi López, vê no assassinato a oportunidade para, de algum modo, trancafiar Ferrol. O policial não só quer fazê-lo por conta de diferenças ideológicas, mas porque quer forçar Florencia a fazer sexo com ele.
O filme vai mostrando a perda da inocência de Andreu. Ele quer desvendar não só o crime, mas as verdadeiras atividades de seu pai e o passado de sua família. A mãe tenta apartá-lo da verdade, mandando-o morar com os primos, mas não adianta. O garoto está obstinado e conta com a ajuda de uma prima mais velha, que perdeu uma mão durante a guerra e é corajosa o suficiente para dizer coisas que Andreu parece precisar ouvir.
Ambos acabam descobrindo que o pai de Andreu participou de um terrível crime no passado, em que um homossexual do povoado foi castrado. A partir daí, o olhar ingênuo de Andreu para o mundo se transforma numa mirada raivosa, contra a família, contra os preconceitos e lendas da aldeia, contra "nacionales" e "rojos".
"Pa Negre" logra mostrar as consequências da guerra civil na Espanha rural sem tratar de questões políticas de modo direto. Até porque no interior do país o conflito se confundiu com as divisões sociais que já existiam há muito mais tempo. O título se refere ao único tipo de pão (negro, de menor qualidade) a que a família pobre e "comunista" de Andreu tinha acesso. O pão branco era dos vencedores.
Como tantos, lamento o fechamento do cine Belas Artes, em São Paulo. Mas a histeria coletiva criada em torno do espaço seria mais frutífera caso as pessoas se engajassem também para fazer com que filmes como este chegassem algum dia aqui.
Não basta termos boas salas de cinema, charmosas e bem localizadas. Se São Paulo quer mesmo ser uma cidade cosmopolita, capital cultural de um país em ascensão no mundo, deve abrir-se também para outros sons e imagens. O bom cinema recente espanhol é apenas um exemplo de tesouro a ser descoberto.

Sylvia Colombo

sábado, 19 de março de 2011

PT by Disney!



Blog de Josias de Souza

O que é isso, companheiro?



Blog de Josias de Souza

O cara!



Blog de Josias de Souza

Reinvenção da roda



Blog de Josias de Souza

A viagem é ao "mercado Brasil", não ao país

A visita que o presidente Barack Obama inicia amanhã ao Brasil é muito menos ao país e muito mais ao "mercado Brasil", o que reduz dramaticamente o aspecto político, que deveria ser o principal.
Essa constatação se torna inevitável ao ouvir as sucessivas exposições de assessores do presidente a respeito dos objetivos da visita e ao ler o artigo que o próprio Obama publicou hoje no jornal "US Today".
Diz o texto: "Perto de 600 milhões de pessoas vivem na América Latina. A economia da região cresceu cerca de 6% no ano passado. Entre 2010 e 2015, espera-se que cresça um terço mais. E, na medida em que esses mercados estão crescendo, também está sua demanda por bens e serviços bens e serviços que, como presidente, eu quero ver que sejam feitos nos Estados Unidos da América".
Mais claro, impossível. E ainda houve uma menção também bastante explícita ao petróleo do pré-sal: "O Brasil descobriu recentemente reservas de petróleo que poderão ser bem maiores que as nossas, e, na medida em que tratamos de aumentar os fornecimentos seguros de energia, procuraremos desenvolver uma parceria energética estratégica".
Tradução: não dá para depender excessivamente do Oriente Médio, cada vez mais volátil. Logo, viva o Brasil.
Esse enfoque puramente "business" desmancha a romântica visão de uma especialista em América Latina como Julia Sweig, do Council on Foreign Relations, em teleconferência na terça-feira.
Julia citara a escolha da Cinelândia, "famosa praça central" do Rio de Janeiro, a visita à "City of God" (a favela "Cidade de Deus") e a presença de Obama em performances de capoeira e tambores como um esforço para construir "uma grande ponte cultural" com o Brasil da rua, não apenas o Brasil das autoridades e empresários.
A troca da praça por um recinto fechado, o Theatro Municipal, só hoje anunciada, enfraquece a "ponte" e reforça o lado mercantilista.
Já Shannon O'Neill, também especialista em América Latina do Council on Foreign Relations, esperava ou ainda espera que a visita servisse para que "Obama colocasse a América Latina em suas avaliações sobre os desafios globais". Seria, acrescentava, "uma mudança, embora sutil, que poderia representar um real transformação nas relações EUA/América Latina".
Uma mudança pelo menos já houve, mas no sentido inverso, ou seja, no sentimento latino-americano em relação aos Estados Unidos, pelo menos aos Estados Unidos de Obama. Pesquisa recente do Centro Pew de Pesquisas, mostra que 75% dos latino-americanos têm hoje uma visão positiva dos Estados Unidos.
Acrescenta Peter Hakim, presidente honorário do Interamerican Dialogue, uma das principais pontes entre Estados Unidos e América Latina: "As relações dos Estados Unidos com a América Latina não estão em crise. Os EUA gozam, em muitos âmbitos, de uma situação mais favorável e prometedora do que faz quatro ou cinco anos. A campanha anti-americana desenvolvida pela Venezuela de Hugo Chávez e seus aliados bolivarianos se debilitou".
Seria, pois, o momento ideal para um mensagem que realçasse o papel político do Brasil, não apenas como "mercado".
No mínimo, Obama poderia repetir o que disse na sua primeira aproximação à América Latina, durante a Cúpula das Américas de 2009 em Trinidad Tobago. Lá, deixou claro que estava encerrado o tempo de um "parceiro sênior" (obviamente os EUA), cercado de "parceiros juniores".
Agora, são todos "parceiros iguais".
Na conjuntura atual, em que a crise no Oriente Médio e a tragédia japonesa monopolizam as atenções, seria mesmo difícil dar um passo além do que foi dado em Trinidad Tobago. Resta, como diz Dan Restrepo, assessor especial do presidente, deixar claro com a viagem que "o presidente Obama está engajado em ajudar a enfrentar os desafios básicos nas Américas de hoje e está desejoso, pronto e em condições de se engajar construtivamente com os líderes da região que estão posicionados de maneira similar em focar os desafios de hoje e não argumentos ideológicos fora de moda".
É um retórica muito mais difusa do que o desejo do presidente de ver o "made in America" aparecer carimbado nas compras do Brasil e da América Latina.

Clóvis Rossi

Estilo japonês

Passados já tantos dias da tragédia que se abateu sobre o Japão, permanecem impressionantes tanto as novas imagens que surgem do momento mesmo do avanço do mar sobre gentes e casas e tudo o mais quanto a paz e a ordem que reina no país.
São quase sufocantes as imagens e depoimentos que podem ou ser considerados de gente extremamente ordeira e civilizada, ou de gente passiva e conformada.
Das filas imaculadas para receber alimento e ajuda à limpeza de ruas onde não existem mais cidades, tudo remete a uma ordem, a uma arrumação, a uma disciplina que soa paradoxal e no mínimo incômoda para nós outros, latinos facilmente descontrolados.
Isso é o que mais impressiona nos relatos que chegam: a falta de revolta. Seja da mulher que diz não se impressionar com nada daquilo porque já viveu o inferno nuclear sobrevivendo à bomba de Hiroshima, seja da filha do trabalhador que aceitou a tarefa de salvar o reator nuclear destroçado como se aquilo fosse a sua sentença de morte, seja da rodinha de desabrigados cozinhando sob a neve e o frio inclementes.
Curioso, este povo, que aparentemente está a esperar que alguém resolva o problema que é de todos, como se o problema não fosse responsabilidade de ninguém.
Certo, o terremoto e a onda gigante não são mesmo, mas, e os reatores nucleares em colapso? E a decisão de construir esses reatores em áreas sujeitas a terremoto todo o Japão, aliás? E a falta de informações corretas sobre o que está acontecendo e sobre os verdadeiros perigos para a população?
Estive duas vezes no Japão, tenho muitos amigos por lá e não há dúvida de que é no mínimo peculiar a ordem e a hierarquia reinante em todo e qualquer canto. Um país lindo, de cultura milenar absolutamente respeitável, povo cordato e generoso, ao menos com seus visitantes temporários os depoimentos dos dekassguis não atestam isso encantam a qualquer um.
Mas tudo obedece a uma rigidez mandatária severíssima, em que como numa onda todos temem profundamente os que estão hierarquicamente acima de si.
Insurgir, revoltar, questionar não estão no repertório sobretudo dos funcionários das empresas que garantem ao Japão o posto de segunda economia do planeta (agora dizem que é a China a segunda, mas tudo bem...). Uma organização severa que contamina o dia dia das pessoas e, mais surpreendente, até mesmo a mídia.
O Japão sempre foi exemplo para o Ocidente no que se refere a recuperação, superação e conquistas.
Mas permanece sendo um mistério quanto ao temperamento de seu povo. Povo, aliás, que neste momento merece a mais respeitosa solidariedade.
Solidariedade ao povo japonês é o que pretende prestar a celebração multi-religiosa que ocorre neste domingo (20), na Igreja de São Gonçalo, praça João Mendes, centro de São Paulo.
Estão convidados "todas as pessoas de todas as crenças e sem crença que queiram se reunir em prol das vítimas dos terremotos, tsunami e perigos nucleares, solidarizando-se com o povo japonês e com todo o povo da Terra", avisa a monja budista Coen Souza, que participará da celebração.

Luiz Caversan

quarta-feira, 16 de março de 2011

Data marcada no STF


Está em pauta, no STF, para votação no dia 17 de março, a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4.167. A ADI, impetrada em 2008 por cinco estados ((MS, PR, SC, RS e CE), contesta alguns pontos da Lei 11.738, sancionada no mesmo ano, também conhecida como Lei do Piso do Magistério.
A CNTE, entidade que representa aproximadamente dois milhões e meio de professores e funcionários de escola, espera que o dia 17 de março seja a data em que a Lei do Piso terá definitivamente que ser cumprida por todos os estados e municípios. "Nossa expectativa é de que o Supremo respeite o desejo do povo que teve o apoio do Congresso Nacional ao votar por unanimidade em favor do Piso", afirmou o presidente da CNTE, Roberto Leão.
Entenda o caso
Em 2008, o então presidente Lula sancionou a Lei 11.738, conhecida como Lei do Piso do Magistério e que regulamenta a base salarial dos professores em todo o Brasil. Na época, a Lei determinava um valor de R$950,00, somados aí o salário e as gratificações e vantagens para uma carga horária de até 40 horas semanais para os profissionais com formação de nível médio. O valor ainda que não fosse o ideal e reivindicado pela CNTE, dava forças para que a categoria seguisse confiante no trabalho e na luta por um salário melhor.
Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Ceará contestaram e, com o argumento de que não tinham recursos para pagar o valor determinado em Lei, entraram no mesmo ano com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade. Em dezembro de 2008, a Ação foi julgada (liminarmente) pelo Supremo que reconheceu a legitimidade da Lei, porém com a limitação de dois dispositivos: o da composição do piso e o que trata da jornada fora de sala de aula. Estes dois pontos ficaram para ser julgados mais tarde e são estes pautados para julgamento no dia 17. Em janeiro deste ano o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, pediu a exclusão do seu estado da Ação. Pedido que foi negado pelo ministro Joaquim Barbosa, já que, no entendimento dele, o relatório já havia sido entregue.
Composição do Piso
Segundo os governadores que entraram com a ADI, os estados não estão preparados para suportar a despesa de pagar um valor mínimo para os professores. Argumento que foi arduamente contestado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. Segundo ele, no texto que criou o Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), em 2006, já havia a previsão para a instituição de um piso nacional para os professores. "Eu entendo que essa ADI não deva prosperar porque foi feita uma mudança na Constituição prevendo o piso. Então, se foi feita uma emenda constitucional, não há porque julgar inconstitucional uma lei que regulamenta esse dispositivo", alegou.
Além disso, o MEC anunciou que vai liberar este ano 1 bilhão de reais para as prefeituras que comprovarem que a falta de dinheiro foi causada exclusivamente pela implementação do Piso e seus reajustes. Em fevereiro, o MEC reajustou o valor do Piso de R$1.024,00 para R$1.187,97.
Jornada extraclasse
A Lei define no parágrafo quatro do artigo 2º o cumprimento de, no máximo, 2/3 da carga dos professores para desempenho de atividades em sala de aula. Sobre este ponto, os governadores alegam que com o aumento das horas que cada professor terá que cumprir para o planejamento das aulas e a consequente diminuição das horas dentro de sala de aula, os estados vão ser obrigados a contratar mais profissionais. Com a aprovação da Lei do Piso os mestres devem reservar 33% do seu tempo com planejamento. Para os governadores, esta obrigação interveio na organização dos sistemas de ensino estaduais. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) diz como seriam os sistemas de ensino nos estados, mas cada estado tem sua autonomia.
Para a CNTE, o tempo destinado para o planejamento das aulas é importante para elevar a qualidade do ensino. “Um professor sem tempo para planejar o que irá passar para o aluno, acaba fazendo um mau trabalho. Esta jornada extraclasse não é para descansar. Continua sendo mais uma etapa do trabalho”, explicou Leão.
Mobilização dos trabalhadores em educação
Desde então, a CNTE e as suas 41 entidades afiliadas se mobilizam para pedir urgência no julgamento da Ação e que os ministros reconheçam a legitimidade da Lei. No ano passado preparou um dossiê que reúne 159 depoimentos com as angústias dos educadores de todo o país sobre o não cumprimento da lei do Piso. O documento foi entregue no dia 16 de setembro do ano passado ao ministro da Educação, aos presidentes da Câmara, do Senado e do STF.
A mobilização rapidamente surtiu efeito. Um dia após a manifestação, o ministro relator Joaquim Barbosa entregou o relatório da Ação, documento que faltava para que a ADI entrasse na pauta de votação do STF. “O não julgamento da Ação tem causado um problema enorme que são as múltiplas interpretações que os gestores fazem da lei. Temos que acabar com isso, para que possamos construir uma educação pública de qualidade”, ressaltou Leão.
Reajustes
Além da luta pela implementação do Piso, a CNTE briga pela aplicação do reajuste conforme estabelece a Lei. A lei aprovada pelo Congresso fixa como parâmetro o aumento de gasto por aluno/ano no Fundeb. A divergência é se deve ser considerada a variação do ano anterior, isto é, de 2009 e 2010, ou a atual, de 2010 para 2011. A Advocacia-Geral da União (AGU) argumenta que, em 2011, só existe uma estimativa de receita e que seria temerário dar um reajuste com base em previsões. Já a CNTE diz que a lei é clara e fala no ano atual e aconselha os sindicatos a contestarem o Piso do MEC na justiça.
No ano passado o MEC reajustou o Piso de R$950,00 para R$ 1.024,67, mas a CNTE reivindicou o aumento para R$ 1.312,85, que, infelizmente, não foi atendida. Para este ano, a CNTE afirma que o reajuste deveria ser de 21,71%, o que elevaria o valor do Piso para R$1.597,87. No dia 24 de fevereiro o MEC anunciou o reajuste de 15,84%, o que significa que o valor do Piso dos Professores passa a ser de R$1.187,97. Uma diferença considerável.
Para Roberto Leão é importante que a Ação seja julgada agora. “Temos muitos estados em greve por culpa, principalmente, da má remuneração dos educadores. Convocamos nossas afiliadas a lutar pela correta aplicação do Piso. Temos a convicção de que não é justo protelar mais este julgamento e que o STF irá honrar a Casa votando não apenas a favor dos professores, mas de toda a nação que depende de cidadãos bem educados para levar o país rumo ao progresso”, concluiu.

CNTE

terça-feira, 15 de março de 2011

Novo partido velho!



Blog de Josias de Souza

Noticiário tóxico!



Blog de Josias de Souza

O Japão, Fausto e o átomo

Geoffrey Lean, pioneiro na cobertura de assuntos ambientais (trabalha para o britânico "The Daily Telegraph") foi buscar na lenda de Fausto a sua inspiração para falar da crise nuclear no Japão, na esteira do terremoto/tsunami.
Lean, que tem prêmios por jornalismo investigativo, lembrou nesta segunda-feira que Alvin Weinberg, um dos pioneiros na expansão das usinas nucleares, advertira quando ela se iniciou, faz 40 anos mais ou menos, de que o mundo estava fazendo "uma barganha faustiana" com o átomo. Weinberg acreditava que pessoas como ele estavam fornecendo ao mundo "uma fonte energética mágica", praticamente não-poluente, quando devidamente gerenciada.
Mas a mágica vinha a um custo: o "da necessidade de vigilância [sobre os reatores], à qual não estamos acostumados".
Para quem não lembra ou não leu, Fausto é o protagonista de uma lenda alemã, transformada em obra-prima por Goethe em que um médico e alquimista faz um pacto com o demônio.
O pacto com o suposto demônio nuclear lembra o jornalista britânico cobrou seu preço primeiro no acidente de Three Mile Island, faz 32 anos (tema de "Síndrome da China", filme estrelado por Jane Fonda), depois no de Chernobyl, na hoje Ucrânia, há 25 anos, e agora em Fukushima, Japão, cujo reator, aliás, saiu do Oak Ridge National Laboratory, dirigido por Weinberg.
Transfiro ao leitor a pergunta que Geoffrey Lean faz: "O suprimento de uma bem desenvolvida fonte de energia, de uso reduzido de carbono [o poluente carbono] vale o preço de um cataclisma que pode se seguir a um lapso humano na vigilância ou a um ato de Deus? O papel que [a energia nuclear] pode desempenhar em ajudar a evitar uma catástrofe quase certamente de lento desenrolar [alusão às mudanças climáticas] justifica o risco de um acidente calamitoso?"
Boa parte do mundo está se fazendo a pergunta de Lean, especialmente no próprio Japão, que tem 54 reatores nucleares em operação, o terceiro maior país em energia nuclear, atrás apenas de Estados Unidos e França.
Afinal, apesar de o Japão estar reconhecidamente bem preparado para lidar com terremotos e tsunamis, a extensão da devastação provocada pelo de sexta-feira serve como lembrança de como os países permanecem vulneráveis à calamidades em larga escala.
Escreve, por exemplo, outro veterano jornalista, Syed Fattahul Alim, pensando na sua pobre Bangladesh:
"A situação do Japão, que pertence ao grupo das nações mais ricas e mais tecnologicamente avançadas do mundo, fornece um clássico exemplo de como os humanos ainda estão desamparados em face da fúria da natureza".
É óbvio que diante dessa fúria, a "vigilância" que se exige sobre reatores nucleares fica no mínimo dificultada.
É por isso que há um intenso zumzum no planeta em torno de um eventual retrocesso no que antes de chamava de "renascença do nuclear".
Em teleconferência organizada nesta segunda-feira pelo Council on Foreign Relations, Michael Levy, pesquisador-sênior do Council para energia e meio-ambiente, dizia ser cedo demais para uma avaliação sobre a eventualidade do retrocesso.
Levy acredita que, por enquanto, o acidente no Japão confirmará cada lado em seu canto. Os que são contra a energia nuclear apontarão para o risco de acidentes; os que são a favor dirão que, mesmo em um acontecimento de imensa envergadura como o do Japão, há uma razoável contenção de danos (por enquanto, por enquanto).
O pesquisador acrescenta que a tal renascença do nuclear já vinha enfrentando outros problemas, que reduziram a sua velocidade, mas que ainda está por se ver se os problemas no Japão "causarão ou não uma mudança decisiva" nas escolhas energéticas nos países que usam a energia nuclear em larga escala.
Acho dispensável dizer que esse não é um assunto que diga respeito apenas aos amigos e aos inimigos do átomo: substituir a energia nuclear, se for o caso, tem implicações óbvias para as demais fontes energéticas, abrindo inclusive a hipótese de outro pacto faustiano, agora com os poluentes, invertendo a equação de 40 anos atrás.

Clóvis Rossi

Cortázar inédito

Conheci Aurora Bernárdez, a viúva do escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984), em Madri, em 2005. Eu estava de férias, mas acompanhava uma amiga jornalista espanhola na apresentação de uma coletânea de textos póstumos do autor. Achei que Bernárdez era um tanto diferente de outras viúvas célebres. Discreta e prática, não se apresentava como musa do morto, como tantas, muito menos o infantilizava, como faz a de Jorge Luis Borges, Maria Kodama.
Lá pelas tantas, um colega perguntou-lhe se ainda havia algo "grande" para vir à tona do espólio deixado por Cortázar. Ela respondeu simplesmente: "Há alguma coisa sim, esperem mais um pouco".
E eis que, passeando semana passada por uma das incríveis livrarias de Santiago (Chile), topei com "Cartas a los Jonquières" (Alfaguara), livro lançado no meio do ano passado em Buenos Aires e só agora no restante do mundo hispano-americano.
Editado por Bernárdez, hoje com 90 anos, é composto por um conjunto de 126 cartas e 13 cartões-postais que Julio Cortázar enviou ao amigo Eduardo Jonquières e sua família entre fevereiro de 1950 e fevereiro de 1983. Estavam com a viúva deste, María Rocchi, que só algum tempo depois da morte do marido (em 2000) os encontrou e os entregou a Bernárdez. Foram escritas à mão ou à máquina e correspondem ao período que vai desde a primeira viagem de Cortázar à Europa, seguido de sua instalação definitiva em Paris (1951), até poucos meses antes de sua morte.
Cortázar havia conhecido Jonquières, que era quatro anos mais jovem que ele, em meados dos anos 1930, na Escuela Normal Mariano Acosta, em Buenos Aires. Este também era escritor, além disso pintava, embora nunca tenha atingido a fama. Por conta disso as artes estão tão presentes nesses diálogos epistolares que duraram mais de 30 anos. Em 1959, Jonquières e a família também se mudam a Paris, o que causa uma diminuição repentina da correspondência, uma vez que esta já não era tão necessária.
Diferentemente de Jorge Luis Borges, que deu muitas entrevistas e deixou revelar mais sua vida pessoal, de Cortázar sempre se soube pouco a esse respeito, tanto que afirmava dele o peruano Mario Vargas Llosa: "um homem eminentemente privado, com um mundo interior construído e preservado como uma obra de arte", como bem lembra o co-editor do livro, Carlos Álvarez Garriga.
Bem, as "Cartas" desfazem um pouco desse mito. Mostram um Cortázar amoroso com os amigos e expondo-se bastante. O que primeiro surge no início da correspondência são as dificuldades de mudar de Buenos Aires para Paris. Desde a adaptação às novas língua e cultura, até o desconforto material, de quem partiu sem levar muitos recursos. Reclama do apartamento apertado, da pouca luz elétrica que há no prédio em que passa a viver e de não poder comprar suficientes livros e de nem mesmo possuir estantes para colocá-los. Nada disso, porém, o impedia de consumir novelas "como um louco".
Em uma das missivas, chega a pedir ao amigo que lhe mande alguma revista literária, que em Paris vê nas bancas mas que não pode comprá-las, e enumera desejar, entre tantas, "La Nef", "Temps Modernes" e "Cahiers du Sud".
Também fala da depressão de partir, ainda que demonstre isso com certo bom humor. "Ir-se não é nada, a coisa é dar-se conta de que há uma mecânica de chiclete no processo, pois é como se você ficasse aderido e aos poucos vai-se estirando". Ou quando diz: "apenas a contemplação de um envelope, ou o cheiro do papel, me devolvem a chicotadas a Buenos Aires."
É também comum referir-se ao fato de dormir pouco, e de não estar contente. É de se imaginar que os amigos do lado de cá do Atlântico escrevessem estimulando-o a alegrar-se (perdeu-se toda a correspondência do lado dos Jonquières), porque Cortázar responde sempre agradecendo a compreensão dos amigos.
Também Eduardo demonstra sua infelicidade mais de uma vez, e Cortázar o aconselha a ir ver um psicanalista. A recomendação para buscar essa verdadeira instituição portenha aproxima Cortázar de seus conterrâneos, que muitas vezes o tomam como alguém que se "europeizou" desde muito cedo em sua vida literária e costumes.
Mas boa parte das cartas dedicam-se mesmo a mostrar as impressões de Cortázar sobre um mundo que vai descobrindo a partir de inúmeras viagens, pela Europa, África, América e Ásia. Cada novo lugar que descobre surge como um enorme feito, devido à intensa curiosidade do escritor e seus poucos recursos. "É muito curioso que os ´grandes passos´ costumo dar são como se, no fundo, não se tratassem disso. Penso que o desejo acumulado termina por arrancar a verdadeira realidade das coisas", escreve.
Há cartas assinadas de diversos lugares, França, Argentina, Uganda, Áustria, Cuba, Suíça, Nicarágua, Índia, Dinamarca, Brasil, Itália, Inglaterra e México, entre outros. Das visitas ao Brasil, não é muito o que relata. A carta assinada desde o Rio de Janeiro, em 1954, é um pedido de ajuda ao amigo para que o auxilie a resolver um problema com a compra de uma passagem de navio.
Já o postal enviado desde Brasília, em 1973, traz mais detalhes de seu passeio: "vou conhecendo este Brasil (Ouro Preto, Congonhas, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília) e amanhã estarei na Bahia com Caetano Veloso e os outros cronópios da música. Faz um calor `del quinto carajo´, mas Niemeyer, que grande tipo! Volto a São Paulo onde os poetas (milhares) me levarão a seus países concretistas, com Haroldo de Campos e Décio Pignatari à frente."
A correspondência mostra como o escritor vai surgindo a partir do rapaz de 30 e poucos anos que emigra das margens do Prata sem ter muito mais do que ilusões em conhecer o Velho Mundo e tornar-se, quiçá, um escritor. Do encantamento com as novas leituras, passa-se à descrição das dificuldades em publicar, a vinda à tona dos primeiros livros, como lidou com outros autores e editores.
O que não muda nunca é o carinho e o interesse pelas coisas do amigo que ficou para trás. Dedica parágrafos inteiros e às vezes páginas de suas cartas à sua mulher, María, e aos filhos do casal, daí a opção dos editores por deixar o título no plural, ainda que o destinatário principal das cartas seja sempre Eduardo.
A indústria de obras póstumas está espalhada pelas diversas áreas da cultura e nem sempre lança no mercado coisas boas. Não é o caso de "Cartas a los Jonquières", que acaba se transformando na autobiografia que o autor nunca escreveu.
Fica a dica para que algum editor brasileiro se anime a publicar o volume no Brasil.

Sylvia Colombo

Uma revolução na educação pública

Imagine uma escola pública dirigida pela comunidade, com a liberdade de escolher e demitir os diretores e os professores, além de estabelecer seu próprio currículo e o número de horas que os alunos estudam. Esse tipo de escola independente gera um intenso debate nos Estados Unidos, mas virou um objeto de desejo dos pais e criou enormes filas de espera e, por isso, apesar da resistência dos sindicatos e dos burocratas, se dissemina.
Nesta semana será apresentado, em um encontro sobre educação promovido pelo MIT em São Paulo, um detalhado estudo feito por economistas americanos mostrando que, nas áreas urbanas deterioradas, essas escolas, aqui chamadas de 'Charter', fazem o aluno prosperar expressivamente.
Os motivos que levam a essa melhora são foco de intensa polêmica. Mas o fato é quanto maior for a pressão por uma educação pública de qualidade, maior a vontade de experimentar soluções, fugindo dos modelos tradicionais e maior será o foco no mérito.
Talvez não seja a solução para melhorar a escola pública, mas é uma das soluções. E precisa muita vontade de brigar para tirá-la do papel.
PS - Coloquei na internet (www.catracalivre.com.br) o texto que será apresentado pelo MIT (em inglês), mas também um ótimo relatório em português feito pelo Instituto Fernand Braudel sobre as escolas independentes.

Gilberto Dimenstein

domingo, 13 de março de 2011

Comissões!



Blog de Josias de Souza

(C)omissão!



Blog de Josias de Souza

Comissão de frente!



Blog de Josias de Souza

sexta-feira, 11 de março de 2011

Paciência


A paciência é uma qualidade fugaz.
Queremos o que queremos quando queremos.
Felizmente, nossas vontades só são realizadas no momento certo.
Mas a espera nos dá a impressão de que
nossas preces não foram ouvidas.
Precisamos acreditar que a resposta virá na hora certa.
Já pensou como nossas vidas seriam diferentes
hoje se os pedidos de semanas, meses, anos atrás tivessem
sido atendidos na mesma hora?
Cada um de nós percorre um caminho único,
com lições especiais.
Assim como um bebê precisa engatinhar antes de andar,
nós temos de ir devagar,
dando os passos certos rumo ao crescimento.
A frustração só existe porque nosso relógio
funciona num tempo diferente do de Deus.
Mas podemos ter certeza de que nossas preces
serão atendidas algum dia, em algum lugar, e para o nosso bem.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Quesitos nota deeeeeez!



Blog de Josias de Souza

TRÊS MOSQUETEIROS

Muito mais do se pensa, a forma como elegemos nossos parlamentares influencia na conquista de boas políticas públicas.
Para se efetivarem, é preciso que as ideias ocupem o lugar certo. Isso exige três condições básicas, pouco discutidas: sistema de implantação, meio ambiente e alma do negócio.
Sistema de implantação é o método, a dinâmica do processo que transforma a ideia em realidade. O carro-chefe é o gerenciamento. É a música.
O ambiente é o meio em que ela se desenvolve. São os instrumentos da orquestra. O ponto principal são as normas que explicitam como as ideias viram políticas e a burocracia. As regras de andamento das coisas. O destaque são as relações entre os poderes. Como um projeto percorre suas etapas dentro dos poderes estabelecidos. Tratamos disso na coluna Relações com Freios e Contrapesos, de 17/2.
A alma do negócio é o clima existente para a implantação da ideia. É a emoção com que os músicos tocam. São vários componentes que envolvem o momento do projeto e acabam por acelerá-lo ou retardá-lo. A urgência cobrada pela sociedade, normalmente transmitida pela mídia, é o maior catalisador desse processo. Quanto mais indignada e pró-ativa a sociedade, mais rápido o poder público reage.
Nesse ponto, o Legislativo é fundamental. Ele é o legítimo representante da voz do povo. Quando entra em sintonia com essa voz, provoca iniciativas imediatas.
O grande entrave atual é que o Legislativo representa muito mal a sociedade. O sistema usado para escolher seus membros não o aproxima da população. Ao contrário, permite um distanciamento que gera uma esquizofrenia: a voz do representante não é a voz do representado.
É preciso alterar o modelo de escolha de deputados e vereadores.

VOTO DISTRITAL

O sistema de hoje é o proporcional. Permite que o candidato tenha voto em todo lugar do estado ou do município. Ele não aproxima o parlamentar do eleitor. Ao contrário, admite que o elo entre os dois seja cortado sem prejuízo do eleito. Porque este pode buscar votos em outras regiões, mudando de base, sempre que precisar escapar da avaliação do eleitor.
O sistema proporcional aproxima o parlamentar de sua fonte de financiamento. Esta ele não pode contrariar, pois sem recursos não se reelege. Dessa forma, o vínculo do parlamentar se dá com a fonte de recursos e não com quem ele representa.
Aí está o X da questão. Quem elege o deputado ou o vereador é, na esmagadora maioria dos casos, o dinheiro arrecadado. Logo, o compromisso dele se dá com o interesse da fonte. Nem sempre escuso, mas, em geral, diverso da angústia do eleitorado.
É impressionante que até hoje nem os vereadores sejam eleitos por distritos. Vastas regiões das cidades permanecem, por anos, sem representantes.
O voto distrital cria um vínculo inafastável entre eleitor e eleito. Para se reeleger, o parlamentar tem que voltar à mesma base, prestar contas e, então, pleitear a reeleição. Não dá para ele catar votos em cada lugar separadamente nem mudar de distrito a cada decepção que causar ao eleitor.
O voto distrital é o pai e mãe da reforma política. Antecede a tudo. E é também o ponto mais relevante na mudança das políticas públicas.
O Legislativo atual abre mão de legislar,sua função básica. Assim, não cria o clima necessário para apressar e aprimorar os projetos. Ao contrário, tem funcionado como freio às mudanças. Só aprova o que o Executivo deseja.
E o poder Executivo é, geralmente, conservador. Atua na retranca.
O voto distrital, puro ou misto, é essencial para o sucesso das políticas públicas.

José Luiz Portella

A hora do Brasil

Navegamos por um novo mundo multipolar no qual as alianças, por isso mesmo, são ainda mais cruciais.
O Brasil está no lado ganhador no mundo pós-colapso financeiro. Nossa diplomacia precisa receber atenção e investimentos para aproveitarmos esta oportunidade sem precedentes de ganhar força e projeção global.
Nossas credenciais geoeconômicas e geopolíticas são impressionantes: uma das maiores democracias do mundo, uma das maiores economias do mundo, dominante na América do Sul, dominante em mercados-chave como alimentos, energia e minérios, com desenvolvimento inclusivo, mercado interno explodindo, inestimáveis reservas ambientais, mercado financeiro sofisticado, Estado de Direito em consolidação, estabilidade política, sem conflitos relevantes com outros países...
É uma lista de atributos invejável que deve nos garantir uma posição muito mais forte no grande jogo das nações do que a que conseguimos até aqui.
O abandono pelo dilmismo do terceiro-mundismo anacrônico da Era Lula é apenas um primeiro passo para uma diplomacia maior, resultante desse novo país que o mundo quer ver e ouvir.
E a revolta no mundo árabe é desses eventos seminais de grandeza planetária onde a nova voz do Brasil pode e deve sobressair.
Desta vez, ao contrário do triste histórico da diplomacia lulista, não corremos para apoiar o ditador de turno que massacra opositores, mas ajudamos a aprovar resoluções na ONU condenando o regime de Gaddafi.
Ainda estamos longe de vermos a diplomacia moral dominando as relações entre as nações, mas é animador ver como a revolta árabe por liberdade e democracia ganhou simpatia global.
Se o mundo árabe de fato caminhar para a democracia, mexerá terra suficiente para abalar o que restar das ditaduras que ainda mancham o planeta: dos vizinhos africanos ao sul do Saara aos distantes pós-comunistas asiáticos.
Foi sintomático o pavor do regime chinês com micro-manifestações convocadas por redes sociais na web para apoiar a democracia.
O mundo será melhor quanto menos ditaduras existirem, e em poucos meses sob Dilma, que sentiu uma ditadura na pele, o Brasil parece ter mudado dramaticamente de defensor de ditadores a promotor da democracia. Finalmente.
O terceiro-mundismo lulista ao menos aumentou a superfície de nossa diplomacia e fortaleceu laços Sul-Sul. É hora de valorizarmos também nossos tradicionais aliados ocidentais.
Se ao bloco democrático de EUA, Europa, Japão e Austrália o Brasil juntar a sua voz, o coro da democracia soará muito mais forte e afinado no concerto das nações.
O Brasil é a melhor ponte entre o Norte e o Sul porque pode se colocar nos dois lugares e ser ouvido por ambos. É uma posição nobre a valorosa, para a qual devemos rumar.
Chegou a hora do Brasil no cenário global.

Sérgio Malbergier