"Introdução à Topologia de Lacan" é uma obra dúbia, pois ao mesmo tempo que ilude e até assusta o leitor com diversas figuras conceituais, depois, aos poucos, consegue transmitir os raciocínios e problemas da mente.
O responsável pelo livro é o argentino radicado na França, J.D. Nasio, peça chave na divulgação e evolução da psicanálise no mundo. Respeitado teórico, esteve em diálogo constante com personagens como Lacan, Dolto e Miller, o que credencia seus escritos como obras seguras, coerentes e, em algumas oportunidades, introdutórias aos principais fundamentos de Freud.
Ao longo dos últimos anos, o autor tem apresentado aos leitores os principais destaques e pensamentos que englobam a transmissão da psicanálise, com destaque para "Édipo", "A Histeria", e "Cinco Lições sobre a Teoria de Jacques Lacan".
Só que além desses fundamentos conhecidos do público geral, Lacan, já nos últimos anos de sua vida, desenvolveu um complexo sistema de pensamentos por meio da topologia matemática, onde tentou demonstrar o funcionamento psíquico por meio de figuras e equações.
Diz o ditado popular que a matemática é a linguagem de Deus. Pois então, pode-se entender que a ideia da topologia lacaniana passa por aí. O que o revolucionário psicanalista francês buscou foi traduzir de forma mais clara e ampla os raciocínios e repetições da mente humana.
"Quando se trata do real psíquico, a questão permanece: qual a diferença entre pretender dizer esse real com conceitos, escrevê-lo com números e mostrá-lo com artifícios imaginários?", questiona Nasio.
O ensino desse "último Lacan", como alguns teóricos gostam de destacar, não é fácil e muito menos "convidativo". Tanto que muitos psicanalistas nem se aventuram por essas teorias. Em "Introdução à Topologia de Lacan", Nasio tenta esclarecer o receio na compreensão das ideias.
Nesse sentido, o livro é bem objetivo, com textos curtos e que não se enroscam em ensaios filosóficos apenas referenciais. Busca, ao contrário, explicar o funcionamento e aplicação de cada ilustração, como a "banda (fita) de Moebius", a "garrafa de Klein" e o "cross-cap".
Folha de São Paulo
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