segunda-feira, 20 de junho de 2011

Mãe polêmica

Colocada no centro de um escândalo que sacode a Argentina, envolvendo desvio de recursos que seriam utilizados para a construção de casa populares, a líder das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, 82 anos, tem sido bastante questionada por suas atitudes.
A primeira acusação é de ser omissa. Ela disse que não sabia da farra que os os irmãos Schoklender faziam com o dinheiro repassado pelo Estado para a construção de casas populares, uma das muitas atividades das Mães da Praça de Maio (há ainda rádio, gráfica e faculdade). Os irmãos administravam um fundo de US$ 300 milhões (R$ 474 milhões) repassados pelo governo Cristina Kirchner para a construção de moradias. Parte desses recursos foi desviada para uma empresa registrada no nome de um deles.
Bonafini, no início do escândalo, chamou as denúncias de "idiotices". Depois mudou o discurso e agora pede que os irmãos sejam presos. Disse que foi enganada. O governo Cristina Kirchner, chamuscado pelas irregularidades no meio da campanha eleitoral, tratou logo de defendê-la, responsabilizando pelas fraudes os ex-administradores da organização.
Os Schoklender são investigados pela Justiça pelos crimes de enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, desvio de recursos públicos e associação ilícita. Eles foram adotados por Hebe de Bonafini, nos anos 90, após cumprirem pena pelo assassinato dos pais, em 1981, num dos crimes mais bárbaros da história recente da Argentina. Sérgio e Pablo Schoklender mataram pai e mãe a pauladas. Os corpos, acomodados em bolsas, foram deixados dentro de um carro estacionado num bairro nobre de Buenos Aires.
O que ninguém entendeu é: como Hebe de Bonafini, que luta há décadas por informações sobre os 30 mil mortos e desaparecidos na última ditadura (ela perdeu dois filhos e uma cunhada no período), adotou irmãos com o histórico dos Schoklender? Até aqui não há resposta.
A polêmica Bonafini também é autora de frases impensáveis para uma dirigente reconhecida internacionalmente na defesa dos direitos humanos. Muitas foram relembradas nestes tempos de crise:
Sobre o atentado terrorista de 11 de setembro: "Eu estava em Cuba, visitando minha filha, e senti alegria. Não vou ser hipócrita, não me doeu nada".
Sobre a troca de reféns das Farc com o governo colombiano de Álvaro Uribe: "Estamos com os companheiros das Farc, estamos com Chávez, estamos com nosso presidente Néstor Kirchner. Uribe é um merda e um grande filho da puta".
Sobre a relação do Congresso com o governo argentino: "O Parlamento não vale nada".
Sobre a inauguração do Museu da Memória, em Buenos Aires: "Que pena que não estejam os FAL [um modelo de fuzil] que nossos filhos quiseram fazer a revolução. Se o museu não vai mostrar como foi a organização revolucionária, as lutas que travaram, os feitos que fizeram, não serve".
Sobre o velório na Praça de Maio de um boliviano morto a tiros: "Saíam de nossa praça, seus filhos da puta! Saíam seus bolivianos de merda!"
Apesar das críticas e questionamentos, inclusive de aliados, Hebe de Bonafini continua à frente da organização.

Lucas Ferraz

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