segunda-feira, 27 de junho de 2011

Quando o governo não serve


Em maio do ano passado, o ex-presidente Lula batizou o primeiro petroleiro construído no estaleiro Atlântico Sul, no Complexo Industrial e Portuário de Suape, em Pernambuco.
Suape foi uma das prioridades do pernambucano Lula e de seu PAC, gerenciado pela então ministra Dilma. Os PAC 1 e 2 podem colocar até R$ 800 milhões no empreendimento.
O complexo é um fenômeno mesmo sem terem maturado todos seus investimentos, estimados em R$ 27 bilhões.
Há 100 empresas instaladas e 35 sendo implantadas. Além do porto e do maior estaleiro do hemisfério sul, há uma refinaria de petróleo, três plantas petroquímicas e uma infinidade de indústrias e prestadoras de serviço.
Mas, em um país onde as coisas nunca são bem feitas e completas, Suape não poderia ser diferente.
Quando Lula foi posar para fotos na região, a menos de 60 km do Recife, voou para lá de helicóptero.
Já as pessoas que hoje trabalham no local padecem em jornadas de trânsito que variam de três a seis horas, todos os dias.
Segundo ampla reportagem do "Jornal do Commercio", do Recife, há coitados que perdem até nove horas no tráfego, mães que deixaram de ver os filhos crescer e uma proliferação de doenças relacionadas ao estresse do trânsito. Tudo para correr uma distância de pouco mais de 110 km entre a ida e a volta.
De cerca de 6,6 mil empregos em 2009, a área de Suape emprega hoje mais de 74 mil pessoas. O total de veículos que se dirige à região saltou de 6,7 mil para 10 mil e cresce a cada dia.
Saturadas, as duas principais rodovias que levam a Suape são a federal BR 101 e a ex-estadual PE 60, só recentemente federalizada para que venha a ser duplicada algum dia.
Além dessa providência, já atrasada e paliativa, não se fala em alternativas de longo prazo. Como transporte ferroviário ou marítimo de passageiros entre o Recife e a região, programada para se expandir cada vez mais.
Por questões ideológicas em um país onde o Estado quase não investe, Lula e sua gerente Dilma atrasaram boa parte da infraestrutura nacional.
Lula só permitiu concessões privadas de estradas a partir de 2008 (dois anos antes de sair). Dilma só recentemente admitiu que o setor privado tenha o controle nas concessões de grandes aeroportos. Antes, queria que a ineficiente Infraero comandasse ampliações com dinheiro privado, o que não colou.
Como mostrou o colega Mauro Zafalon em reportagem na Folha, alguns empresários cansaram de esperar pelo governo.
No oeste da Bahia, explodindo com o agronegócio, 13 fazendeiros separaram uma área e fizeram com o próprio dinheiro a base de uma pista de 3 km e um pátio para aeronaves. Agora, entregam de mão beijada o investimento para o governo na esperança de que seja concluído.
Os produtores também colocaram do bolso R$ 2 milhões no projeto de uma estrada de 222 km para escoamento de safra e criaram um fundo privado para financiar a obra.
Para esse pessoal, o governo parece não servir para nada.
E os engarrafados pernambucanos que esperem, sentados.

Fernando Canzian

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