segunda-feira, 20 de junho de 2011

Corpos perfeitos, imagens fantásticas e mal estar permanente: a mentalidade de dieta I

O controle social massificante do corpo, por meio da mentalidade de dieta, aliena o sujeito dos sinais básicos da alimentação (fome, saciedade e prazer) e leva a perda de autonomia alimentar. Diante de um prato de comida ou de um bufê as pessoas parecem perdidas e assustadas, procuram contar calorias, falam sobre a natureza perigosa dos alimentos e não sabem o que têm vontade de comer. Comem por recomendação “científica” ou pela dieta da moda. Algumas engolem a comida rapidamente, outras nunca estão satisfeitas, pois trocaram o bife que desejavam por um enorme prato de alface. A comida engorda e mata. A fome deve ser abolida do nosso vocabulário, deve ser negada e censurada. O comer já não é mais guiado por um estímulo interno chamado fome, que pode aparecer a qualquer hora. Não se escolhe livremente a comida para cada momento de fome. Deve-se comer de três em três horas ou deve-se comer x ou y a cada tantos minutos, teorias não faltam. Enquanto isso, o sinal de saciedade se perdeu. Ou comemos até sentir dor ou saímos da mesa com fome. A proibição de comer certos alimentos faz com que muitos de nós se pareça com condenados à morte, que têm o direito de se esbaldarem com a última refeição. A privação real de prazer, de caloria e a privação fantasiada advinda da ideia de iniciar uma dieta na semana seguinte aumentam a compulsão. O círculo vicioso formado por desejo, proibição e punição se repete, pois a moralidade migrou do sexo para a comida.
Mas, o que aconteceu com os sinais de fome, saciedade e prazer que são fundamentais para o ato de comer? Parece que o homem se tornou despreparado para lidar com a própria sensibilidade. É que a relação entre homem e comida sofreu enorme perturbação nas últimas décadas, advinda da regulação científica, dos ideais de beleza, da produção industrial e do bombardeamento da informação.
A mentalidade de dieta é um termo usado por Susie Orbach para descrever essa perturbação e para denunciar que o “engordamento” (epidemia de obesidade) da população mundial e o aumento dos problemas alimentares (anorexia, bulimia e distúrbio compulsivo de alimentação) estão diretamente ligados ao aumento do controle alimentar, por meio das dietas, para alcançar um corpo idealizado. Os tratamentos baseados no controle da alimentação agravam o problema, são causa e consequência da situação aqui descrita.

Luciana Saddi

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