sexta-feira, 10 de junho de 2011

Na alegria e na tristeza

Em alguma outra galáxia, talvez seja possível um presidente da República governar sem o apoio do Congresso. Na Via Láctea, parece que ainda não dá.
Nesse contexto, é arriscado a presidente Dilma Rousseff jogar duro demais com os partidos aliados, sobretudo com o PMDB, sócio da sua eleição. Desde a redemocratização de 1985, o PMDB é uma força estabilizadora ou desestabilizadora do presidente de plantão.
No governo de José Sarney, o partido foi o dono de fato da Esplanada dos Ministérios.
Fernando Collor de Mello caiu devido à combinação de um grave escândalo de corrupção, da mobilização da sociedade civil e da falta de apoio no Congresso. Se um desses fatores estivesse ausente, a história do impeachment provavelmente seria outra.
O cometa Itamar Franco, que teve o mérito de bancar o plano que domou a inflação brasileira, contou com a compreensão do PMDB. A legenda foi obrigada a sustentar o governo que sucedia ao que acabara de derrubar.
Fernando Henrique Cardoso teve a popularidade do real a lastreá-lo politicamente no primeiro mandato. No entanto, em 1997, a emenda da reeleição só foi aprovada devido à ação decisiva do grupo do então presidente da Câmara, Michel Temer.
Meses depois, com o apoio da ala governista do PMDB, FHC conseguiu impedir a candidatura de Itamar Franco pelo partido. E obteve uma reeleição tranquila.
Na desvalorização do real em 1999, o tucano se enfraqueceu. Mas o apoio do PMDB o ajudou no segundo mandato a ponto de FHC romper com o então PFL, hoje o desidratado DEM, no apagar das luzes de sua administração.
Com o desgaste do governo, o PMDB apoiou oficialmente o candidato de FHC à sua sucessão, o então ministro da Saúde, José Serra. Mas uma ala se rebelou, ficando com o vitorioso Luiz Inácio Lula da Silva. Então coordenador político da transição, José Dirceu insistiu para que Lula fechasse com todo o PMDB. Mas o petista cometeu o erro de esnobar o grupo que apoiara a gestão tucana.
Esse equívoco é uma das raízes do mensalão.
Lula aprendeu a lição a duras penas. No segundo mandato, acabou com essa tradição de alas governista e oposicionista. Teve uma calmaria só no Congresso Nacional. Realizou um segundo mandato que o levou a deixar a Presidência como o político mais popular de nossa história recente.
Um olhar no retrovisor permite concluir que dificilmente Dilma ganharia a eleição de 2010 sem o tempo de TV e rádio no horário eleitoral gratuito que o PMDB lhe conferiu. A transfusão de popularidade de Lula para Dilma exigia esses valiosos minutos a mais.
A presença do presidente do partido, Michel Temer, na chapa que concorreu ao Palácio do Planalto, selou uma união estável com efeitos sobre a repartição de poder no Executivo e o apoio no Legislativo. Sem a força de Lula, Dilma se casou politicamente com o partido o que vale na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.
A primeira grave crise do governo Dilma resultou num estremecimento da relação. Agora, quando se fala em recomeço e em freio de arrumação, seria sábio a presidente refletir como pretende levar esse casamento por mais três anos e meio.

kennedy Alencar

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