sexta-feira, 27 de maio de 2011

Será que desta vez é mesmo diferente?

Os emergentes emergiram de vez. O "novo normal" é ter os investidores despejando rios de dinheiro no Brasil, China, Índia, sempre. Isso não vai mudar tão cedo.
Pelo menos, é o que disseram quase todos os economistas reunidos ontem no seminário do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre fluxos de capital para mercados emergentes, aqui no Rio.
Mas o Brasil, como muitos que tropeçaram feio no passado, é gato escaldado. Há um pesadelo que assombra os países emergentes desde a crise da dívida dos anos 80. Naquela época, quando o então presidente do Fed americano, Paul Volcker, pôs a taxa de juros americana nas alturas, o dinheiro que vinha fluindo para os emergentes fugiu. México, Brasil e outros foram pegos de calças curtas, e o resultado foi um calote com consequências desastrosas.
O medo é o seguinte: os emergentes agora estão com a bola toda, não para de entrar dinheiro estrangeiro, o real se valoriza e se valoriza. Daqui a pouco, os EUA elevam os juros, e a festa acaba. Vem o monstro do "sudden stop", a reversão do fluxo - e vai faltar dinheiro para financiar o déficit em conta-corrente do Brasil.
Luís Pereira, diretor do Banco Central, traduziu bem a sensação: fluxo de capital é como chocolate, é gostoso, dá energia, mas quando é demais, faz mal, até criança sabe.
Joyce Chang, chefe de pesquisa de mercados emergentes do JP Morgan Chase que participou do seminário, acha que a avalanche de capitais estrangeiros veio para ficar. "Esse aumento de investimentos nos emergentes é duradouro, não haverá reversão, esse é o novo normal."
O diferencial de juros entre países ricos e emergentes está muito alto e não deve cair tão cedo. Além disso, a perspectiva de crescimento de emergentes e a saúde fiscal de países como o Brasil é muito superior a de nações avançadas.
Fundos de pensão americanos investem hoje 2,1% de seus recursos em países emergentes. Segundo Chang, eles pretendem aumentar esse porcentual para 7%. Esses fundos têm US$ 3,7 trilhões em recursos mais do que as reservas da China. Desde 11 de março, houve turbulência na Líbia, alta do petróleo, quase estourou o teto da dívida americana mesmo com toda essa instabilidade, os investimentos em emergentes tiveram aumento. Eles são agora "fuga para qualidade" e não mais "investimento especulativo".
"Não estou dizendo que não existem mais ciclos, mas este ciclo (de alta dos emergentes) pode durar 25, 30 anos".
Quando ouvi isso, tive um certo calafrio.
E meu colega Fernando Dantas, repórter especial do Estadão, foi certeiro "Isso está me cheirando a 'This time is different' ". Ele se referia ao livro dos economistas Kenneth rogoff e Carmen Reinhart, que analisa 80 anos de crises econômicas. Todas as vezes aparecia alguém decretando o fim dos ciclos econômicos, "a grande moderação", e pumba, lá vinha a crise de novo.
Talvez, desta vez, seja "a hora em que os emergentes emergiram de vez".Mas será? Será que desta vez é realmente diferente?

Patrícia Campos mello

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