segunda-feira, 30 de maio de 2011

Os indignados ganham, o deboche perde

De alguma maneira, dá para dizer que os "indignados", como se auto-denominam os manifestantes que estão tomando praças públicas em número crescente de países europeus, tiveram nesta segunda-feira a sua primeira vitória eleitoral, justo eles que são claramente anti-partidos (mas não anti-política, que fique claro).
Ganharam as prefeituras mais emblemáticas em disputa na Itália, as de Milão e Nápoles. No geral, nas 88 prefeituras em que houve segundo turno domingo e segunda-feira, o governo de Silvio Berlusconi tomou uma surra de dimensões extraordinárias. Ou, posto de outra forma, perdeu o deboche, que é a maneira de governar de Berlusconi, ganhou a indignação.
É preciso no entanto deixar claro que os ganhadores tanto em Milão como em Nápoles não foram candidatos lançados pelos movimentos espontâneos de cidadãos, na maioria jovens, que ocuparam as praças públicas de Portugal, primeiro, da Espanha depois, agora da França e da Grécia.
Os vencedores, na verdade, são produto de uma indignação anterior à presente onda. Tome-se Nápoles: o candidato vencedor, Luigi de Magistris, é um ex-juiz lançado pelo grupo "Itália dos Valores", criado pelo também ex-juiz Antonio di Pietro, um dos responsáveis pela chamada "Operação Mãos Limpas", que fez implodir o sistema partidário italiano nos anos 80/90.
No curso da operação, foram expedidos 2.993 mandados de prisão, envolvendo, entre outros, 438 parlamentares, dos quais quatro haviam sido chefes de governo.
Fica, pois, evidente que motivos para indignação com a política italiana não faltam. Mas ela não havia sido suficiente para dar a Di Pietro e seu grupo político mais que 4,3% dos votos na eleição nacional de 2008, a que conferiu a Berlusconi um terceiro mandato.
Os 65% agora obtidos em Nápoles tornam-se pois uma vitória da acumulação de indignação.
Da mesma forma em Milão, cidade que tem mil títulos para ser simbólica em todos os sentidos: foi lá que nasceu o fascismo, foi lá que nasceu politicamente Berlusconi, é a capital econômica do país, paradigma da modernidade em tantos aspectos.
Sabedor do símbolo que é Milão, Berlusconi jogou tudo na eleição municipal, a ponto de ter sido o cabeça de chapa de seu Povo da Liberdade para o equivalente à Câmara Municipal. Seu partido ficou importantes 10 pontos percentuais atrás de outro representante da indignação, Giuliano Pisapia (pronuncia-se Pisapía), que resolveu enfrentar, sem máquina, o candidato preferido da cúpula do Partido Democrático, o grupo de centro-esquerda que faz uma oposição chocha a Berlusconi.
Ganhou a indicação graças às bases do PD, derrotando os caciques do partido da direita.
"Venceu a Itália da elegância das paixões; isso é o mais importante na política", cantou Nichi (de Nicola) Vendola, governador da Puglia, ex-comunista, criador do SEL (Sinistra, Ecologia, Liberdade; sinistra é esquerda em italiano), uma figura relativamente jovem (53 anos) à qual convém prestar atenção. Pode acabar sendo a materialização, como candidato, da indignação, quando e se Berlusconi ceder ao grito de "demita-se" dado por Pier Luigi Bersani, o líder do PD, assim que os resultados foram anunciados.
Resultados que parecem indicar o começo do fim para o presidente do governo italiano.

Clóvis Rossi

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