
Paul McCartney acaba de fazer um verdadeiro show de música clássica na Zona Norte do Rio. Das 33 canções apresentadas nas duas horas e meia de apresentação, o ex-beatle tocou diversos clássicos da música popular universal - de "All my loving" a "Eleanor Rigby" a "Drive my car" ou "Let it be", todas mais velhas que boa parte da plateia presente ao estádio. O formato do show (de arena), feito para encantar as multidões, pode ter sido o mesmo que o astro apresentou em novembro passado em São Paulo e Porto Alegre, e com o qual Sir Paul tem rodado o mundo na turnê "Up and coming tour". Mas edaí? São sempre assim os concertos de música clássica: todos parecidos, mas igualmente únicos.
E o rock'n'roll é a variação clássica mais popular já surgida na história da música. No palco, a liturgia é seguida à risca: do velho baixo Hofner às guitarras Gibson, dos amplificadores Vox e Marshall que fazem o som soar cristalino e potente ao mesmo tempo, tudo é clássico na apresentação de Paul. Até mesmo as explosões pirotécnicas em "Live and let die". Por mais óbvio que pareçam os truques do músico de 68 anos, o efeito é o mesmo para senhores e senhoras de 50, 60 (70?) anos, adolescentes encantados e crianças espantadas com a vibração quase física daquela música. A euforia completa em "Band on the run" ou as lágrimas incontidas em "The long and winding road", só para citar dois momentos de catarse, comprovam isso facilmente.
Mas o show não seria metade do que foi se Paul McCartney não fosse quem é. Sim, ele joga o tempo todo para a plateia. E joga sujo: arranha frases em português ("Ulá Riio, I aí, cariocas, Bua noiti, Brasil!"), estimula corinhos coletivos, faz caretas que o telão de alta definição capta em detalhes e diverte sem pudores seu público. Afinal, ele e sua excelente banda, formada por Rusty Anderson (guitarra), Brian Ray (guitarra e baixo), Abe Laboriel Jr. (bateria) e Paul Wickens (teclados e guitarra), são muito bem pagos para isso.
O que conta, no fim das contas, é o carisma imbatível do homem e a força de suas músicas. Afinal, o cara é um beatle, um velho apaixonado pelo rhythm and blues, com uma quedinha pela distorção - um senhor professor de rock. "Let me roll it", com citação de "Foxy Lady", de Jimi Hendrix, "A day in the life" (com excertos de "Give piece a chance", de John Lennon), "Lady Madonna" e "Day tripper" no bis, até mesmo a farra coletiva que a fraca "Ob-la-di-Ob-la-da" ´promoveu. Paul usou todos os truques que tinha na manga. E o público fez questão de cair em todos eles, sem o menor pudor.
Mesmo assim, houve espaço para surpresas, como o flash mob com balões e um mar de cartazes de "Na na na na" durante os quatro minutos (cronometrados!) de coro em "Hey Jude". "Hey, aquilo foi fantástico", reconheceu o velho roqueiro, já no bis do show. Deve ser por esse tipo de coisa que Paul não larga a estrada: o amor incondicional de 45 mil pessoas deve ter algum poder rejuvenescedor.
Ricardo Calazans
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