sábado, 21 de maio de 2011

Cala boca já morreu

Agora é assim, bateu levou. No mundo das redes sociais pautando o comportamento de todos (todos os incluídos no ambiente digital, naturalmente), ninguém mais precisa pedir licença para palpitar, assim como ninguém mais poderá ter sua opinião descartada impunemente.
Lembre o caso da geladeira que o cidadão comprou e que chegou com defeito e que mobilizou até mesmo o presidente da empresa para trocar o produto e pedir desculpas, uma vez que o consumidor prejudicado botou a boca no trombone digital, encontrando eco surpreendente para sua bronca e arrasador para a empresa.
Veja o caso dos 50 mil internautas que em menos de uma semana aderiram ainda que virtualmente ao protesto contra a mudança-que-não-aconteceu da estação do Metrô no bairro de Higienópolis, em São Paulo.
Polêmicas à parte, não há como não se surpreender com a facilidade com que ocorre a mobilização.
As redes sociais tornaram-se, assim, o terror dos SAC, serviços de atendimento aos clientes de seja lá o que for. E devem, cada vez mais, incomodar e preocupar o capital (empresa) e o estado (governos), que serão mais e mais cobrados, mais e mais expostos.
Porque a coisa agora é assim, uma reclamação recusada ou negligenciada por quem deveria resolver o problema pode se transformar muito rapidamente num rastilho de pólvora de proporções inimagináveis, muitas vezes detonando o prestígio e a imagem pública de uma marca que demorou anos para ser construída. Uma piada torta dita fora de contexto atrai avassaladora onda de protestos. E por aí vai...
Um amigo conta que outro dia encontrou o executivo de uma grande indústria de roupas, completamente deprimido, porque o caso isolado de uma peça que desbotou acabou se tornando um case de tanta repercussão em que a empresa, mesmo resolvendo o problema, virou saco de pancadas.
Essa nova dinâmica da comunicação instantânea que dá voz ao cidadão é uma dureza, viu? Posso falar de experiência própria, porque agora é assim, escreveu, o leitor não gostou, dê-lhe bordoada no espaço aqui de baixo destinado aos comentários...
Claro que tem gente que extrapola, parte para a ignorância e acaba perdendo o direito ao espaço que não é nem deve ser repositório de ofensas.
Mas se a argumentação é civilizada, doa a quem doer, temos que ouvir... E às vezes dói mesmo...
O que nos leva a uma situação em que tem muito 'peixe' morrendo pela boca. Ou seja, pagando pelas incontinências verbais.
O cantor Ed Motta e os humoristas Rafinha Bastos e Danilo Gentile estão aí para exemplificar, andaram falando sem pensar (o primeiro e último detonando mulheres e o do meio fazendo gozação com judeus) e foram completamente execrados justamente num meio que até então era garantia de sucesso e visibilidade.
Mas é justamente essa visibilidade que expõe as pisadas na bola, e quando você menos percebe, tarde demais: tem que aguentar, porque, realmente o cala a boca já morreu.

Luiz Caversan

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