domingo, 22 de maio de 2011

Cidade do desperdício 2 - capital intelectual

Não há dúvida de que São Paulo possui alto capital intelectual. Paulistanos natos e tantos outros que aqui vêm estudar ou viver asseguram um grande ativo. Porém, obtivemos má colocação nesse quesito de avaliação.
O capital intelectual começa pela base: qualidade na escola, sem dúvida. E tem relação estreita com o nível de ensino em todas as instâncias. Contudo, a pesquisa mostra importantes indicações, não tão explícitas para a sociedade.
Existe um paralelo relevante entre o atributo Capital Intelectual, Inovação e os quesitos de Saúde e Segurança. Na pesquisa, Segurança se apresenta como "Safety and Security". Significa que não é só segurança contra crimes e violência. O conceito se estende para segurança psicológica: sentir-se seguro no emprego ou em encontrar emprego com o nível educacional que cada um possui, segurança com o padrão de vida, não se sentir ameaçado. É um conceito mais amplo.
A correlação entre capital Intelectual/inovação e os atributos de saúde e segurança é 87%. Ou seja, para desenvolvermos o capital intelectual potencial e transformá-lo em Inovação precisamos de três fatores: a base, com o ensino, a ponta para realizá-lo, com centros de pesquisa onde os talentosos exerçam suas competências, e condições de vida. Os tais do clima e ambiente, sobre os quais já nos referimos em artigos anteriores.
Sem clima não se realiza nada. Ninguém sai fazendo algo só por conta de uma palavra de ordem ou de uma campanha publicitária. O ambiente do entorno é a chave que envolve e catalisa. Toronto, São Francisco, Estocolmo e Sidney expressam bem essa correlação.
O capital intelectual da cidade são seus líderes inovadores. Como quaisquer cidadãos, necessitam de vida saudável e segurança, amplo senso. Integridade física e segurança na vida profissional para criarem raízes e prosperarem.
Segurança e saúde são imprescindíveis ao processo criativo. A ausência desses fatores provoca exílios voluntários. Mentes brilhantes são requisitadas por outras cidades, outros centros. As mais tímidas, que não chegam a se expressar, ficam embotadas. É a história do desperdício. É assim que estamos fazendo.
Além disso, "capital Intelectual e inovação" têm correlação de 94% com o total de quesitos avaliados. O que deixa claro que para desenvolvê-lo é preciso do todo. Cuidar do todo com sinergia é o que chamamos de um Projeto de Cidade.
Os jovens, sem alternativa para utilizarem as respectivas habilidades procuram se sobressair na internet, que é um mundo intenso e anárquico. Bom pelo lado da liberdade de expressão, mas que também dispersa talento.
Talento e energia organizados e com condições de trabalho dariam a cidade ganhos imensuráveis. E porque eles são desperdiçados sem que percebamos, não nos damos conta do tamanho do prejuízo. Esse é o maior desperdício que realizamos.
Jogar fora inteligência não é inteligente. O grave é que isso não está em discussão. Em vez de contermos essa sangria intelectual, gastamos tempo com problemas pontuais e imediatos, originados pela falta de cabeças para pensar sobre eles.
Cômico. E trágico.
Em uma palavra: inaceitável.

José Luiz Portella

Nenhum comentário:

Postar um comentário