quarta-feira, 6 de julho de 2011

Só vontade não decide

Na semana passada escrevi que, em curto período de tempo, não teremos a enorme quantidade de jogadores sem qualidade técnica nos gramados. Entre as mensagens que recebi, algumas diziam que eu era um sonhador e que minha tese seria impossível de acontecer.
Mas o que me chamou mais a atenção foi que alguns torcedores veneram aqueles jogadores que entram em campo com vontade excessiva e saem com a camisa encharcada de suor, mesmo que estes sejam medíocres tecnicamente.
Essa idolatria aos jogadores tidos como "raçudos" me intrigou muito. O que leva um torcedor, muitas vezes, a aplaudir um jogador mediano e esforçado e não simpatizar com outro, de toque refinado que, em único toque, decide uma partida?
A primeira conclusão a que chego é que o torcedor se identifica com essa classe de jogador, pois vê nesse tipo de atleta sua personificação em campo. Se pudesse entrar no gramado, o fanático faria tudo que os dedicados ao extremo fazem. Ou seja, nunca desistem do jogo, cobra mais empenho dos companheiros, faz gestos para reger a torcida e não deixa o adversário humilhar o time - qualquer gracinha já é parada com uma pancada.
O que poucos percebem é que esses jogadores ruins e idolatrados são os que acabam sempre sendo responsáveis pela derrota. Medíocres erram um passe que dá o gol da vitória ao adversário, cometem faltas bobas nas imediações da área e são expulsos na hora que seu time é superior na partida.
Outro fator importante para a excessiva valorização de jogadores ruins está no fato de não podermos contar com nossos melhores atletas aqui no Brasil ao mesmo tempo em que paramos de revelar uma grande quantidade de talentos.
O nosso nível de exigência caiu muito. Por isso, cada vez mais os torcedores se contentam em aplaudir bicões para o alto, carrinhos e urram quando um jogador vibra porque uma bola bateu no seu peito e foi para escanteio. Infelizmente, o brasileiro está gostando e se acostumando em ver partidas extremamente fracas tecnicamente, mas que mostram uma correria insana de jogadores pelo campo.
Os treinadores também adoram esse tipo de jogador mediano e também por isso eles se proliferaram tanto nos últimos anos. Os técnicos sabem que, para continuarem como titular, eles fazem qualquer função em campo, inclusive a de seguir um determinado adversário por todos os lugares do campo.
Inclusive, na paranoia de nossos treinadores pelo jogo defensivo, eles difundiram e muitos aceitam que jogadores de melhor qualidade técnica não se emprenham taticamente e deixam a equipe vulnerável. Garanto que é mais fácil que um jogador com boa técnica cumpra uma determinada função do que um jogador perna de pau.
No futebol, o excesso de vontade pode até ajudar, mas sempre o que decide a partida é a técnica dos jogadores. Sempre foi assim e nunca irá mudar, por mais que o jogo evolua.

DESTAQUE
Já passou da hora de o nosso calendário se ajustar ao período que disputa a temporada na Europa. Não é possível que todo ano que Campeonato Brasileiro fique esvaziado devido a um torneio internacional - este ano foi a Copa América, em 2012 vai acontecer os Jogos Olímpicos, em 2013, a Copa das Confederações, em 2014, a Copa do Mundo e por aí vai. Sem dizer que muitos clubes ficam sem seus principais jogadores para disputar o Brasileirão. Até os russos, com seu inverno rigoroso, vão conseguir acertar o calendário. Agora, não vamos cair no conto que dá para jogar futebol no Brasil em janeiro. Só para lembrar: em que mês começam os Estaduais?

ERA PARA SER DESTAQUE
Não me causa nenhuma surpresa o que está acontecendo com a organização do Mundial de 2014. Todos sabiam que não haveria Copa do Mundo sem dinheiro público, que as obras dos estádios e estruturas das cidades iriam atrasar para que ficassem mais caras e que vários estádios não terão utilidade após o término da competição da Fifa. Ou seja, nada mudou no cenário que tivemos na preparação para o Pan do Rio de Janeiro. Agora, só nos resta continuar cobrando ainda mais para que os que cometerem irregularidades sejam realmente punidos, o contrário do que se aplica até hoje, quando convivemos com laudos sempre inconclusivos e que não punem ninguém.

HUMBERTO PERON

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