quarta-feira, 13 de julho de 2011

Por que continuamos fugindo?

Nem todo o progresso da economia brasileira nos últimos anos nem a ascensão à classe média de uma fatia ponderável da população nem o bem-estar evidente a olho nu sentido em especial no ano passado nada disso conseguiu deter a fuga de brasileiros para o exterior.
Diminuiu, sim, quase 30% (29% exatamente), entre 2003/2007 e 2008/2009. Mas continua elevado, ainda mais se considerar que o Brasil foi tradicionalmente um país de receber imigrantes em vez de fabricar emigrantes, certo?
Os números estão em relatório bem abrangente da Organização dos Estados Americanos. Mostram que, na média anual do período 2003/07, 92.850 brasileiros buscavam esperança em outros países (o número refere-se apenas a emigrantes legais; os demais, como é óbvio, são muito difíceis de contar porque se escondem no país de acolhida para fugir à deportação).
Já em 2008/09, a média anual caiu para 66.240.
Difícil dizer se a queda se deve à crise no mundo rico, que o tornou menos atraente para os habitantes do vasto mundo emergentes, ou se ao celebrado avanço dos próprios emergentes, que fez com que a esperança pudesse ser encontrada localmente e não além-fronteiras.
O que chama a atenção, na chuva de dados do relatório, é o fato de que a irresistível atração dos Estados Unidos não diminuiu com a crise lá e as melhoras aqui. Ao contrário. No período 03/07, a média anual de brasileiros que procuravam o paraíso norte-americano (suposto ou real) era de 13.150. Em 2008/09, justamente os dois anos de uma baita crise nos EUA, a média anual subiu para 13.450.
Os Estados Unidos, aliás, continuam sendo um imã poderoso para todos os americanos que nasceram ao sul do rio Grande: dos 950 mil emigrantes, por ano, que buscam países da OCDE (o clubão dos 31 países mais ricos do mundo, do qual o Brasil só não faz parte porque não quer), a metade foi para os EUA. Um quarto procurou a Espanha, o que tem lógica: a grande maioria dos países latino-americanos fala espanhol e é naturalmente mais fácil adaptar-se em um país cuja língua se conhece.
Outro dado chamativo é que os brasileiros, embora não falem espanhol (alguns até acham que falam, mas, no geral, é um portunhol de doer nos ouvidos), tem a Espanha como segundo país de preferência, depois dos EUA.
Confesso que, até poucos anos atrás, no período de inflação alucinada e, depois, de crescimento medíocre, era fácil entender a diáspora brasileira. Lembro-me de ter encontrado, lá por 1997/98, duas mineirinhas empregadas como faxineiras em um hotel à beira da estrada que liga Oxford a Londres, no Reino Unido. Resfolegavam arrastando o cestão de roupa de cama e banho para lavar, em um frio desagradável.
Ao ouvir o inconfundível sotaque mineiro, perguntei o que faziam naquele fim de mundo (pelo menos da perspectiva de quem sai do fundão das Minas Gerais). "Sabe que eu não sei", respondeu uma delas.
Agora, então, que a economia se estabilizou e o país cresce, fica mais difícil ainda saber as razões do contínuo êxodo. Você sabe?

Clóvis Rossi

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