sábado, 9 de julho de 2011

Chico Buarque e a maldade humana

Ao contrário do que dizia Jean-Jacques Rousseau sobre os selvagens bonzinhos do mato, nós, pós-índios da cidade, somos muito ruins.
Malvados, mesmo, desde criança.
A maldade, como já disse aqui, está no DNA do ser humano, se não se expressa cotidianamente, está aí quietinha, pronta para dar as caras.
E não dá mais as caras porque as convenções sociais contêm ao menos um pouco esta ruindade intrínseca --aquela que faz o menino tacar fogo no rabo do gato, a menina arrancar o olho da boneca, o motorista jogar o carro pra cima do pedestre ou o assaltante matar a vítima que não reagiu-- tornando-nos aparentemente inofensivos.
Só aparentemente.
Porque nada como uma boa dose de anonimato, ou alguma situação em que a pessoa não se expõe direta e pessoalmente diante de sua vítima, para que muita gente coloque as manguinhas de fora.
O universo da internet é, portanto, terreno mais do que fértil para que essa maldade cresça e floresça, muitas vezes de forma exagerada e gratuita - e quem transita por aqui, como eu, sabe exatamente do que se trata...
Mas quem descobriu isso há pouco e ficou absolutamente chocado foi o cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda.
Praticamente uma unanimidade nacional da MPB (como escritor, andou atraindo críticas injustas ultimamente), detentor de uma legião gigantesca de fãs ardorosos, sobretudo do sexo feminino, eis que ele se expôs recentemente ao fantástico mundo da interação digital.
E se deu muito mal.
Um vídeo que circulou esses dias traz um relato do artista em que ele manifesta seu espanto por ter descoberto um monte de gente que não gosta dele e que faz questão de deixar isso agressivamente bem claro, por meio de posts em um site sobre o seu novo disco.
No filmete, Chico lembra que o artista em geral vive num mundo em que se sente amado, há os aplausos, o carinho do público nas ruas, mas que na internet o bicho pega.
"Eu não sabia que o jogo era esse. Na internet as pessoas falam o que lhe vem à cabeça. Na primeira vez, fiquei espantadíssimo. Você descobre que é odiado!".
Ele diz isso entre o espanto propriamente e um riso bem nervoso, lembrando posts que diziam "este velho!" ou "olha o que o álcool faz com a pessoa".
O vídeo, de fato, é hilário, naquela linha de seria cômico se não fosse trágico, trágico pelo menos para o Chico.
Mas além de nos proporcionar alguma diversão, ele, Chico, deixa uma lição: "Você vai fazer o quê? Existe muita raiva, e você vai ficar com raiva de quem está com raiva? Melhor deixar pra lá...".
E arremata com uma observação muito, muito boa...
Vale a pena dar uma olhada no vídeo.

Luiz Caversan

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