sábado, 30 de julho de 2011

Na contramão

Quem tem 223 metas não tem meta alguma. A Prefeitura de São Paulo tem 223 metas. Logo, a cidade não sabe para onde ir.
Em São Paulo, muitas vezes você caminha contra o vento. Não com o prazer de uma brisa ao sol de quase dezembro; mas um vento cortante e incômodo, invernal, que causa esforço até em momentos de prazer.
Tudo, em São Paulo, tem uma exaustão além do necessário. A cidade é hostil.
Ter uma utopia mistura de sonho quase impossível com ambições reais; lutar para viver num lugar legal é fundamental. A falta de utopia faz da vida algo burocrático, repetitivo e com poucas emoções.
A vida também é sonho. Sem sonho comum, reclamar da cidade vira pauta diária das pessoas. A mudança é ter um projeto palpável e desafiador para erradicar a insatisfação. Não ter opção, não enxergar um horizonte, desespera e sufoca.
O poder público existe para construir a saída. Um plano de metas é uma grande saída.
Em 2008, São Paulo tornou-se a primeira cidade brasileira a aprovar emenda à Lei Orgânica do Município ao exigir a apresentação de um programa de metas qualitativas e quantitativas para cada setor da administração municipal. No entanto, o pioneirismo notável arrisca ser obra para 'inglês ver'.
Meta não é simples manifestação de um desejo. Conceitualmente, meta é um objetivo com valor e prazo. Não basta querer aumentar o número de habitações, desejo vago. Tem que haver um valor: aumentar em 15%, por exemplo. E precisa, obrigatoriamente, de um prazo: em quatro anos, por hipótese. O conjunto forma um plano de metas.
O plano não pode ser um elenco indiscriminado de desejos. Uma lista de casamento que junta cinzeiro, geladeira e tapete de banheiro. O plano de metas é o produto concreto que transmite os pilares básicos em que a cidade vai se erguer. Como ela quer ser vista e sentida por seus habitantes. Nele estará a utopia real a ser atingida; os valores mais importantes que irão retratar a cidade e os costumes mais relevantes que irão distingui-la.
Meta é compromisso; não, uma aposta a ser tentada. A Prefeitura não encara meta como compromisso. Logo, tudo é incerto e não sabido. Várias metas estão fora do prazo. Outras tantas sequer sairão do papel.
Contudo, isso não é o pior. A luta para realizar metas faz parte da boa batalha do poder público. É uma corrida de obstáculos a ser enfrentada. Grave é quando não há um projeto de cidade: o que queremos ser; onde desejamos viver.
São Paulo não precisa mais do que 30 metas. Que sejam estruturais, ousadas e profundas. Que levem à transformação do que rejeitamos na cidade. Das coisas físicas à qualidade no trato humano diário.
Trocar um quarteirão verde com escola dentro de um parque, no Itaim Bibi, por montes de prédios, é a negação da cidade sonhada. Preferir um túnel que irá custar cerca de 4 bilhões, na Roberto Marinho, a corredores de ônibus, é optar pelo transporte individual.
São Paulo não sabe para onde vai porque possui 223 caminhos sem direção definida. Falta-lhe diretriz.
Parou na contramão.

José Luiz Portella

Nenhum comentário:

Postar um comentário