sexta-feira, 15 de julho de 2011

EUA, Europa e até China - hora de as cigarras se desendividarem

Foram muitos anos de farra de crédito. Agora, nos dois lados do Atlântico, vive-se uma ressaca.
Nos Estados Unidos, a crise nasceu do super-endividamento dos consumidores americanos durante os anos da bolha imobiliária. Já a crise europeia teve origem no superendividamento dos países periféricos durante a euforia do início do euro nações como a Grécia se aproveitaram dos juros baixos "alemães" para sair tomando empréstimos a torto e a direito.
Para completar o pânico, vem à tona agora o excesso de dívidas dos governos locais da China, que podem chegar a 30% do PIB do país. A agência de classificação de risco Moody's advertiu recentemente que os bancos chineses estão recheados de dívidas de difícil recebimento, subestimadas nas contas oficiais. Esse surto de empréstimos seguia as orientações oficiais para acelerar projetos de infraestrutura após a crise de 2008, e não deixar que o país caísse em recessão.

Uma história familiar.

Um medo percorreu a espinha de muitos analistas será que estamos de novo diante de uma surpresinha desagradável que pode desencadear mais uma crise de proporções catastróficas?

Nos EUA uma política de juros baixos e de incentivo à compra da casa própria estimulou consumidores a assumirem hipotecas que não podiam pagar e bancos a se endividarem (alavancarem) para engordar seus lucros.
Os bancos, alegremente, concediam empréstimos até a quem não tinha emprego, renda ou bens. E securitizavam esses papeis, que formavam os infames CDOs.
Com a onda de desregulamentação dos anos 90, os bancos e outras instituições financeiras deitaram e rolaram na falta de regras.
Financiadoras vendiam hipotecas de alto risco para consumidores que obviamente não poderiam pagar. Mas eles não se importavam, porque, por sua vez, vendiam esses financiamentos para os bancos, que empacotavam na forma de papéis lastreados em hipotecas, e passavam para frente. Isso, claro, depois de as agências de risco darem classificação AAA a muitos desses papéis, apesar de eles terem alta probabilidade de calote. Os bancos, aí, vendiam a investidores esses papéis que tinham como garantia uma hipoteca com pouquíssimas chances de ser paga e que, eventualmente, acabava em calote.
No momento, os EUA passam por um processo de deslavancagem, ou desendividamento. Os consumidores estão aos poucos pagando suas dívidas, e, principalmente, pararam de contrair novos empréstimos. Isso, acrescido ao fato de o mercado de trabalho estar lerdo, deixa os consumidores pouquíssimo dispostos a consumir.
O governo federal entrou aí, na tentativa de substituir essa demanda perdida. Desde que o presidente Barack Obama assumiu, o governo injetou US$ 1,2 trilhão em estímulo fiscal e o Fed, em duas rodadas de "afrouxamento quantitativo", injetou US$ 2,3 trilhões na economia comprando títulos do governo e papeis lastreados em hipotecas.
Agora, os EUA se veem às voltas com a conta. O governo deve estourar o teto de endividamento de US$ 14,3 trilhões no início de agosto. Em Washington, uma queda de braço entre Republicanos "mais impostos nem pensar" e democratas "não corte gastos sociais" levou a um impasse e a um alerta da agência Moody's. Se não chegarem a um acordo, os EUA terão de deixar de honrar alguns de seus compromissos, pelo menos temporariamente.
Na Europa, também houve um descontrole de crédito.
Mas há nuances. Na Irlanda, por exemplo, o problema estava numa enorme bolha imobiliária, que estourou, e quebrou vários bancos na esteira. Na missão de resgatar os bancos, o governo quadruplicou sua dívida.
A Itália, agora no olho do furacão, tem uma dívida pública muito alta 120% do PIB. Mas manteve superavit primário todos esses anos, ainda que decrescente.
Nos dois casos, a China tem salvo a lavoura.
Nos EUA, há muitos anos o país é o maior comprador de títulos da dívida. Na Europa, tem aparecido como comprador de títulos de ultima instância para países virtualmente quebrados, como Portugal e Grécia.
Se a desaceleração da economia chinesa for desordenada e a crise do endividamento municipal se mostrar uma horrível surpresa, lá se vai o cavalo branco.

Patrícia Campos mello

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