sábado, 9 de julho de 2011

A força-tarefa Brasil-EUA ainda longe de um consenso

A Força-Tarefa Brasil do Council on Foreign Relations (CFR) vai divulgar no dia 12 de julho um relatório sobre "As relações globais entre Brasil e Estados Unidos". O relatório, de 107 páginas, é feito por figurões como James Wolfensohn (ex-presidente do Banco Mundial; Julia Sweig, diretora da Iniciativa Brasil no CFR, Nicholar Burns, professor de Harvard que foi subsecretário de Estado dos EUA; David Rothkopf, influente Democrata que escreve na Foreign Policy e integrou o governo Clinton, e Donna Hrinak, que foi embaixadora dos EUA em Brasília, entre outros).
A força-tarefa recomenda que o presidente Barack Obama apoie formalmente o Brasil para um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, independentemente de possíveis rusgas diplomáticas com outros aliados dos EUA no hemisfério, como México e Canadá, que também ambicionam o posto. Das potências da velha guarda, Reino Unido, França e Rússia já endossaram a candidatura brasileira.
Mas o relatório afirma que, com essa maior proeminência do Brasil na ONU, devem vir mais obrigações. "O Brasil está em 14º lugar entre as contribuições de tropas para a ONU, atrás de vizinhos bem menores como o Uruguai e perdendo para Nigéria e Índia. O país contribui com menos de 1% do orçamento da ONU, e menos de 0,2% dos recursos das missões de paz". Ou seja, quer ser importante, prepare-se para por a mão no bolso.
Em sua visita a Brasília em março, Obama não deu apoio aberto à pretensão brasileira. Na Índia, em 2010, ele foi inequívoco, pedindo que o país passe a fazer parte de um conselho permanente expandido.
"Um apoio formal dos EUA ao Brasil seria um grande passo para dissipar as suspeitas no Brasil de que o comprometimento americano com a relação bilateral é apenas retórico", diz o relatório.
Mas essa mesma força-tarefa critica as ambições do Brasil de ler mais high-profile no Oriente Médio, dizendo que o país deveria restringir sua atuação diplomática na região, "porque o envolvimento do Brasil no Oriente Médio dilui as credenciais do país para negociar outras questões internacionais em que sua participação seria mais lógica e mais necessária." Ouch.
Para além das platitudes habituais sobre a necessidade de fortalecer a relação, sem no entanto desejar que o Brasil vá ser um "parceiro especial" dos EUA, corroborando suas decisões nos foros internacionais, há uma seção bastante interessante a das visões discordantes.
Por exemplo, parte dos "discordantes" defende uma abordagem "mais gradual" no apoio dos EUA ao Brasil na CS. "Vendo de forma realista, só há espaço para um membro permanente da ONU vindo da América Latina na Ásia, em contrapartida, pode haver doi e isso representa uma escala de prioridades difícil para os EUA". Eles defendem que, antes de dar o a apoio, "os EUA mergulhem em um intenso trabalho diplomático com os aliados que veriam a escolha do Brasil como um bloqueio a suas ambições multilaterais". Ou seja, devagar com o andor, dizem Nelson W. Cunningham, Eli Whitney Debevoise II, Paula J. Dobriansky, e Riordan Roett.
Donna Hrinak, Rothkopf e Sweig discordam da "chamada" que a força-tarefa dá no Brasil, por causa do relacionamento com o Oriente Médio.
Como me disse um dos autores do relatório, "não há um consenso sobre a melhor forma de abordar as relações EUA-Brasil, por isso há tantas visões discordantes. O establishment americano ainda entende muito pouco sobre o Brasil e eles tentaram resumir uma relação que é global em escopo a uns poucos pontos principais. Eles estão olhando para o Brasil de forma antiquada, achando que se pode lidar com o país dentro do panorama de América Latina".

Patricia Campos Mello

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