sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Fina estampa

Estamos elegendo, cada vez mais, comunicadores e menos gestores. Com honrosas exceções que sempre acontecem. Além da 'marquetagem' que tomou conta das campanhas, além da devida dimensão, que seria natural, o processo de julgamento dos candidatos estreitou-se.
Debates são engessados, chatos e repetitivos. O mediador repete inúmeras vezes as regras de cada bloco e os nomes de cada candidato, numa perda de tempo infinita. Aliás, as normas legais que regem os debates foram feitas por marqueteiros. Os parlamentares seguem o roteiro que os publicitários escrevem, abrindo mão de pensarem de modo mais amplo. Os marqueteiros é humano "puxam a brasa" para a sardinha deles e tornam o debate na TV fator inócuo. Assim, ganham mais valor para cobrarem mais caro os programas que fazem. A preço de ouro.
A campanha na TV, dia sim, dia não, para os cargos executivos, padronizou-se. Todo o mundo segue o mesmo roteiro. Fórmulas novas não são tentadas. É como diria empresário de ônibus: "Se estou ganhando muito dinheiro do jeito que está, por que mudar o sistema?"
Programas de governo são quase cola um do outro. Não distinguem ninguém. Os políticos sabem que as equipes de programa de governo são mais para arregimentar gente importante do que para produzir algo que de fato será usado no eventual governo que farão.
Em nome de pretenso cuidado com exageros, a legislação eleitoral restringe o período de campanhas e cria regras absurdas que enxergam infração em qualquer manifestação política. Quase tudo é proibido.
Dessa forma, sobra pouco espaço para se conhecer, de fato, o candidato. O que aparece é a persona montada pelo marqueteiro e pelas pesquisas: o candidato-padrão que vende mais a empatia e a simpatia pessoal do que as qualidades e limitações para governar.
O gestor é elidido. Some atrás de uma cortina de lugares-comuns e boas intenções.
Sem entrar no mérito da discussão, nos Estados Unidos, muitos eleitores de Obama reclamam disso. Obama foi excepcional comunicador e seria um gestor mediano, muito aquém da imagem sugerida. Um gerente vacilante que não atacou a crise econômica como e quando devia, preferindo lutar por um sistema de saúde que nem os beneficiários dão o merecido valor. Teria errado na opção e fugido do confronto mais sério. Segundo esses eleitores, se tivesse domesticado melhor o dragão do desemprego, Obama teria agora condições de reeleição garantida e estaria liberado para os avanços sociais.
Lá, também, o processo não conseguiu avaliar o gestor. A simpatia de Obama e a antipatia por Bush, no fim do segundo mandato, decidiram a eleição.
Como fazer? Não é fácil, mas, certamente, precisamos mudar esse modelo engessado para debates, campanhas curtas e cheias de restrições; fobia de eleições primárias nos partidos e financiamento de campanha que liga, em primeiro lugar, o candidato à fonte de financiamento e deixa o eleitor em segundo plano.
Boa aparência não assegura o gestor desejado. Principalmente quando estamos próximos de eleições municipais. Prefeitos, sobretudo e mais que qualquer outro chefe de executivo, têm que saber gerenciar.
É hora de exigirmos um sistema mais eficaz e de criarmos, por conta própria e dentro de nossas possibilidades, mecanismos para desvendarem a capacidade de gestão e a fidelidade de compromissos assumidos pelos candidatos.
Fina estampa e "discurso politicamente correto" não garantem nada.

José Luiz Portella

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