terça-feira, 9 de agosto de 2011

Cautela e sacrifícios

A palavra de ordem dentro do governo, por enquanto, é de cautela na economia. Afinal, como disse ontem a presidente Dilma, o momento não é para brincadeira. Nada de excessos. Mas se a crise continuar se agravando no ritmo atual, pode apostar, vai começar a campanha dentro do governo pela queda na taxa de juros.
Afinal, o Palácio do Planalto já não considera mais a inflação, no momento atual, o principal problema brasileiro. Pelo contrário, o agravamento da crise é classificado de "benéfico" para o combate à inflação, já que vai desacelerar a economia mundial e, por tabela, a brasileira.
Tanto que a equipe de Dilma já dá como encerrado o ciclo de alta da taxa básica de juros promovido pelo Banco Central para segurar as pressões inflacionárias. O agravamento da crise já vai providenciar a dose extra necessária para domar a inflação e fazer os índices de preços convergirem para a meta de 4,5% em 2012.
Agora, se a crise só piorar, e derrubar ainda mais a economia, tanto lá fora como aqui dentro, a tendência é que o BC comece a ser pressionado para iniciar, antes do previsto, um processo de redução dos juros.
Este não é, porém, o cenário desenhado dentro do Banco Central. A autoridade monetária não assume publicamente que vá interromper o ciclo de cinco elevações na taxa básica, que fez a Selic passar de 10,75% para 12,5% ao ano. Mas isso é líquido e certo. O que não é nada líquido e certo é que o BC fará alguma redução nos juros antes do próximo ano. No cenário atual, tudo indica que isso não acontecerá. Fica para 2012 algum corte na Selic.
Ou seja, o BC prefere a cautela, palavra repetida inúmeras vezes ontem nas reuniões da equipe econômica. Cautela que deve levar o governo Dilma, pelo menos nesse primeiro momento, a não repetir as mesmas medidas adotadas pelo governo Lula durante a crise de 2008 para evitar um tombo na economia, quando o Tesouro abriu o caixa para estimular a atividade econômica.
Primeiro, porque, até aqui, nada indica que o crescimento vá recuar tanto quanto em 2009. Segundo, porque não há lá muita folga no Orçamento para abrir o saco de bondades e sair distribuindo incentivos para a economia. Além das desonerações já concedidas na política industrial, o Orçamento do próximo ano vai estar pressionado pelo reajuste real de 7,5% a ser concedido para o salário mínimo.
Enfim, o momento é, mesmo, de cautela. Dilma não quer perder o controle da economia no seu primeiro ano de governo. Sabe que, se for preciso fazer algum sacrifício, que seja agora. Exatamente para não ter de sacrificar o ritmo do crescimento econômico nos anos seguintes.

Valdo Cruz

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