sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Verdades e amizades

Então o ano acaba, acaba a década, e a revista "Time" elege Marck Zuckerberg, o fundador do Facebook, o homem do ano de 2010, batendo Julian Assange, o fundador do Wikileaks. Foi uma boa disputa.
Heróis do nosso tempo, entendê-los ajuda a entender o que vivemos e o que viveremos, pois seus feitos parecem apenas o começo, um vislumbre.
Existem revoluções incrementais e existem rupturas. É fácil perceber que a web, cada vez mais veloz, capaz e abrangente, será cada vez mais disruptiva.
Nem Zuckerberg nem Assange têm escritório. Eles não respeitam hierarquias e regras, foram hackers e militam por um mundo mais aberto e conectado. Aberto e intrusivo demais para alguns, mas é a vontade da maioria.
Segundo a contabilidade da "Time", já defasada em mais de uma semana, o Facebook tem 550 milhões de participantes, ou uma em cada 12 pessoas do planeta, que gastam 700 bilhões de minutos no site por mês. E ganha por dia 700 mil novos membros, ou uma Santo André.
Zuckerberg foi quem, até aqui, descobriu a melhor forma de conectar as pessoas nesta era da conexão total, permanente e crescente. Queremos, isso tudo indica, compartilhar com nossos amigos nossos hábitos, nossos gostos, nossa rotina, nossas opiniões. O tempo todo.
Os usuários do Facebook já colocaram 15 bilhões de fotos no site, elas estão chegando em levas de 100 milhões por dia. Sim, 100 milhões por dia.
Quem sabe onde isso vai dar? Sabemos apenas que é apenas o começo da transformação. Das transformações.
Assange é outra face desse caleidoscópio cibernético mutante em que vivemos. Montou uma rede de vazamentos de documentos que inundou o mundo de informações confidenciais com rapidez e abrangência que nem os EUA nem as grandes corporações conseguem tapar.
A conexão total de todos com todos o tempo todo está liberando forças incontroláveis. E é excelente que sejam forças privadas, não-estatais. Não será a China que substituirá os EUA como hiperpotência global. Será a web. Seus usuários. Nós!
O sucesso de Zuckerberg e de Assange, do Facebook e do Wikileaks aponta para esse mundo de transparências pessoais e institucionais, um mundo de poucos segredos, de conhecimento radical e subversivo.
"Na disputa entre o segredo e a verdade, parece inevitável que a verdade sempre vencerá", dizia em 1958 o também visionário Rupert Murdoch, então dono de um jornal em Adelaide, na sua Austrália natal.
Seu conterrâneo Julian Assange usou essa frase para abrir uma carta que escreveu ao jornal "The Australian" defendendo suas ações. "Minha ideia é usar as tecnologias da internet de novas maneiras para reportar a verdade", escreveu Assange na carta.
E nisso Zuckerberg e Assange estão alinhados. Assange revelou ao mundo o mundo dos relatórios secretos dos diplomatas americanos nos quatro cantos do mundo, nos seus detalhes mais monótonos e picantes. A rede social de Zuckerberg faz o mesmo, mas expondo a vida íntima de sues usuários, mais monótona do que picante, uma exposição voluntária e muitas vezes compulsiva.
"Estamos tentando mapear o que existe no mundo", disse Zuckerberg candidamente à "Time". "Acho que, como humanos, basicamente analisamos o mundo através das pessoas e das relações que temos. Então, no fundo, o que estamos tentando fazer é mapear todas essas relações de confiança, o que se pode chamar, na maioria das vezes, de amizades."
Verdade e amizade. O Wikileaks e o Facebook nos mostraram como as novas tecnologias podem promover essas grandes virtudes. É um promissor final de década, e o século da informação mal começou.

Sérgio Malbergier

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