terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sangue e porrada

Nas últimas semanas, gregos, irlandeses, italianos e ingleses arregaçaram as mangas e foram "para o pau" contra seus governantes. São ainda os reflexos da crise de 2008/2009.
Os países europeus vêm anunciando novas rodadas de cortes em seus orçamentos, aumentos de impostos e taxações de todos os tipos para diminuir o rombo nas contas públicas.
Foi entrando no vermelho (assim como nos EUA) que esses países conseguiram evitar (ou adiar) o colapso do sistema bancário há dois anos. Quem vai pagar por isso são os contribuintes.
Com o desemprego já elevado, a renda estagnada ou em queda, restou à população reclamar do novo arrocho, em muitos casos violentamente.
Nesta que deve ser a última coluna de 2010, um resumo "quadro a quadro" mostrando em que pé o mundo está. Clique nos números e, abaixo, leia as explicações correspondentes:
1 - Apesar de cortes orçamentários e aumentos de receita, a trajetória do endividamento de várias economias europeias continuará ascendente pelo menos até 2012. Isso pode ir além por conta de uma combinação venenosa: a necessidade de se reduzir gastos, que leva a um crescimento menor, e uma nova deterioração nas contas dos bancos.
Em particular dos bancos que têm em demasia nas suas carteiras títulos lastreados em dívidas públicas ou em créditos imobiliários.
2 e 3 - O mercado já tem certeza de que a crise será duradoura. Por isso, pede juros cada vez maiores para rolar as dívidas dos países europeus mais endividados. Nos últimos dois meses, o custo médio da "rolagem" dos débitos de Irlanda, Grécia, Portugal e Espanha ultrapassou o dos países emergentes, tradicionais caloteiros do passado.
Em relação aos europeus, essa mesma palavra, calote, já aparece "preto no branco" em relatórios da banca.
4 - Um pepino adicional de enormes proporções está a caminho, especialmente nos EUA. O estouro da chamada "bolha imobiliária" foi o estopim da crise global em 2008. Mas os calotes que se seguiram ficaram restritos ao segmento de imóveis residenciais.
O quadro mostra que uma onda de vencimentos de dívidas vem aí, desta vez concentrada no segmento de imóveis corporativos. Com o mundo ainda de joelhos, milhares de imóveis comprados financiados por empresas estão ficando inadimplentes, exigindo que os bancos os refinanciem por mais tempo.
É mais água no moinho do endividamento, que está na base desta crise global onde empresas, famílias, bancos e agora governos devem como nunca.
5 - O desemprego segue elevadíssimo nos países avançados e baixo entre os emergentes (à esq.). A produção industrial (à dir.) voltou a fraquejar neste final de ano, o que prenuncia talvez um 2011 mais morno entre os emergentes, com fortes reflexos nos combalidos países avançados.
Se os emergentes esfriarem, as economias mais ricas (já deprimidas internamente) terão menos mercados para exportar. Isso só alimenta a combinação venenosa descrita acima.
6 e 7 - Para completar, a inflação está de volta no mundo todo, em especial no Brasil.
Isso exigirá apertos nos gastos e, eventualmente, aumento de juros para segurar a atividade econômica e os preços. Sobretudo entre os emergentes, que hoje importam grandes quantidades de produtos que as economias ricas não conseguem vender internamente.
No Brasil, por exemplo, as importações avançaram 41% no trimestre julho-setembro sobre igual período de 2009.
Mas, não custa tentar: ótimo Natal e 2011 para todos!

Fernando Canzian

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