terça-feira, 28 de dezembro de 2010

América Latina prefere os velhos diabos

A temporada eleitoral 2011 na América Latina promete uma onda de continuísmo/conservadorismo.
Ou, se você prefere uma versão popularesca, o eleitorado parece inclinar-se pelos velhos diabos em vez de sentir-se tentado por eventuais novos anjos. Claro que diabos e anjos, no caso, são figuras de linguagem, não julgamento de valor.
Por ordem cronológica:
Peru (abril) - O favorito, por enquanto, é um ex-presidente, Alejandro Toledo, que saiu muito desgastado da Presidência em 2006. Tão desgastado que acabou cedendo o lugar a Alan García, que passara anos nos ostracismo devido ao desastre que fora sua primeira gestão (1985/90).
Outra candidata forte não é ex-presidente, mas filha de um deles, Alberto Fujimori, que, "out-sider" na política, só se elegeu na esteira do fracasso de Alan García. Chama-se Keiko Fujimori.
Única potencial novidade é Luis Castañeda, prefeito de Lima até outubro, quando renunciou para candidatar-se a presidente. Mesmo assim, é novidade muito relativa, pois já disputou o cargo no ano 2000.
Fecha a lista dos nomes principais o populista ou quase fascista Ollanta Humala, que também foi candidato em 2006.
Guatemala (setembro) - Aqui, a candidata favorita não é ex-presidente, mas a mulher do atual, Álvaro Colom. Chama-se Sandra Torres de Colom, que promete definir-se no mês que vem. Se se candidatar --e ganhar-- dar-se-ia o que o "site" Infolatam chama de sucessão à lá Kirchner --alusão ao fato de que, na Argentina, Néstor Kirchner foi sucedido pela mulher, Cristina.
O principal rival, até agora, tem igualmente sabor a velho: é Otto Pérez Molina, que perdeu o pleito anterior para o marido de Sandra.
Há mais potenciais candidatos, mas, até a definição de Sandra de Colom, pouco vale especular sobre suas possibilidades.
Argentina (outubro) - Tudo leva a crer que a presidente Cristina Fernández de Kirchner será candidata à reeleição, agora que morreu seu marido e antecessor, Néstor Kirchner.
Outro ex-presidente, Eduardo Duhalde, antecessor de Néstor, já se lançou candidato pela dissidência peronista. O vice-presidente Julio Cobos, rival dos Kirchner, pode tentar tirar o "vice" de seu posto. O filho do ex-presidente Raúl Alfonsín, Ricardo, também aparece na lista dos presumíveis candidatos.
Nicarágua (novembro) - É o país de continuísmo potencialmente mais forte: o candidato favorito até agora é o atual presidente, Daniel Ortega, cuja primeira presidência já pertence à pré-história. Ortega governou a partir de 1985, na esteira da revolução sandinista.
Depois, aliou-se ao que há de pior na política centro-americana, usou manobras escusas para ter o direito de tentar a reeleição e se beneficia do fato de a oposição de verdade estar muito fragmentada. Seu candidato tende a ser o empresário do setor radiofônico Fabio Gadea.
O outro candidato é Arnoldo Alemán, da extrema-direita, com quem Ortega se aliou e depois rompeu. Alemán também é ex-presidente (governou de 1997 a 2002, depois de derrotar Ortega) e foi condenado, um ano depois de deixar o governo, a 20 anos de prisão acusado de corrupção.
Como se vê, a expressão "velhos diabos" nem sempre é figura de linguagem.

Clóvis Rossi

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