quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Lulamania, o teste

De cerimônia oficial em cerimônia oficial, Lula vai celebrando sem muita cerimônia o final de sua era com os costumeiros autoelogios e um inusitado e volumoso balanço de seu governo registrado em cartório, cuja íntegra está disponível no site da Secom (secom.gov.br)
Se o nosso presidente não fosse o democrata que é, suspeitaria de um culto à personalidade extemporâneo. Prefiro crer, porém, que seja o justo registro de um espantoso êxito.
Os preconceituosos que me perdoem, mas Lula foi o maior presidente do Brasil até aqui.
E justamente pelo motivo que o diferencia de todos os seus antecessores: sua origem. Lula foi o nosso primeiro presidente oriundo da base da base da pirâmide social. Ele trouxe um senso de urgência e uma visão do país que nossos outros presidentes não trouxeram: a do Brasil miserável, cujos problemas são urgentes há séculos e cujas soluções são a chave para o progresso.
Esse input mostrou-se fundamental para destravar o país.
Mesmo com um discurso muitas vezes acusatório em relação às elites, Lula entendeu finalmente que não a luta, mas a união de classes seria a chave do desenvolvimento brasileiro.
Como Vargas, pai dos pobres, mãe dos ricos, Lula colocou os dois extremos do país no mesmo eixo de desenvolvimento.
Seu abraço ao capitalismo anulou a bestialidade da esquerda, fechou o consenso em torno da estabilidade político-econômica e liberou o nosso potencial. Sua sensibilidade biográfica o levou a valorizar o salário mínimo, as transferências de renda e o controle da inflação. Mais de 30 milhões de brasileiros emergiram da pobreza ao consumo, fortalecendo nosso mercado interno e dinamizando toda a economia.
Oito anos depois do pânico que a eleição de Lula causou no mercado (e como o mercado estava errado), o Brasil vive o melhor momento de sua história. Nossos defeitos, tão colossais quanto óbvios, são o mapa para o avanço. Os 16 anos de Fernando Henrique Cardoso e Lula deram ao país rumo claro e confiança para enfrentá-los.
A Lulamania terá seu grande teste a partir de 1º de janeiro, quando sua ungida, Dilma Rousseff, assume a Presidência.
Ouso dizer que vamos sentir saudades do presidente, mesmo aqueles que amam odiá-lo. Mas não creio que Lula vá muito longe. Pelo que fala e faz nesses últimos dias de governo, ele não deve se recolher à sua biblioteca.

Sérgio Malbergier

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