sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Só faltava o terror ao drama italiano

Desta vez, não dá para acusar Silvio Berlusconi pelo mais recente drama italiano, os dois atentados de ontem contra as embaixadas do Chile e da Suíça. De todo modo, é um problema a mais a somar-se às intermináveis dores-de-cabeça do premiê e, por extensão, da Itália.
É pesado acrescentar terrorismo a uma lista que vai de escândalos em cascata à perda da maioria na Câmara, passando pela revolta estudantil e chegando à entrada da Itália na lista de países que podem ser as próximas vítimas dos ataques especulativos dos mercados.
Pior: não estava claro a que terrorismo culpar pelos atentados. O ministro do Interior, Roberto Maroni, preferia a chamada "pista grega", alusão aos pacotes-bomba enviados no mês passado à missões diplomáticas em Atenas, ao que tudo indica por grupos anarquistas. Um dos pacotes, aliás, atingiu a embaixada da mesma Suíça ontem atacada.
"A Grécia, a Espanha, a Itália, vigiam a presença de grupos anarco-insurrecionais estreitamente vinculados entre si", diz o ministro.
Por que a Suíça, com sua longa tradição de neutralidade seria alvo? Porque grupos anarquistas tidos como "eco-terroristas" pedem a libertação de seus camaradas presos em cárceres suíças, casos por exemplo de Marco Camenisch, militante antinuclear, preso na Itália nos anos 90 e extraditado para a Suíça, e de "Costa, Silvia e Billy", cujos nomes constavam de mensagem deixada junto a uma bomba que não explodiu encontrada na cerca da embaixada de Roma da Suíça, em outubro.
Há, portanto, consistência na "pista anarquista", ainda que ela não explique porque o Chile foi o segundo alvo.
Como, de todo modo, ninguém havia reivindicado os atentados até o anoitecer, o que não é procedimento padrão do terrorismo anarquista, suspeita-se igualmente da indefectível "pista islâmica".
Afinal, a neutra Suíça entrou na lista de alvos do fundamentalismo islâmico depois do referendo de novembro de 2009 no qual foi aprovado o veto à construções de novos minaretes, decisão interpretada como parte da crescente "islamofobia" que varre a Europa - e da qual, de resto, a Itália não está isenta com a atual coalizão de governo, de forte inclinação xenófoba.

Clóvis Rossi

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