terça-feira, 8 de novembro de 2011

Tema velho, alvo novo

Vamos lá, mais uma vez, as ONGs voltam a infernizar a vida de um ministro. Tem sido assim desde o início do governo Dilma. O tema é velho, o alvo é novo, desta feita o ministro Carlos Lupi (Trabalho), do PDT.
Com certeza você já leu e ouviu por aí que há, sim, ONGs sérias no país fazendo convênios com o governo. Realmente elas existem. A maioria, senão a totalidade, é de entidades badaladas, conhecidas do grande público, com padrinhos fortes no meio empresarial, artístico ou esportivo.
Fora desse grupo, com mais certeza ainda, o terreno é fértil para falcatruas. Só conseguem fechar convênios para ter acesso a dinheiro público ONGs indicadas por grupos políticos, aquelas que aceitam se transformar em plataforma eleitoral de deputados, senadores e prefeitos país afora.
A grana é liberada, mas a entidade tem de fazer campanha política para seu padrinho, responsável pela obtenção dos recursos. Franquear o acesso a seus trabalhos daqueles que "batalharam" pelo dinheiro público. Fora os casos, não diria que são a maioria, dos que conseguem o dinheiro, mas cobram um pedágio, comissão mesmo, do total liberado. Grana que muitas das vezes é direcionada para financiamento de campanha. Outras para enriquecimento ilícito.
Falo deste tema já velho, mas que está fazendo um processo de purificação em Brasília, para falar de experiências de amigos que montaram ONGs destinadas a trabalhos sociais. Conheço vários, à frente de entidades sérias. Nenhuma delas, nenhuma, tem acesso a dinheiro público. Vivem de contribuições dos associados e de amigos, com a ajuda de um ou outro empresário de pequeno ou médio porte.
Não trabalham com dinheiro público por dois motivos. Primeiro, simplesmente não são procuradas pelos donos dos esquemas de liberação de verbas por meio de convênios. Segundo, quando elas tentam acessar esses canais, desistem diante das abordagens nada republicanas. Gente querendo transformar trabalhos sérios em palanques políticos ou tentando desviar recursos.
Sinceramente, será que não há uma forma de o Poder Público estabelecer alguma regra totalmente transparente para que todas entidades, todas, tenham condições de obter esses recursos, sem intermediários? Afinal são eles a origem de todos os escândalos.
O governo Dilma está diante de uma excelente oportunidade para mudar essa realidade vergonhosa. Deveria aproveitar a medida correta adotada pela presidente, que mandou suspender temporariamente todo tipo de convênio com ONGs no governo federal, até que seja feito um verdadeiro pente fino em todos os contratos. Pode ser o primeiro passo para dar transparência total nesta área, acabando com as boquinhas destinadas a promover feudos políticos.
Voltando ao caso de Carlos Lupi, como nos demais episódios, o governo avalia que, por enquanto, não há nada que possa comprometer o ministro. O Palácio do Planalto acredita, inclusive, que hoje o principal inimigo de Lupi está dentro do seu próprio partido, grupos que querem aproveitar o bombardeio contra o ministro para tirá-lo do cargo.
Talvez realmente não encontrem nada contra o ministro. A conferir. Mas apenas o fato de descobrirem contratos irregulares com ONGs em seu ministério, sinceramente, já deve ser motivo para seu afastamento. Afinal, como nos casos anteriores, seria uma prova de conivência ou total omissão com o "malfeito", como costuma dizer a presidente Dilma.
Enfim, o tema é velho, o alvo é novo, basta saber se o destino será o mesmo dos anteriores. Se for, a fila vai andar até Dilma promover sua reforma ministerial. Que talvez perca até sua importância diante de tantas trocas fora dos planos originais.

Valdo Cruz

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