domingo, 27 de novembro de 2011

Quem faz a cabeça do mundo

Os Estados Unidos já não são a potência imbatível de antes, há até quem diga que sua economia em breve será ultrapassada pela da China (é uma bobagem, eu sei, mas diverte o público), seu sistema político tornou-se claramente disfuncional, não são mais capazes de resolver problemas com seus "marines" ou com seu poder econômico. OK, tudo isso é verdade, mas há um território no qual os Estados Unidos continuam insuperáveis: suas universidades são as que fazem a cabeça do mundo.
Demonstração clara desse fato, para ficar apenas em acontecimentos recentes: três dos "newsmakers" que foram ou ainda são notícia na atualidade têm em comum o fato de terem sido formados em universidades norte-americanas. Um é Abdurrahim el-Keib, novo primeiro-ministro da Líbia pós-Gaddafi; outro é o primeiro-ministro grego Lucas Papademos; e o terceiro, o novo presidente do Conselho italiano de Ministros, Mario Monti.
Cobrem áreas do mundo diferentes (o norte da África e o sul da Europa), além de terem background também diferente.
El-Keib, por exemplo, é mestre em engenharia elétrica pela Universidade da Carolina do Sul e doutor na mesma área pela Universidade da Carolina do Norte, na qual defendeu uma tese que pouco ou nada tem a ver com o posto que agora ocupa: "planejamento de compensação de capacitadores e operação para alimentadores de distribuição primária" (se dependesse disso, eu jamais poderia ser primeiro-ministro de coisa alguma, nem da minha rua).
O grego Papademos é, digamos, parente intelectual do líbio: depois do grau de mestre em engenharia elétrica, obteve o doutorado em economia no mitológico MIT (Massachusetts Institute of Technology). Além disso, ensinou em duas das mais lustrosas grifes da academia norte-americana (Columbia e Harvard). Aliás, seu antecessor, George Papandreou, também foi educado nos Estados Unidos (Amherst).
Por fim, Mario Monti estudou em Yale, outro templo badaladíssimo.
A revista "Foreign Policy" aproveitou a coincidência para fazer um apanhado de líderes mundiais que estudaram nos Estados Unidos.
Tiveram que selecionar 10 deles, porque a lista deve ser imensa. Mesmo uma seleção tão restrita mostra diversidade: vai de Rafael Correa, presidente do Equador, a Ellen Johnson Sirleaf, presidente da Libéria e Nobel da Paz deste ano.
A esquerda e os amantes da teoria da conspiração dirão que os Estados Unidos usam a qualidade de seu sistema educacional para atrair talentos e promover neles uma lavagem cerebral para que se tornem incondicionais do "american way of life". Eu que sou franco-atirador e inimigo número 1 das teorias conspiratórias não tenho tanta certeza.
Não digo que seja mentira, mas cabe uma hipótese alternativa: o norte-americano confia tanto no seu modelo e tem tanta certeza de que é o melhor jamais inventado que o simples mergulho que nele façam estudantes estrangeiros é suficiente para justificar a abertura de suas academias para o mundo externo.
Se há lavagem cerebral, nem sempre funciona, de que dá prova o presidente Rafael Correa, crítico feroz dos Estados Unidos, apesar de ter obtido o grau de mestre e, depois, Ph.D. em economia na Universidade de Illinois, sede de Urbana-Champaign.
Mas convém lembrar que toda a retórica anti-imperialista de Correa não foi suficiente para que abandonasse a dolarização da economia equatoriana, com o que seu país cede parte da soberania justamente para a moeda do império.
Teorias e hipóteses à parte, o que fica é o fato de que há mais escolas de excelência nos Estados Unidos do que em qualquer outro país. Logo, atraem mais que qualquer outro as elites de todos os países, especialmente daqueles em que não há uma confiança assentada na qualidade de suas próprias universidades.
Em sendo assim, é natural que a narrativa norte-americana da história, da economia, das ciências humanas em geral, prevaleça sobre outras, para o bem ou para o mal, ao gosto de cada qual.

Clóvis Rossi

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