quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

São os seus olhos

"iPhone é uma seita" --diz minha mulher em um misto de despeito e ironia-- "cheia de clubes, códigos e séquitos". Não se pode negar a ela certa razão. Desde seu surgimento, já se suspeitava que o aparelhinho da Apple que foi lançado como um celular e explorado como smartphone pertencia, na verdade, a uma categoria diferente de hardware. A demora dos fabricantes de telefones, câmaras digitais, GPS e, principalmente, consoles portáteis de videogames em perceber isso custou-lhes uma fatia considerável de mercado.
As transformações proporcionadas pelo iPhone foram tamanhas que não causa espanto o fato de que até hoje, quase 4 anos depois de seu lançamento, ele próprio ter mudado muito pouco. Descontados alguns pequenos ajustes estruturais e melhorias em processadores, o aparelho continua praticamente o mesmo. Mesmo assim seus fãs (são poucos os que podem ser classificados simplesmente como "usuários") só aumentam. Até mesmo a câmera, que até o lançamento do iPhone 4 era tão ruim quanto qualquer outra câmara de celular, teve sua glória. Até hoje ela ainda é responsável pela maioria dos mais de cinco bilhões de fotos armazenadas no Flickr.
Mas até há bem pouco tempo, essa câmera não era mais do que uma câmera de bolso. Já estava mais do que na hora de alguém reunir as características de geolocalização (leia-se: FourSquare), redes sociais (Facebook), microblogging (Tumblr) e mensagens curtas (Twitter) em um aplicativo fácil, bonito e divertido de usar. Foi mais ou menos isso que o pessoal do Instagram fez. O resultado não poderia ser mais impressionante: lançado em Outubro, o aplicativo atingiu um milhão de usuários em dois meses e meio. E só vem crescendo.
Se você acompanha o Twitter ou o Facebook, talvez já tenha reparado em links para um tal de http://instagr.am --que, a princípio parece mais um daqueles repositórios de fotos, embora seja muito mais do que isso. O Instagram é um dos novos serviços sociais dificílimos de explicar para quem não está familiarizado com a rede (aquele que antigamente chamaríamos de seu avô, depois seu pai e hoje bem pode ser seu irmão, colega, filho, sobrinho ou neto). Como, afinal, definir um aplicativo de sociogeolocalização fotográfica que coloca efeitos especiais em fotos e as compartilha, integrando-as com o Flickr, o Facebook, o Twitter e o Foursquare?
Sua mecânica não poderia ser mais simples: o "fotógrafo" tira uma foto ou a seleciona entre as que tem armazenadas no telefone; aplica sobre ela, se quiser, alguns efeitos especiais que simulam câmeras e processos de revelação antigos, escreve uma mensagem curta para descrevê-la e a coloca online. As pessoas que o seguem podem marcar que gostaram da foto e colocar comentários curtos sobre ela.
O que ele tem de especial, afinal? Nada. E tudo. O Instagram mostra o olhar particular que se tem de cenas, a princípio, corriqueiras. Se for um exercício frequente, o acervo pode, com o tempo, mostrar um ponto de vista bem particular e autoral. Essa é a riqueza das redes sociais instantâneas, categoria que não existia há cinco anos e que hoje se transforma, cada vez mais, em um acumulado de visões de mundo.
Por enquanto o serviço só está disponível para iPhone. Espero que ele lance logo uma versão para outros aparelhos. A brincadeira sempre fica melhor quando mais gente participa.

Luli Radfahrer

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