terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ataques contra o Brasil

As editoras Penguin e Companhia das Letras colocaram na praça um dos mais vivos e impressionantes relatos sobre parte importante da história brasileira. Trata-se do livro "O Brasil holandês", organizado pelo historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello.
Centenas de correspondências de holandeses que invadiriam o Brasil e de luso-brasileiros usurpados no Nordeste relatam não só os aspectos das invasões e escaramuças nas "praias e matos" de Olinda e Recife.
Há também descrições precisas e inventários pormenorizados da produção açucareira à época, do número de engenhos, das facilidades de transporte das riquezas da terra e dos costumes da gente.
A Zuikerland (terra do açúcar), como se referiam a Pernambuco, foi invadida e ocupada pelos holandeses entre 1630 e 1654.
Antes, os mesmos inimigos tiveram uma experiência fracassada na Bahia. Entraram em 1624 e saíram corridos um ano depois.
As invasões foram levadas a cabo pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, uma espécie de sociedade anônima capitalista que contrastava tremendamente à época com a organização econômica primitiva de outras potências marítimas como Espanha e Portugal.
A maior parte das informações é descrita pelos próprios protagonistas de então, em cartas e documentos organizados por Cabral de Mello.
O que mais impressiona nessa empreitada é não só o diagnóstico feito à época pelos invasores, com cálculos minuciosos de custos e de lucros potenciais, mas a descrição crua e invejosa das riquezas que o Brasil detinha: açúcar, pau brasil, imensas áreas cultiváveis, bom tempo e uma enorme variedade de frutas e peixes que impressionavam os invasores.
"Enfim, esta é uma terra onde não se pode morrer de fome", diz um dos documentos...
Enquanto o organizador nos conduz por aquele período, também nos faz pensar sobre outros "argumentos favoráveis ao ataque contra o Brasil".
380 anos depois, vemos que o Brasil ainda vai mal. E que hoje é alvo de "conquistadores" ainda piores, pois internos. Totalmente imunes a qualquer tipo de punição ou Justiça e sem o menor medo de cadeia.
A maioria deles, de conterrâneos com legitimidade política, eleitos pelo próprio povo que usurpam com aposentadorias, nepotismo e outros desvios escandalosos.
Tudo isso largamente documentado, nos jornais do dia, não em cartas centenárias.
O livro de Cabral de Mello traz a descrição de um oficial holandês de como eram tratados seus próprios conterrâneos se, terminado o período de saques autorizados, fossem apanhados pilhando. No caso, foram quatro soldados que furtaram vinho de uma adega:
"(Um deles, filho de pais respeitáveis e abastados em Leipzig) foi então condenado à morte e, para escarmento de outros demasiadamente amantes do vinho de Espanha, enforcado; e os outros três foram violentamente açoitados sobre um alto poste de pedra."

Fernando Canzian

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