sábado, 24 de dezembro de 2011

Prefira o jogo de búzios


Delfim Netto, um raro professor de Economia capaz de expor cruamente as deficiências da profissão, publicou em sua coluna mais recente na Folha um quadrinho com a mediana das previsões dos economistas, no último dia do ano passado, comparando-as com os resultados quase definitivos colhidos a 16 de dezembro.
Como era previsível, todas as previsões foram erradas, todas (ver o quadro ao lado). No caso, por exemplo, do saldo comercial, o fracasso dos economistas foi ainda mais dramático do que o do Santos diante do Barcelona: previam saldo de US$ 8 bilhões. Deu US$ 29 bilhões ou quase quatro vezes mais.
Imagine se, no seu orçamento doméstico ou da empresa para a qual trabalha, você cometesse erro dessa magnitude. Na primeira hipótese, estaria arruinado. No segundo, demitido por justa causa, portanto sem direito à indenização.
Já com os economistas que fazem essas previsões, nada acontece. Repetem-nas mês a mês, ano a ano, os jornais as publicam, religiosamente, sem ao menos conferir quem errou e quanto errou, para contar ao leitor qual é a credibilidade dos palpiteiros (ou falta dela, na maior parte dos casos).
Outro erro que parece menor mas é colossal se deu no item "crescimento da economia": o palpite no fim do ano passado era de crescimento de 4,50% para 2011. Agora, é de magros 2,92%. Dá, portanto, 1,63 ponto percentual do PIB a menos. Um nadica de nada, certo? Errado, completamente errado.
Esse erro significa que o Brasil ficou uns R$ 50 bilhões menos rico do que os palpiteiros previam há um ano. Repito: US$ 50 bilhões. Se, nas suas contas pessoais, você cometesse um erro que fosse apenas fração (1% por cento, digamos) dessa pilha de dinheiro, estaria na maior ruína.
Moral da história: sempre que ler previsões sobre o desempenho da economia, lembre-se que são tão científicas talvez até menos do que jogar os búzios ou ler o tarô. Feliz Natal.

Clóvis Rossi

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