segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Como conquistar Marte

As crescentes discussões a respeito das mudanças climáticas levam à consideração de que talvez um dia não sobre opção para o Homo Sapiens a não ser o abandono da casa da mamãe Natureza e, na colonização de outros planetas, recomeçar evitando os mesmos erros cometidos até agora.
Por mais romântica que soe a ideia, a conquista de territórios desconhecidos, no fundo do oceano ou em outros planetas, é mais complicada do que pode supor nossa vã tecnologia. Assumindo que todos os recursos para ocupar, por exemplo, Marte, já tivessem sido inventados e fossem acessíveis, por onde começar? Que indústrias seria preciso levar para que a vida no Planeta Vermelho se tornasse minimamente sustentável?
Meu palpite é que o começo deveria ser, ironicamente, por segmentos que são os mais poluentes hoje: energia e mineração. Por mais que adoremos odiá-los e culpá-los por boa parte da poluição e de seqüelas diversas ao meio ambiente, sem indústria de base não há civilização. E qualquer modelo econômico auto-suficiente (ou sustentável) precisa ser independente do fornecimento externo de materiais e combustíveis. Não é preciso futurologia para se perceber que, enquanto a relação entre fornecimento de energia e controle de poluição não for resolvida, qualquer nova conquista somente servirá para adiar o problema.
Vivemos em um mundo cada vez mais integrado. Por mais que a Internet permeie praticamente todos os processos comerciais e industriais, ainda são poucos os que levam em consideração o impacto que sua nova ideia poderá ter nos outros produtos com que se relaciona. Assim boas iniciativas de e-commerce quebram por falta de estoque, novas agências fecham por falta de pessoal e novos projetos são descontinuados por falta de público.
Territórios ainda inexplorados, novos produtos e serviços são hoje como pequenos ecossistemas. À medida que a tecnologia e a logística os torna mais complexos e interdependentes, não se pode mais imaginá-los isolados. Cada novo elemento interfere em todos os outros, sendo igualmente impactado por eles.
Infelizmente ainda são poucas as empresas (e empreendedores) que imaginam seus produtos como partes de uma rede. A maioria ainda os vê como mercadorias que, uma vez entregues, são esquecidas. Pouco importam as reclamações de consumidores ou resenhas negativas, gerentes de bancos continuam a receber ordens para vender planos de capitalização que descapitalizam seus usuários sem gerar grandes benefícios em troca. Em outras indústrias e oligopólios, capitães ainda fazem vista grossa para a evolução dos tempos enquanto vendem os mesmos velhos produtos e filosofias de negócio, esperando o fim dos tempos no camarote de seus Titanics, na certeza que se aposentarão antes dele.
Quem se dispõe a conquistar novos mercados ou mesmo sobreviver em um ambiente cada vez mais competitivo precisa criar uma rede com um mínimo de integração e auto-suficiência, adaptando sua oferta às cadeias de negócios existentes, mesmo que pareçam arcaicas. Não faltam iniciativas que morrem por serem revolucionárias ou modernas demais para sua época.
Por mais bacanas que sejam os computadores Macintosh, boa parte de seus usuários só surgiu depois que o iPhone integrou celulares, mídia e aplicativos, misturando-se sorrateiramente ao modo de vida de seus usuários. Da mesma forma, empresas menores como DropBox, Angry Birds e Evernote começam pequenas, quase irrelevantes, até que, como Twitter e Facebook, se tornam indispensáveis.

Luli Radfahrer

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