quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Dilma e Lula, quanta diferença

O primeiro ano do governo Dilma acaba de forma típica, atropelado pela crise econômica internacional e pela sucessão de crises políticas no seu ministério.
Mais do que iniciativas originais e pré-formuladas, foi sua reação a esses eventos que marcou o primeiro quarto de sua gestão: a tal "faxina" e o tal "novo desenvolvimentismo".
Ambos supostamente representam mudanças marcantes em relação ao governo Lula em dois pontos centrais: corrupção e economia. Digo supostamente porque o governo não se posiciona de forma clara sobre esses, digamos, conceitos. Ao contrário do verborrágico Lula, com Dilma, a ação precede o discurso.
Na política, a "faxina" é uma sucessão de degolas de ministros acusados de malfeitos, uma mudança clara em relação à resistência de Lula diante da enxurrada de denúncias graves contra aliados e colaboradores.
Na economia, Dilma acabou com a ambiguidade (ou o equilíbrio) conservadorismo-estatismo que predominou sob Lula. Sua equipe econômica é homogênea e disciplinada, trabalhando com rédea curta para a presidenta-economista de viés unicampista. A necessidade de reagir à crise global motivou um ativismo econômico revelador das novas diretrizes do governo.
Mas se Dilma representa alguma mudança em relação ao governo de seu mentor e padrinho, ela jamais arranhará os consensos estruturantes do novo Brasil em torno da democracia e do capitalismo.
Por mais que Lula tenha sido um gênio da comunicação e da política, quem elegeu Dilma de fato foi a percepção na maioria dos eleitores de que ela seria a melhor candidata para manter o modelo político-econômico que começou a ser formado no final do governo Itamar Franco com a estabilidade pós-Plano Real, passou pela consolidação da democracia com Fernando Henrique Cardoso e fechou com a adesão de Lula (e as esquerdas que o seguiram) aos preceitos básicos da economia de mercado.
Dilma chegou ao Planalto depois de dois presidentes que representavam o melhor de seus grupos políticos e que por isso foram capazes de levar o Brasil de volta ao caminho da prosperidade.
Ela é uma presidenta acidental, que jamais chegaria à Presidência não fosse o dedaço de Lula (e a fraqueza da oposição).
Está aprendendo a fazer política na cadeira de presidente. O que é um risco, mas também um ativo num cenário político tão viciado, para dizer o mínimo, quanto o nosso.
O fim da era Lula foi o fim do recomeço, da retomada da confiança no Brasil. Ele quis ser o "grande pai" dos brasileiros. Dilma quer ser a gerente. É uma ambição mais adequada num Brasil maior que qualquer governo ou liderança, cujos méritos (e deméritos) devem se antes de tudo dos brasileiros.

Sérgio Malbergier

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