segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O insulto de Gisele Bündchen


LISBOA - Chegou a Portugal mais uma polêmica machista brasileira. Tempos atrás, a personagem principal era Paris Hilton, em hotel do Rio, passando uma cerveja gelada pelo corpo. No calçadão, o pessoal delirava.
Mas o governo brasileiro não delirou e o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) foi chamado de emergência, com tesoura censória.
Agora, foi Gisele Bündchen, o que representa um progresso face a Paris. Assisti à propaganda nos noticiários lusos: Gisele, de calcinha e sutiã, comunicando ao marido que o cartão de crédito - dela e dele - estourou. A mensagem da propaganda é simples e eficaz: se existem más notícias para comunicar, o melhor é fazê-lo em traje apropriado. Como a lingerie Hope, estrelada pela modelo.
A Secretaria de Políticas para as Mulheres voltou a não gostar da brincadeira e voltou a chamar o Conar. A publicidade é sexista, reproduz estereótipos sexistas ao apresentar a mulher como "objeto sexual de seu marido". Tesoura nela? Veremos.
Não vou negar as premissas do governo: é óbvio que a publicidade recorre a estereótipos. Como qualquer publicidade desse mundo: alguém conhece uma propaganda que não utilize, explícita ou implicitamente, um clichê qualquer?
Mais ainda: não pode existir humor, ou tentativas de humor, sem recorrer a estereótipos sexuais, culturais, raciais, econômicos, políticos, psicológicos. Será que Brasília vai criar um conselho nacional para proibir qualquer brasileiro de contar piadas de portugueses?
A atitude do governo, para além de abusiva numa sociedade livre, revela burrice sobre os mecanismos do humor.
Mas revela também um outro tipo de burrice: assistindo à propaganda, qualquer pessoa alfabetizada entende que o verdadeiro insulto não é às mulheres.
O verdadeiro insulto é aos homens. A lingerie Hope, ao apresentar Gisele de calcinha e sutiã para comunicar o estouro do cartão de crédito, está simplesmente a dizer: os homens são tão básicos e imbecis que basta você aparecer em lingerie para eles perdoarem tudo. A batida do carro. O estouro do cartão de crédito. Quem sabe a demolição da casa.
Fosse eu tão fanático como o pessoal da Secretaria de Políticas para as Mulheres e já estaria a contratar um advogado para defender os meus direitos e os direitos de todos os homens! perante mais essa agressão sexista.

João pereira Coutinho

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