domingo, 9 de outubro de 2011

Jobs, a máquina, o homem e o sorriso

Há alguns anos, em Davos, houve uma sessão de seu famoso fórum com o provocativo título "O mundo precisa de heróis?".
Um dos palestrantes foi Bill Gates, o da Microsoft, depois frequentador assíduo dos encontros anuais do Fórum Econômico Mundial.
Confesso que, se o herói em que pensavam os organizadores do debate era Gates, minha resposta seria não. Não me seduziu, em absoluto, o que não significa que eu despreze sua capacidade empresarial e criativa. Mas herói é algo que ultrapassa essas duas dimensões. Exige carisma, algo difícil de definir, mas que a gente consegue perceber ao lidar com alguém que tenha essa característica.
Steve Jobs, rival de Gates, recebeu ao morrer o tratamento de herói, no mundo todo. Basta dizer que a SR7, agência de monitoramento das mídias sociais, estimou em 10 mil por segundo o número de tweets emitidos logo após a sua morte, o dobro do que ocorreu quando Osama bin Laden foi assassinado e infinitamente mais do que o número de tweets que falavam da morte de Michael Jackson (493 por segundo). É verdade que o cantor morreu em 2009 quando os usuários da ferramenta eram bem menos. Mesmo assim, a diferença é simplesmente espetacular.
Como não me apaixono pela tecnologia (apenas a uso), tive certa dificuldade em aceitar que Jobs merecia provocar tal terremoto. Até que li o comentário de um leitor (Daniel Cambia, 31, instrutor de ioga) para a ombudsman da Folha, Suzana Singer. Dizia: "O aspecto mais importante para se abordar agora é o quão chato será para o usuário Apple ficar sem ter uma figura humana que inspirava confiança na compra dos produtos da empresa. Hoje, as pessoas precisam de cuidado, mais do que nunca, e a figura dele transmitia isso".
O curioso é que, antes de ler o comentário de Daniel, fiquei supersticiosamente convencido de que o travamento que meu IPad sofreu enquanto o usava no trem de Bruxelas a Amsterdã tinha algo a ver com a morte de Jobs.
Superstição à parte e travamento vencido graças a uma consulta telefônica com meu filho, "jobsfanático" como poucos, o comentário do leitor serviu para tirar Jobs das máquinas a que deu vida para devolvê-lo à condição de ser humano, única maneira de ser herói. Afinal, segundo ainda Daniel, "todo o mundo compra os produtos e usa os serviços da Apple com um sorriso no rosto". Se é verdade, o mundo precisa, sim, de heróis com essa qualidade.

Clóvis Rossi

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