domingo, 30 de outubro de 2011

"Elders" pela paz

Imagine formar um grupo de anciãos sábios, juntando o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, o ex-presidente americano Jimmy Carter, a ex-presidente da Irlanda e ex-alta comissária de direitos humanos da Onu Mary Robinson, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-secretário geral da ONU Kofi Annan, Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega e ex- diretora geral da Organização Mundial de Saúde, e muitos outros. Esse grupo, chamado "The Elders", tem a missão de discutir os grandes problemas do mundo. Mas eles não ficam só no blá-blá-blá. Apesar de muitos já terem ultrapassado os 80 anos, eles viajam ao redor do globo para mediar conflitos.
Em maio de 2011, Kofi Annan, Desmond Tutu e Mary Robinson foram para a Costa do Marfim conversar com o novo presidente Alassane Ouattara e falar sobre uma comissão de reconciliação e verdade, depois de meses de violência após as eleições.
Em abril de 2011, Jimmy Carter, Mary Robinson, Gro Brundtland e Martti Ahtisaari, ex-presidente da Finlândia, foram à Coreia do Norte discutir a questão nuclear e a crise humanitária 6 milhões de pessoas estão passando fome lá.
Entre os Elders, há nada mais, nada menos que três prêmios Nobel da Paz: Carter, Tutu e Ahtisaari, que ganhou em 2008
O grupo foi formado pelo Nelson Mandela em 2007. E é apoiado pelo Peter Gabriel e pelo Richard Branson, dono da Virgin. Eles financiam o grupo e organizam a arrecadação de fundos.
Nesta semana, os "Elders estiveram no Rio de Janeiro no Santa Teresa Hotel para sua reunião semestral.
Eles se encontraram com a presidente Dilma no Alvorada. E depois tiveram um debate com jovens a maioria de ONGs como AfroReggae e de comunidades carentes no Convento de Santo Antônio
Na terça-feira, fizeram um almoço no hotel para saber um pouco mais sobre o Brasil. E eu tive o enorme privilégio de participar.
Quando cheguei ao hotel e olhei para a mesa, quase morri do coração. Estava lá a plaquinha designando meu lugar --do meu lado direito, o arcebispo Desmond Tutu. Do lado esquerdo, o ex-presidente Jimmy Carter. Na minha frente, Mary Robinson. Ao lado dela, Fernando Henrique.
Fernando Henrique abriu o almoço, falando sobre "O Brasil no mundo, de ditadura militar a grande potência". Foi uma apresentação breve, em inglês. Depois veio o professor João Nogueira, da PUC-Rio, falando sobre o papel do Brasil nos BRICs. Humberto Saccomandi, editor de Internacional do jornal Valor, prosseguiu falando sobre o crescimento econômico do Brasil e suas responsabilidades políticas no mundo. Eu fui a quarta a falar, e fiz uma apresentação sobre os direitos humanos e a política externa do Brasil, mudanças e continuidade do governo Lula e Dilma. E o diretor da faculdade de Direito da FGV, Oscar Vilhena, concluiu, falando sobre o futuro dos direitos humanos na política externa brasileira.
O almoço era todo off-the-record, ou seja, não se pode publicar o que cada um dos Elders disse. Mas dá para falar sobre o tom: eles queriam saber como o Brasil estava integrando o setor informal dentro de sua economia, tinham questões sobre o "compasso moral" que orienta a política externa brasileira e pode contribuir para seu soft power; queriam entender melhor o conceito de "responsabilidade ao proteger", invocado pela presidente Dilma no discurso da assembleia da ONU, e como é o relacionamento coincidências e divergências entre os BRICs.
O arcebispo Tutu (e ele autorizou a publicação disso, uma vez que já havia falado em público) disse que "doía muito" ver seu país, que lutou tanto para ter liberdade, ter feito o que fez com o Dalai Lama. Pressionado pela China, o governo sul-africano não concedeu visto para o Dalai Lama ir à festa de aniversário de Tutu.
Vai ser difícil esquecer esse almoço.

Patícia Campos Mello

Nenhum comentário:

Postar um comentário