segunda-feira, 25 de abril de 2011

Martin Amis versus O Casamento

Novo livro de Martin Amis em produção para sair ainda este ano. O Estado da Inglaterra, seu título em tradução fiel.
Amis conhece os truques da profissão. Antes é preciso preparar o terreno para o lançamento. Caetano Veloso não tem o que aprender com o controvertido (uma palavra-chave no metiê) escritor.
Entrevista de Amis, seja para que veículo for, acaba em página ou espaço nobre de jornal britânico. Desta vez, Amis armou seu joguinho para Le Nouvel Observateur, conhecidíssima publicação francesa. E mandou brasa para valer no Reino Unido, com particular ênfase na Família Real.
Ora, como a entrevista saiu menos de dez dias antes do Real Casamento, fica óbvia a intenção do autor, de estatura mais para baixa do que para a média, feito o presidente francês Nicolas Sarkozy.
Falar mal e bem alto do Reino Unido para ou diante de franceses é uma das supremas delícias para os gauleses que continuam engasgados com todos os monumentos erguidos em homenagem a le petit caporal (outro baixinho chato) em terras de França.
Não sei quanto se tomou de vinho durante a entrevista e se era de nobre, ou pelo menos boa, estirpe, mas uma amostragem do que foi dito, gravado, publicado, e por estas ilhas divulgado, quase causaram a sensação de sempre. O pessoal já começa a levar "o cabeçudo" (apelido dado por seu ex-amigo, Julian Barnes) homem na troça.
Muitos apontam para o fracasso de seus últimos discos, digo, livros, tanto em venda quanto crítica, como explicação plausível para os chiliques públicos daquele que já foi mais que um promissor romancista novo. Money e London Fields são leitura obrigatória para quem quiser entender este país.
Mas, e depois, há sempre um depois, Amis começou a dar tremendas "furadas" na grande área. Data de então seu anti-ufanismo, que teve e tem o efeito contrário: bota tudo quanto é ufanista chato opinando nas esquinas mal iluminadas da maior parte dos jornais.
Seguem algumas de suas declarações mais memoráveis para o Observateur frisando-se o fato de que Amis prepara-se para deixar de vez sua terra natal, trocando-a - ora, ora, não diga - pelos Estados Unidos:
"Eu preferia não ser inglês".
"A Grã-Bretanha encontra-se numa condição de decrepitude moral."
"Os ingleses, eu os adoro." (Afinal são eles que compram os livrecos, confere?) E Amis complementa sua adoração dizendo que seu próximo romance, O Estado da Inglaterra, deverá ser seu "derradeiro insulto"para a pátria materna.
"O maior império que já existiu passou a ser uma potência de segunda ou terceira classe." (No que não há muito o que se discutir, para quem não estiver envolto no Union Jack, a bandeira do Reino Unido.)
"Sem talento e sem ambição ganha-se um bom dinheiro da mesma maneira. As mocinhas todas sonham apenas em ser modelos."
"A celebridade é a nova religião." (Logo quem diz isso, hem?)
"Londres pode dar a impressão de ser uma cidade agradável de se viver mas, por dentro, ela é podre."
"Tivemos uma revolução 100 anos antes dos franceses e nossa guerra civil não foi tão horrenda." ( Vivôôô, enfim algo que Amis diria nos bons tempos. Ou então o vinho não era lá essas coisas. Também pode ser um desses flashes de lucidez que batem em quem bebe mal.)
"A Família Real é composta de filisteus."
"Não quero me ver ligado ao império britânico. Eu preferia não ser inglês."
Curiosamente, Martin Amis tem encômios (palavra que o mau escriba usaria) para o príncipe Charles. Quem diria, hem? Acha-o charming. Gosta, em especial, de seu riso - e aí Amis encerra os trabalhos, recusa mais um copinho de vinho e finaliza com um último bom mot como se dizendo "saúde": "a real risada lembra o ronco de um porco".
Não. Amis não foi convidado para essa chatice desse casamento. E se fosse, ponho a mão no fogo, não iria.

Ivan Lessa

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