terça-feira, 5 de abril de 2011

De desconfianças e apostas

Dilma Rousseff está próxima de completar cem dias de governo e, até agora, não conseguiu convencer os agentes de mercado de que realmente não deixará a inflação sair do controle. As últimas projeções de analistas do mercado captadas pelo Banco Central mostram essa desconfiança. As previsões subiram tanto para este como para o próximo ano.
Até aqui, esse é o maior desafio da presidente, vulnerabilidade que a oposição vai explorar para tentar levantar uma bandeira contra um governo que desfruta de uma excelente avaliação para início de administração.
Nesse ambiente de dúvidas sobre a real disposição da presidente em combater a inflação, sua equipe tem buscado enfatizar nas conversas de bastidores que no meio do ano o cenário será outro. A aposta é que, em junho, a inflação projetada para os doze meses seguintes já estará convergindo para o centro da meta de 4,5% ao ano.
O trabalho de convencimento, que até agora não surtiu efeito, corre contra o tempo. Afinal, dentro do próprio governo, já é dado como certo que no terceiro trimestre de 2011 a inflação acumulada em doze meses vai estourar o teto da meta de inflação, de 6,5% dois pontos acima de 4,5%, o centro da meta.
Um auxiliar da presidente solta a seguinte frase diante da descrença do mercado: "Não se enganem, o Banco Central vai fazer o que for preciso para fazer a inflação convergir para 4,5% em 2012. Fará o que for necessário".
E por que essa disposição não é demonstrada para 2011? "Porque já saímos perdendo neste ano, não seria possível fazer a inflação ficar no centro da meta neste ano". O trabalho, segundo esse assessor, está focado em fazer um processo de convergência da inflação para 4,5% no próximo ano.
Aí está a escolha clara da presidente Dilma. Ela não quer dar uma freada brusca na economia, daquelas que derrubam o crescimento do país, tal como ocorreu no primeiro ano do governo Lula. Sua determinação é que a desaceleração seja suave. Para cumprir o desejo da presidente, sua equipe deixou de focar em 2011 e mira em 2012.
Para o mercado, é uma aposta de risco. Para a equipe econômica de Dilma, não. Se der certo, a presidente terá uma vida mais fácil no seu segundo ano. Se estiver errada, o custo será elevado. E maior ainda para trazer a inflação para patamares mais civilizados novamente.
O ex-presidente Lula, durante boa parte de seu governo, não quis brincar com a inflação. Foi quase sempre conservador. Relaxou basicamente no seu último ano de governo, em ação planejada para eleger Dilma sua sucessora. Agora, ela adota uma política econômica não tão conservadora como os manuais da economia recomendariam num cenário como o atual.
Mas como os manuais estão sendo questionados nos últimos tempos, fica a dúvida de quem está seguindo o caminho certo. Descobriremos mais à frente. Por fim, uma última perguntinha. O que faria Lula no lugar de sua sucessora.

Valdo Cruz

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