sexta-feira, 8 de abril de 2011

Judeus: modos de ouvir

Richard Goldstone antes de tudo é judeu. Ao menos foi por isso que o eminente juiz sul-africano foi escolhido para chefiar (e legitimar) a missão investigativa da ONU para a Guerra Israel-Hamas na virada de 2008 para 2009.
Quando Goldstone lançou seu relatório, em setembro de 2009, virou manchete global instantânea. Estaria confirmado pela pena de um reputado juiz (judeu) que atuou nos tribunais da ONU para a ex-Iugoslávia o que todos os detratores de Israel gritavam histericamente: o país tinha deliberadamente atacado civis em Gaza.
Agora, 18 meses depois, Goldstone escreveu um artigo para o "Washington Post" dizendo que essa que foi a principal conclusão de seu relatório estava equivocada.
"Se eu soubesse naquela época o que sei hoje, o Relatório Goldstone teria sido um documento muito diferente", escreveu o atormentado juiz (judeu).
Sim, porque nada mais útil (e prazeroso) aos antissemitas, quer dizer, antissionistas, do que um judeu acusando outro judeu. Como eles serão chamados de antissemitas se um próprio judeu tão qualificado ecoa a mesma acusação contra outros judeus?
Assaf Wohl, colunista do "Yedihot Ahronot", maior jornal israelense, escreveu nesta semana que Goldstone foi um "idiota útil" a serviço do totalitarismo islâmico.

Desde que lançou seu relatório, Goldstone passou a ser hostilizado pela comunidade judaica de seu país. Chegou-se a noticiar que ele seria barrado do bar-mitzvá de seu próprio neto em Johanesburgo, a punição suprema. Mas consta que ele acabou comparecendo ao evento.
A defesa implícita de Israel no novo artigo de Goldstone ao "Post" revela o quanto deve ter sido doloroso para o juiz produzir aquele libelo anti-israelense.
Ele faz questão de valorizar os esforços israelenses para investigar as acusações de atrocidades e ressalta que o Hamas é quem deliberada e incontestavelmente busca atingir civis israelenses com seus mísseis.
O juiz pede ainda que o Conselho de Direitos Humanos da ONU seja mais equilibrado e condene o "o frio e injustificável assassinato de um jovem casal israelense e seus três filhos pequenos em suas camas" uma bebê de três meses e duas crianças de 3 e 11 anos mortos a facadas na colônia de Itamar (Cisjordânia ocupada), o que, adivinhe, não foi bem noticiado pelo mundo, mas causou enorme impacto entre os israelenses.
Espanta-me muito que não espante tanto a todos o fato de que em pouco mais de 50 anos desde o Holocausto, o extermínio dos judeus europeus pela Alemanha nazista e seus muitos aliados, os judeus (por meio de Israel) voltem a ser alvo preferencial do ódio global, contra quem se pode lançar qualquer injúria ou ameaça, inclusive de novo extermínio em massa como faz o presidente iraniano tão afavelmente acolhido por alguns aqui no Brasil.
Os que defendem, como eu, o direito dos palestinos a um país independente com fronteiras seguras e vivendo em paz com Israel, precisam entender que essa hostilidade passional contra o Estado judeu é um dos maiores obstáculos a esse justo objetivo.
Quanto mais Israel se sentir acuado e discriminado num mundo historicamente hostil que não quer nem ouvir nem compreender seus argumentos, mais distante estaremos da paz.
Tão importante quanto escutar os judeus quando eles criticam Israel é escutá-los quando eles defendem o país. Esse não é só o caminho mais justo, mas o mais eficaz para atingir a paz.

Sérgio Malbergier

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