quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Chuvas de verão

Em 2010, o Brasil gastou no combate às enchentes R$ 70 milhões com prevenção e R$ 2 bilhões com emergências. Vivemos 37 desastres desse tipo desde 2000. Foram sete em 2009 e quatro em 2008. O maior risco é que essa conversa toda se transforme em chuva de verão. Que dá e passa.
Logo as águas de março fecham a estação e desaparece a revolta da sociedade. Lá se vão as promessas e providências novamente apresentadas.
O grande desafio das políticas públicas é a continuidade. Implantar tem custo e trabalho. Dar continuidade é muito mais difícil. É raro. Manter a escola com piscina funcionando, livros na biblioteca, bons professores motivados é que são elas.
Continuidade é realizar as tarefas anunciadas e assegurar a qualidade do que já foi feito. Manter. Para não rolar encosta abaixo.
Não adianta, agora, escolher o culpado-mor. Um Judas, uma Geni, para ter um alvo para satisfazer nossa indignação. Esse processo leva à desastrosa repetição no ano seguinte. Alguém apanha mais e o resto sai costeando o alambrado.
A primeira coisa é ter um conceito. Saber o significado do que se quer. E ter uma utopia compartilhada entre governo e sociedade. Depois, ter um projeto integrado. Não basta listar ações isoladamente procurando responder com quantidade. É preciso sinergia entre os projetos.
Parece simples. Todavia, mesmo depois de tudo o que ocorreu, não há um projeto juntando as ações da União, Estados e municípios com as respectivas responsabilidades, metas e datas de entrega. Relatório da ONU mostra que, mesmo após as calamidades, não há um sistema de prontidão relacionado para qualquer hospital ou escola nas zonas de risco.
Também é necessária a definição de quem comanda. Ter um gerente-geral para responder pelo todo. Cada esfera de poder segue com a sua parte. Se não há um comando, fica fácil jogar a culpa no outro.
Para concluir, é preciso um acompanhamento mensal que gerencie a evolução de todos os projetos do Plano Integrado. O ano todo.
A imprensa e a sociedade devem controlar metas parciais. Por que não perguntar antes sobre os trabalhos? Por que elidir o assunto no outono e só retornar no verão com a desgraça repetida? Acompanhar é prever.
Quem não pertence ao poder público deve mudar os processos de cobrança. As mais recentes eleições para prefeito, governador e presidente não discutiram o assunto. Engolimos, passivamente, aqueles debates repetitivos e tediosos.
A solução é mudar de atitude. Não deixarmos as chuvas de janeiro virarem "chuvas de verão".

José Luiz Portella

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