quinta-feira, 22 de março de 2012

Por que defendo Thor

Thor é o tipo de jovem que eu desprezo. É um garoto mimado que, com seus carros de corrida, coloca a vida dos outros em risco, como mostra o histórico de sua carteira de habilitação.
Sempre deve ter se achado impune, confiando no poder do pai, cuja meta, como ele diz, é ser o homem mais rico do mundo --o que acho de uma mediocridade existencial estupenda.
Por causa da influência do pai, tenho dificuldade de acreditar na isenção do inquérito policial. Tendo a achar que o ciclista é vítima de um jovem irresponsável, desses que infestam nossas cidades. No íntimo, fico torcendo que ele seja mesmo culpado e leve uma lição para o resto da vida --e sirva de lição para os outros.
Confesso que, olhando o que sinto, já condenei Thor, sem chance de defesa.
Por isso, defendo Thor. Por mais que acredite que ele seja culpado, a partir de seu histórico, estamos julgando além do acidente.
Está sendo julgado por ser rico, ter um carro de três milhões, ser filho de um homem invejado num país desigual e onde não se confia na polícia. E onde somos vítimas diárias da barbárie no trânsito. Somos, acima de tudo, o país da impunidade para gente como Thor.
Mas o óbvio é que ele deve ser julgado pelos fatos. E, por enquanto, só temos indícios.
Continuo desprezando Thor, desconfiando da polícia, mas obrigado a defender a acusação apenas com provas e não com emoções.

Gilberto Dimenstein

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