segunda-feira, 12 de março de 2012

E agora, 2 salários mínimos...

Salve Pernambuco!!! Os professores estão em êxtase. Afinal, um salário de R$1.451,00 (pouco mais de 2 salários mínimos) é realmente um “grande” valor a ser pago pelos nossos serviços. Uma conquista, sem dúvida, mas a meu ver, apenas a ponta do iceberg. Passada a euforia, nos daremos conta dos aumentos no FUNAFIN, no Imposto de Renda, no Vale Transporte, no SASSEPE, etc. O ganho real líquido no nosso contracheque ainda deixará muito a desejar. E, aproveitando o ensejo, cabe aqui uma indagação: as melhorias na educação se resumem apenas à questão salarial, por sinal ainda muito mal resolvida e injusta? Acredito sinceramente que um professor comprometido com a causa não se satisfaz com tão pouco e nem se ilude com a cifra dos 22,22%.
Eu, enquanto profissional da educação, gostaria de conhecer as melhorias educacionais que as autoridades tanto pregam. A realidade está muito além das estatísticas e do que sai na imprensa. E aqui me pergunto: como trabalhar de forma saudável e qualitativa em um ambiente sem segurança, sem educadores pedagógicos, sem porteiros, sem pessoal administrativo, sem pais comprometidos com a educação dos seus filhos?
Como trabalhar conteúdos pedagogicamente válidos com boa parte da clientela apresentando sérios problemas de aprendizagem? Muitos analfabetos, de fato ou funcionais. Como lidar com tantos problemas sociais envolvendo as crianças e os adolescentes (tão protegidos pelo ECA) sem nenhum suporte técnico, psicológico ou de assistência social? Como trabalhar conteúdos e ainda ensinar boas maneiras, falar sobre drogas, sexualidade, bulliyng, meio ambiente, cidadania, desenvolver atividades culturais, e também exercer, inúmeras vezes, funções que não condizem nem com nossas habilidades profissionais e nem com o concurso que prestamos?
Fala-se tanto em inclusão digital, mas onde está a internet wi-fi prometida para todas as escolas? Quando teremos laboratórios de informática equipados e em perfeito funcionamento? Vale dizer que os equipamentos até existem, mas e a manutenção? E profissionais específicos para trabalhar nesses ambientes onde estão? Ou será que a SEE-PE acredita que os equipamentos se auto mantêm? Falando em inclusão, como lidar com tantos alunos com deficiências múltiplas dentro das escolas regulares? Acredito plenamente que a inclusão é uma ideia excelente e em perfeito ordenamento com uma política voltada para o desenvolvimento dos diferentes aspectos da cidadania. Mas como essa inclusão está sendo feita? Está sendo viável? Ela existe de fato ou é apenas um engodo? Algum professor recebeu treinamento específico para essa mais nova função?
Vale dizer que com a crescente demanda dos alunos especiais nas salas regulares, as dificuldades, além de todas as outras já velhas conhecidas, foram aumentadas. Ocorreu um aumento natural da carga de trabalho, adaptações terão que ser feitas nos conteúdos e em toda a didática das aulas e, com qual tempo? Como propiciar a tão falada inclusão social sem estarmos “fazendo de conta”? Juridicamente falando, faz parte das minhas obrigações enquanto, oficialmente, professora de Geografia atender as necessidades desses alunos no que se refere à minha disciplina? Essa demanda extra de trabalho não exigiria uma gratificação? Algo além do meu salário normal? Até quando a classe docente ficará de braços cruzados diante de um contínuo aumento de trabalho e responsabilidades sem uma remuneração justa para isso?
Quem dos meus colegas professores se sente preparado para trabalhar com tantos menores infratores e/ou em liberdade assistida sem qualquer auxílio do Poder Público? Existe algum núcleo de assistência social que dê algum suporte às escolas? O que fazer diante de tantos casos de violência que nossos alunos sofrem ou praticam? A quem recorrer? Quem se sente efetivamente seguro trabalhando diariamente com presidiários ou ex-presidiários, uma vez que muitos (não todos, obviamente) representam um perigo em potencial à segurança nossa, dos outros alunos e da escola em geral? O Estado está perfeitamente correto em garantir a ressocialização dos que precisam. Mas, e as minhas condições de trabalho? Quem garante? Posso afirmar que, em muitas situações, estamos arriscando a vida por R$ 1.451,00.
Impossível listar aqui os tantos problemas vivenciados por quem trabalha dentro de uma escola pública. Impossível traçar nessas linhas os anseios e angústias de uma categoria que tem nas costas o peso de “salvar” uma parcela considerável da sociedade, parcela essa que quase sempre é excluída por muitos e só costuma ser lembrada em anos eleitorais. E ainda carregamos o peso de governantes omissos, que fazem da educação apenas uma escada para suas ambições políticas. Impossível também descrever minha tristeza com muitos colegas que se apegam à cifras tão pequenas em seus contracheques e esquecem de todas as outras dificuldades do cotidiano.
Acredito firmemente que não devemos nos apegar somente aos aspectos negativos da situação, mas reclamar, argumentar e questionar os fatos, ainda é a melhor maneira de se se batalhar por melhorias e de se tentar superar a barreira dos dois salários mínimos... FÉ!

Maria Freitas
Professora da Rede Estadual de Ensino

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