sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Assombrações políticas

Férias, visita ao castelo de Vaux-le-Vicomte, nas imediações de Paris. Belo local, jardins magníficos. Pena que pairam sobre ele as eternas assombrações da política, ontem como anteontem, como hoje, no Brasil como na Europa, como no resto do mundo.
O castelo conta a história de Nicolas Fouquet, nobre francês que se torna protegido do cardeal Mazarino, por sua vez tutor de Luís 14, que viria a ser a quintessência do absolutismo monárquico (sim, é a ele que se atribui a frase 'O Estado sou eu', embora haja controvérsias sobre se o rei a pronunciou mesmo).
Mazarino foi o sucessor do cardeal Richelieu e, como tutor do futuro rei, era o governante de fato, o que só serve de lembrança de que a Igreja se mete em política não apenas nas eleições brasileiras de 2010 mas faz um bocado de tempo mais.
Fouquet, o do castelo, foi nomeado superintendente de Finanças e consta que fez razoável confusão entre o Tesouro da França e as suas próprias posses, o que só prova que essa promiscuidade entre público e privado não é invenção brasileira nem recente.
Morto Mazarino, Luís 14 resolve fazer valer a sua frase, tenha-a pronunciado ou não, e assume plenos poderes. Para isso, acha conveniente livrar-se de Fouquet, para o que conta com a valiosa colaboração de Jean-Baptiste Colbert, que bem poderia ser chamado de precursor dos ortodoxos na economia.
Foi ele quem botou ordem nas finanças reais e foi ele também que mais incentivou o rei a defenestrar Fouquet, o que só prova que dossiês, fogo amigo e intrigas politicas não são invenções modernas.
Fouquet acabou preso, apesar de sua popularidade entre os franceses, o que só prova que ficha suja ou suspeita de ficha suja não é impedimento, faz tempo, para que o tal de povo goste de certas personalidades.
Ah, a prisão de Fouquet se deu pelas mãos de um capitão de mosqueteiros chamado D'Artagnan, um dos célebres três mosqueteiros.
Nas paredes do castelo, pode-se ler trovas populares em que se diz que a corda que prendeu Fouquet estava agora à venda e poderia ser usada para prender uma ampla lista de poderosos do momento, a começar pelo seu sucessor Colbert, o que só prova que a tese de que todo político é ladrão, embora injusta, é antiga e disseminada pelo mundo.
Corda, no caso, é no sentido figurado porque Fouquet não foi enforcado, mas condenado à prisão perpétua.
Morreu na cadeia em 1680. A única diferença entre os políticos de 330 anos atrás e os de hoje é que os de hoje não morrem na cadeia. Aliás nem ficam nelas tempo suficiente para morrer.

Clóvis Rossi

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