sexta-feira, 1 de junho de 2012

De volta ao passado

Meu complexo de vira-latas voltou. Será que o Brasil deu certo mesmo, ou já atingimos os limites impostos pela pouca educação e o baixo investimento?
Os avanços da última década são inegáveis, IBGE e Banco Central têm dados que comprovam isso. Mas as coisas melhoraram em grande parte das nações do mundo no mesmo período, principalmente as de perfis mais semelhantes ao do Brasil. Não foi um milagre só brasileiro, nem petista.
O PT ajudou, é verdade. O consenso em torno da democracia e da economia de mercado, fechado nos anos Lula, gerou uma estabilidade seminal que destravou o país. Parcialmente, agora se vê com mais clareza.
A explosão do consumo da classe C é de fato o maior fenômeno do Brasil contemporâneo. A emergência das massas via consumo tem e terá consequências socioculturais enormes porque o consumo neste mundo ultracapitalista é a forma mais eficiente de exercer cidadania, a grande escada de ascensão e poder.
Posto isso, essa ascensão pelo ponto de vista econômico dá sinais de exaustão. Já é irônico o suficiente o PT ter sido o partido no Brasil que capitalizou a maturação do nosso capitalismo, o PT agora é quem comanda campanha voraz pelo consumismo das massas. Os anúncios dos bancos estatais com Gianecchini e Pitanga conclamando os brasileiros a se endividarem são peças do maior significado dramático e histórico.
Outra ironia inescapável: este governo que tanto destrata verbalmente os mercados paradoxalmente prefere operar mais no mercado do que na economia real, sempre mirando taxa de juros e câmbio, com olhar secundário para a produção e o ambiente de negócios.
O professor Delfim Netto escreveu nesta Folha um artigo intitulado "Hospício", onde elenca algumas das tantas maluquices que não só decolam impunemente no país como passam em comissões do Congresso e eventualmente viram leis e fardos para o Brasil que produz.
Há um ar de imobilismo contra essas maluquices só rompido pela ascensão transformadora das massas. Que sempre segurou a onda no Brasil e agora serve de novo como bucha de canhão do capitalismo de Estado. Juros neles!, prega o neodesenvolvimentismo, apelando pela popularização do ainda caríssimo crédito ao consumidor. Será este o melhor vetor para nossa economia? O problema hoje está muito mais do lado da oferta do setor produtivo do que da demanda dos consumidores.
É velho e chato dizer que o Brasil precisa de mais reformas e educação para seguir crescendo. Mas é mais verdade hoje do que antes. A redução das benesses previdenciárias do funcionalismo público foi um grande avanço patrocinado pelo governo Dilma, mas era uma necessidade óbvia. Precisamos ir além do óbvio e do fácil para dar o próximo salto. Temos (alguns) recursos, mas falta foco e urgência.
O julgamento final do mensalão nem começou e já causou uma crise político-institucional no Brasil. É Lula sequestrando a agenda de Dilma, levando o Brasil de volta para o passado.
Isso tudo num contexto de incertezas econômicas que a classe política parece ignorar, como se não fosse com ela.
Os analistas do mercado veem um crescimento abaixo de 3% da economia brasileira neste ano. Os EUA, epicentro inicial desta crise, uma economia quase sete vezes a nossa e já muito mais desenvolvida, crescerá praticamente a mesma coisa, segundo analistas de lá.
O grande debate do Brasil hoje não deveria ser sobre um escândalo de corrupção ocorrido em meados da década passada que nossa lerdeza judiciária arrastou até hoje. Isso é passado e cabe à Justiça julgá-lo. Devemos debater como superar os limites do desenvolvimento que aparecem de forma muito clara.
Vivemos um longo boom das commodities que garante receitas bilionárias ao país por décadas. Vivemos também um bônus demográfico com famílias menores com renda maior e mais gente em idade produtiva. E ainda colhemos os frutos da estabilidade econômica e política.
Tanto benefício criou a ilusão de que o desenvolvimento brasileiro está dado. Com a crise internacional, estamos caindo na realidade.
Ao invés do mensalão, precisamos focar no pibinho, na escolaridadezinha, na competitividadezinha...

 Sérgio Malbergier

Nenhum comentário:

Postar um comentário