quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Números e história para mascarar a realidade

Gosto de observar os números estatísticos de uma partida. Também sou apaixonado pela história do futebol, como muitos já sabem e até me chamam de saudosista. Mas o que me incomoda é como esses dois parâmetros são usados, cada vez mais, para tentar mascarar a realidade do que acontece.
Vamos começar pelos números. É impressionante como eles são citados sem nenhum critério. Em determinados momentos, é usado o elevado número de finalizações para provar o quanto uma equipe está jogando de forma ofensiva. Poucos se preocupam em mostrar de qual lugar saíram os chutes se o time conseguiu entrar na grande área do adversário, qual a eficiência deles e quantos realmente deram trabalho ao goleiro adversário.
O que acho engraçado é que aqueles que gostam de usar o número de finalizações como muleta para provar se uma equipe está jogando bem são os primeiros a elogiar a precisão da equipe que chutou pouco, mas fez o gol na única oportunidade que teve.
Agora que se tornou moda falar da posse de bola, não é porque uma equipe fica muito tempo trocando passes que ela tomou conta da partida. Não adianta ter 60% ou 70% de posse de bola, se a maioria dos toques é para o lado ou para trás e o time não consegue penetrar na defesa do inimigo.
Muitas vezes, um time que fica muito tempo com a bola nos pés é muito mais burocrático e incompetente do que uma equipe que impõe seu ritmo de jogo ao adversário.
Com os modernos equipamentos utilizados, é possível saber a quantidade de quilômetros que um jogador corre no gramado durante a partida e quais os locais do campo em que ele esteve. Este é um recurso ótimo, mas que frequentemente é muito mal utilizado.
Por exemplo, comparar a movimentação de um atacante e um meia é um grande erro. Não é preciso nenhum equipamento que custou milhões para descobrir que o jogador que atua no meio de campo vai correr e se deslocar muito mais pelo gramado que o atacante. Aqui, o ideal são as comparações com jogadores que atuam na mesma posição.
Falando agora do uso da história para tornar o presente mais belo, fico impressionado como são procuradas exceções para fazer comparações com que acontece hoje em dia. Grandes coincidências podem ocorrer no futebol, mas pensar que elas vão se repetir há uma grande distância.
É impossível fazer esse tipo de comparação, pois os elencos dos times e dos adversários não são os mesmos. Não se pode dar esperança ao torcedor que vê seu time em campanha melancólica dizendo, por exemplo, que uma equipe, em 1968, perdeu seus cinco primeiros jogos e, numa arrancada espetacular, conseguiu ganhar o título.
Assim, tenho certeza de que todos os anos em que o Flamengo estiver mal no Campeonato Brasileiro, sempre surgirão historiadores lembrando que, em 2009, o time da Gávea ficou tantos pontos atrás do líder e, mesmo assim, levantou a taça.
Também ninguém aguenta mais a comparação entre uma contratação que demora a se adaptar ao São Paulo, com o caso de Raí, que precisou de um bom tempo para mostrar todo seu futebol no time do Morumbi.
Os números e a história são importantíssimos no futebol, mas eles nunca devem ser usados para mudar a realidade.

DESTAQUE

Sei que existem aqueles que adoram torneios com semifinais e decisões. Mas é difícil entender como um time que fez 21 pontos não tenha nenhuma vantagem sobre um clube que conseguiu apenas 13, como acontece no único jogo da semifinal da Taça Guanabara entre Vasco, com 100% de aproveitamento, e Fluminense. A distorção que acontece no estadual do Rio de Janeiro vai se repetir em vários campeonatos pelo país, como em São Paulo, quando quem fizer mais pontos depois de 19 rodadas pode ser eliminado pelo oitavo colocado nos pênaltis.

ERA PARA SER DESTAQUE

Caio Jr., mais um treinador contratado para fazer um longo trabalho, não resistiu e perdeu o cargo após oito jogos no Grêmio. Na demissão precoce, fica claro que a diretoria do clube nunca acreditou realmente que Caio Jr. pudesse transformar um elenco que custou muito caro mas que ainda tem grandes deficiências em um time forte. Como sempre, uma sequência de maus resultados é o meio mais fácil para a demissão de um técnico desacreditado.

Humberto Luiz Peron

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